Haras Fechados (VI)
Um dos haras pioneiros de Bagé, naturalmente, ressalvados os nativos como o Espantoso, o Santa Amélia, o Jaguarão Grande, o Simpatia e mais um ou outro, foi o Sideral, que foi montado com muito investimento e esmero por José Mariano Raggio. Como desbravador, encontrou dificuldades que foram enfrentadas e resolvidas. Após alguns anos, sempre com sucesso, o Sideral foi vendido para Naji Nahas, que lá ocupou com o seu Haras Inshalla. O sucesso continuou, e éguas de alta categoria que haviam sido importadas começaram a produzir magnificamente. Vários bons garanhões contribuíram para o sucesso, com destaque para Locris (lê-se Lócris, região antiga da Grécia), que terminou morrendo queimado em um acidente pavoroso quando um curto-circuito incendiou o material vegetal que servia de teto, de cobertura dos boxes dos garanhões. Alfredo Grumser, que começara a criar em Teresópolis e depois comprou grande área e transferiu o seu plantel para Bagé, acabou vendendo as suas terras bageenses para o Haras Santa Maria de Araras, que começara em Teresópolis e depois se transferiu para o Paraná, depois lá mantendo só os produtos em criação, levando o plantel de éguas e reprodutores para o antigo Doce Vale, de Bagé. Com a venda de suas terras em Bagé para o Araras, Alfredo Grumser comprou de Naji Nahas o então Haras Inshalla, que se transferiu para Campinas (SP) e, acabou por lá sendo fechado. O Doce Vale, nas suas novas terras, transformou-se em um dos melhores e mais bonitos do país, e o padrão dos seus produtos são bem acima da média. Assim, foram fechados os Haras Sideral e Inshalla.
Um dos mais importantes nomes do turfe gaúcho era o de Indemburgo de Lima e Silva, empreendedor, bom criador, bom proprietário. Nome influente na política turfista gaúcha. Indemburgo foi um dos grandes da época heróica do Jockey Club do Rio Grande do Sul. O nome do seu Haras era Santa Ana, em homenagem a uma filha prematuramente falecida. Com o correr dos sucessos e também do inexorável tempo, Indemburgo faleceu. Seus herdeiros venderam o seu Santa Ana para o criador José Carlos Fragoso Pires, que alterou o nome para Santa Ana do Rio Grande. As terras eram, e são, em Itapoã, nas cercanias de Porto Alegre. Mais tarde o novo proprietário comprou parte das terras e parte do plantel do Haras Mondesir, que havia transferido de Lorena (SP), para Bagé (RS). Assim, o Santa Ana do Rio Grande ficou com duas áreas, a de Itapoã, onde ficou com o centro de doma, intermediário entre a parte criacional e os hipódromos, e o núcleo criacional em Bagé. Mas o Mondesir de pronto reconstruiu em Bagé, em parte das terras não vendidas, o seu atual haras. E lá o Mondesir reviveu as suas tradicionais glórias.
Outro haras de importância no passado foi o Chapéu do Sol, implantado nas cercanias de Porto Alegre por Edgar de Araújo Franco. Era um haras muito simpático, ganhador. Teve durante muitos anos um garanhão uruguaio tordilho de nome Mister que era muito bom pai de ganhadores. Em certa época, o Chapéu do Sol contou com um reprodutor emprestado pelo Haras São José & Expedictus, que logo na primeira geração deu dois ótimos ganhadores, mas o tal cavalo foi requisitado de volta para o criador proprietário. Antes da morte de Edgar Araújo Franco, morrera o filho mais velho, e o segundo filho não deu continuidade ao haras, que simplesmente acabou.
O outro haras gaúcho que também não teve continuidade com a morte do criador Antonio Demarchi Chula foi o Haras Cambará, apesar de ter deixado muitos filhos. Um garanhão bom corredor em São Paulo, Hit Parade, um filho de Flamboyant de Fresnay, manteve o haras em alta por muitos anos. Antonio Demarchi Chula foi presidente do Jockey Club do Rio Grande do Sul, e peça importante no turfe gaúcho.
No Paraná o Haras São Luiz Gonzaga, dos irmãos Lysimaco Ferreira da Costa e Luiz Henrique Ferreira da Costa, era um haras regular, com produtos médios. Um dia, um filho de Anubis, um argentino, destacou-se em altíssima evidência, tendo vencido o GP Brasil após emocionante luta contra bons corredores argentinos. Essa surpreendente e espetacular vitória levou o Duraque para correr em San Isidro o Pellegrini. O ótimo jóquei Antonio Ricardo entendia que não havia, à época, melhor corredor do que Duraque. O cavalo arrancou antes da hora por baixo das portinholas do partidor, deixando o seu jóquei sem nada poder fazer. Duraque, solto, saiu pelas ruas a todo galope, e só após alguns quilômetros de correria no asfalto, acabou entrando em um posto de gasolina, onde foi contido. Essa foi a sua corrida, não fosse o fato dos criadores terem recomprado o cavalo e feito ele voltar a correr no Hipódromo do Tarumã. Nas duas ou três vezes em que se apresentou, chegou sempre em último, afastado de seus competidores, mais de 20 corpos atrás. Primeiro morreu Lysimaco, que chegou a ser Vice-Presidente do Jockey Club do Paraná, e muitos anos depois foi a vez de Luiz, conhecido como Luiz Gordo. Foi um fim triste o do Haras São Luiz Gonzaga.
Abraão era o irmão mais velho, chefe e líder da família Jabour. Investiu muito no Estado do Espírito Santo, ganhou uma fortuna com o seu tino comercial. Solteirão, enriqueceu também os seus três irmãos. Mas nunca se meteu com os cavalos. O segundo irmão, de nome Jorge, era um ótimo proprietário. Também solteirão, médico, rico chegou a Deputado. Tinha uma ótima coudelaria e, em alguns cavalos tinha o Ministro Oswaldo Aranha como sócio. Que eu me lembre, os ótimos Carrasco e Fairplay eram em sociedade. Mas o simpaticíssimo Jorge nunca se meteu a criar. O terceiro irmão Jabour, era João, grande proprietário, boa pessoa, mas homem de extrema vaidade. Além da sua própria fortuna, ainda recebeu de Abraão e Jorge um ótimo reforço financeiro. Além disso, habitual investidor em ações do Banco do Brasil, amealhou uma imensa fortuna. Era habitual comprador dos potros do Haras São Luiz, Salto (SP). Acabou por comprar metade do haras, e Hernani Azevedo Silva, o grande criador e titular do Haras São Luiz, comprou terras em Vacaria (RS), e para lá levou o seu plantel, e seguiu um caminho vitorioso como um dos criadores brasileiros líderes. O Haras São Luiz posteriormente, transferiu-se para o Paraná, onde está em mãos do filho Hernani (Naninho) Wallace Simonsen de Azevedo Silva. João Jabour tentou criar nas então suas terras em Salto, mas não era o seu ramo, tinha idéias próprias que eram impróprias para a atividade. Acabou por lotear a propriedade e encerrou as atividades do Haras João Jabour de forma melancólica, triste, um insucesso total.
Nenhum comentário:
Postar um comentário