Jeane Alves

Jeane Alves
Vitória de G 1 com Equitana

sábado, 1 de outubro de 2011

HARAS FECHADOS II

HARAS FECHADOS (II)

Os Haras Jahú e Rio das Pedras foram os dois primeiros a serem focalizados. Mas muitos outros estão no mesmo caso.

No município de Teresópolis (RJ), houve uma entusiasmada época em que floresceram mais de 40 pequenos haras.

Aos poucos o insucesso chegou, por variadas razões, principalmente, pela inadequação do solo para a atividade, hoje muito bem aproveitado por Centros de Treinamento e, pelo não acompanhamento do progresso paulista no setor. Enquanto São Paulo promovia cursos, conferências, aulas teóricas e práticas com gente muito habilitada, vindo até do exterior, e dos Estados do Paraná e do Rio Grande do Sul, muita gente para o Posto de Monta de Campinas afluiu, o Rio não participou, ficou à margem do enorme progresso e fora da realidade.

A verdade é que dos mais de 40 haras registrados, hoje só restam cerca de 6 (seis), e com um total de éguas que não chegam a duas dúzias. Mas nem todos se acomodaram com o evidente fracasso, e “adotaram” as terras paranaenses e gaúchas. O resultado é do conhecimento de todos. Foram transferidos o Santa Rita da Serra para o Paraná, e o Santa Maria de Araras primeiro para o Paraná e depois para o Rio Grande do Sul, o Doce Vale, o Nacional diretos para Bagé, o mesmo caminho seguiram de São Paulo o Castelo e o Mondesir. Enfim, uma nova realidade.

Em São Paulo foi uma tristeza. O Haras Santa Anitta, do empresário do ramo têxtil Carlos Telles da Rocha Faria, e o seu filho Carlos Gilberto, ambos domiciliados no Rio Janeiro, mas com haras em terras paulistas, começou a definhar com a morte do pai e acabou caindo nas mãos do filho. O Santa Anitta, que criou ótimos garanhões clássicos e a extraordinária Joiosa, ficava perto do Haras Guanabara, e foi vendido para um neto do Dr. Peixoto de Castro, o Sérgio Palhares, que o mantém vivo, mas desacelerado, com o nome de Haras Itaiassú. O Guanabara, um dos principais da história do turfe brasileiro, berço de animais de altíssimo padrão internacional como, dentre muitos outros, Emerson, Emocion, Escorial, Lohengrin, Dulce, Loretta e muitos outros inesquecíveis, dos irmãos Roberto e Nelson Grimaldi Seabra, foi vendido pelos irmãos para outras atividades, encerrando-se uma gloriosa etapa do turfe brasileiro. A propósito, Roberto e Nelson não tiveram filhos.

O Haras São Miguel Arcanjo, em Campinas, teve uma boa e prestigiada fase, pois o seu garanhão Flying Boy, que nas pistas mostrou-se muito veloz, produziu grande número de velocistas, que eram muito procurados, principalmente, pelos penqueiros. O proprietário do haras era um mineiro muito simpático, sempre de bom humor, amigo de todos, de nome Antonio Alves de Morais. O Moraesinho, como era carinhosamente chamado, gostava de jogo carteado. Além de ótimo jogador, tinha muita sorte. Conta-se que certa vez, despencou de São Paulo para o Guarujá, para onde tinha já ido os seus habituais companheiros das cartas, o seu carro foi abalroado, nada gravíssimo, mas um bom prejuízo em perspectiva. O motorista do caminhão pediu muitas desculpas, e pediu para não ter que arcar com o prejuízo, que iria arrasar com as suas pequenas economias. O bom Moraesinho perdoou, tomou nota da placa do caminhão, e chegando ao Guarujá fez uma forte aposta no jogo do bicho. Ganhou o dinheiro suficiente para arcar com o prejuízo do abalroamento e ainda botou uma grande frente. Esse era Moraesinho, amigo de todos, e quando morreu o São Miguel Arcanjo, nas mãos de um cunhado dele, andou mexendo com cavalos quarto de milha, e acabou fechando.

Ao lado do São Miguel Arcanjo ficava o Haras Morro Grande, do inesquecível Edmundo Pires de Oliveira Dias. Esse importante turfista participou de postos de destaque no Jockey Club de São Paulo e na Sociedade de Criadores e Proprietários de Cavalos de Corrida de São Paulo. Era, basicamente, um homem bom, de diálogo, era respeitador e muito respeitado. Montou o Haras Morro Grande de médio padrão turfista, e que ganhava bastante. Uma doença à época incurável não o abateu, o declínio físico não tirou da sua personalidade a boa educação, o bom convívio com todos. Com a morte dele o Morro Grande encerrou as suas atividades.

O Malurica tinha uma área no Posto de Monta do Jockey Club de São Paulo, na qual o ótimo criador Ricardo Lara Vidigal mantinha uma pequena parte do seu plantel, e onde entendeu de fazer uma pista de treinamento particular. Por algum motivo não deu certo, Ricardo acabou por tirar todos os seus poucos animais de lá e vendeu a propriedade. O Haras Malurica, na verdade, ficava na Rodovia Castelo Branco, lá pelos lados de Cesário Lange. Não era um haras muito bem organizado, pois o Ricardo tinha ideias próprias, e com um plantel que tecnicamente não era de primeira linha, mais que com alimentação, manejo ou quaisquer outras práticas, produzia animais fortes, sadios, bonitos e, sobretudo, muito corredores. Com o seu Malurica, que era a junção das duas primeiras sílabas do nome da primeira mulher, não dos filhos dele, com as duas primeiras sílabas do seu próprio nome, ganhou muito mais do que seria lícito admitir, ganhou tudo. Também, Ricardo foi vítima de doença à época incurável e no fim da vida liquidou todo o plantel e fechou para sempre o vitorioso Malurica.

O Haras Tibagi tinha sito batizado com o nome de um corredor que havia dado muitos prazeres nas pistas. Todas as sextas-feiras à tarde ou nas manhãs de sábado, Sebastião e a sua mulher Colette iam de carro do Rio, onde moravam para o haras em Campinas, e voltavam nos fins das tardes dos domingos. Assessorado pelo simpático veterinário José Luiz Pinto Moreira, o “Maquininha”, Sebastião ultrapassou as expectativas de sucesso, que durou muitos anos.

Um desentendimento com o seu bom, mas temperamental vizinho de haras, arrefeceu em muito o seu entusiasmo, o seu prazer e, Sebastião saiu do turfe. Vendeu o haras, que teve mantido o nome, para um dono de Laboratórios e bom criador de Mangalargas. Olinto Marques investiu bem, montou um plantel de excelência, comprava em boas fontes, teve muito sucesso. Mas terminou vencido pela idade, a rigor morreu de velhice. A sua mulher, após tentar manter o alto padrão do haras, acabou desistindo. O Tibagi era um haras muito bom apesar de pequenas dimensões e, tinha um atrativo especial, qual seja, uma ótima casa projetada por Oscar Niemeyer, íntimo amigo de Sebastião Ferreira. Sebastião morreu no Rio de Janeiro, com mais de 90 anos, afastado do turfe havia muitos anos.

por Milton Lodi

2 comentários:

  1. É um importante e triste relatos dessa atividade tão maravilhosa que provém do convívio como esse que é um verdadeiro presente de DEUS, o Cavalo. Nascido no RJ e criado vizinho do JCB e a SHB no Bairro do Jardim Botãnico, vi desfilar nos idos de 50 e 60 os grandes nomes do nosso turfe, jockeys, treinadores , criadores e até maior de todos os narradores Teófilo de Wasconcelos. As tardes de Domingo eram competidas entre o Maracanã e o JCB e a Radio Jornal do BrasiL com o Teófilo e o Oscar Vereda.O Brasil era feliz...e sabia.

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  2. Morei 20 anos no Posto de Monta do Jockey Club, tinha por lá os Haras , Haras Brasil, Haras São José Expedictus, Haras São Silvestre, todos com muita histórias !

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