Jeane Alves

Jeane Alves
Vitória de G 1 com Equitana

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Floreando, por Milton Lodi

Floreando, por Milton Lodi


Dor de Canela

Um dos problemas habituais que ocorrem quando do início da campanha da nova geração é a chamada “dor de canela”. Ela advem decorrente em principio de trabalhos fortes demais antes dos devidos tempos, na habitual pressa para estrear ou na repetição de trabalhos inadequados visando um aprimoramento maior no “estado”. Outra causa que pode vir sozinha ou concomitante com os exercícios exagerados, é o desequilíbrio da estrutura óssea do potro, em função de pastagens carentes e falta de um adequado acompanhamento veterinário.

A dor de canela pode ser conseqüência de uma simples periostite, que é a inflamação do periósteo (parte externa do osso) ou de fissuras ou fraturas ósseas.

O tratamento habitual, no caso da periostite, é “queimar” as canelas com um irritante, um revulsivo, que vai da “ponta de fogo” até ao “bloqueamento”, e deixar o potro parado de um a dois meses. Em minha ótica pessoal, resolve-se o problema com dois meses sem trabalhos e um terceiro mês só nadando.

Nesse tempo de interrupção dos trabalhos de pistas, um veterinário competente deve determinar um aditivo às rações, procurando, através mineralização para corrigir um desequilíbrio que eventualmente é decorrente de solos carentes quando da criação nos haras.

É bom lembrar que de uns tantos anos para cá, os principais criadores da zona de Bagé, adubam anualmente por cobertura as suas pastagens, que ficam assim sempre em condições adequadas. Em São Paulo, por exemplo, há necessidade de um trabalho diferente, pois a terra é inferior, e necessita, a cada 4 ou 5 anos, de aração,calagem e adubação tradicional( o arado revolvendo a terra em cerca de 20 ou 25 centímetros ). Isso além de adubação anual por cobertura.

Hoje em dia há rações balanceadas apropriadas para recuperações físicas de um modo geral, e especificas como por exemplo visando o fortalecimento da ossatura.

Para tentar evitar as dores de canela, é de bom alvitre um tratamento de adequação física ao esforço que se vai propor ao potro. Sem pressa, fazê-lo trotar no desejo de queimar as gorduras supérfluas e preparar o “motor” para o estágio dos galopes, galopar nos dois sentidos para não forçar mais uma diagonal que a outra, com as caminhadas, trotes e galopes procurar desenvolver a musculatura como um todo, dando um “suporte” que vai receber parte da carga que recairá naturalmente sobre a ossatura, com seus fortes impactos.

A parte aeróbica do treinamento, aquela que visa a respiração, o cansaço, a resistência, pode ser feita em andaduras alternadas procurando “abrir” os pulmões sem cansar demais, apenas o mínimo indispensável.

A parte anaeróbica do treinamento, a das “partidas”, das acelerações, procurando a necessária rapidez, competitividade, aguerrimento, isso tem que ser imposto ao potro sem agressividade, aumentando a carga de trabalho e de esforço dentro de racional limite, conseqüentemente da observação e do bom senso.

Cavalo não é máquina, e mesmo essas quebram.

No terreno prático, há o caso do experiente treinador Alcides Moraes, que durante muitos anos atendeu a potrada oriunda do Haras Santa Ana do Rio Grande.Desde o início, os potros recebiam uma pincelada de iodo nas canelas, principalmente nos dias de lua minguante. Técnica ou não, superstição ou não, simpatia ou não o que importava era que os potros não tinham dores de canelas, era um problema que não existia. A colocação de iodo em pinceladas era para intensificar a circulação sanguínea no perósteo, era para provocar uma reação do organismo naquela área para servir de reforço. A natação pelo menos no processo de iniciação, intercalado com os galopes, era outro inteligente detalhe de Alcides Morales, diminuindo os momentos repetidos de impacto na pista, trabalhando o sistema circulatório e pulmonar, melhorando as condições físicas sem maltratar, digamos assim, os membros anteriores, e conseqüentemente as canelas.

Nos muitos anos em que o Haras Santa Ana do Rio Grande criava anualmente mais de 60 potros, após a cuida e a doma os potros durante alguns meses eram diariamente levados a galopar dentro de um grande piquete, dando voltas para a direita e também para a esquerda, trabalhando as duas diagonais, e com atenção especial para o ritmo do galope, não um simples galopinho nem um galope forte demais, mas com um bom ritmo,mais que um simples galope de saúde. Esse galope sistematicamente ritmado, intenso sem exageros, trabalhando bem a respiração e a musculatura, provocava evidentemente uma natural reação do organismo, inclusive uma irrigação sanguínea maior no periósteo, preparando-o para os futuros esforços maiores quando dos trabalhos nos hipódromos. A verdade é que os potros do Santa Ana chegavam aos hipódromos praticamente prontos para eventuais trabalhos fortes, preparavam-se com facilidade para a corrida de estréia, mostravam precocidade, e a tal dor de canela não existia, não fazia parte, não era cogitada.

Para servir apenas como um simples exemplo, entre os muitos e muitos que poderiam ser lembrados a respeito desse tema, poder-se-ia lembrar de Bowling, que nunca teve quaisquer problemas de saúde e físicos, bom ganhador clássico inclusive do Grande Prêmio Brasil, e que se iniciou correndo em penca em Bagé. Mensageiro Alado foi outro no mesmo esquema de preparo e sucesso, mas que não chegou a correr em penca pois os seus tempos em partidas eram de tal ordem que ele foi mandando para estrear já na Gávea.

A dor de canela é um problema sério, mas que muitas vezes pode ser evitado. Não é simplesmente encará-lá como coisas normal e inevitável, mas como fato normal que em muitos casos pode ser evitada.

Criação com bastante espaço em boas pastagens, cuida e doma racionais sem agressividade, iniciação dos trotes e galopes sempre nos dois sentidos (duas diagonais) em ritmo crescente até um estágio intermediário entre um simples galopinho de saúde e trabalhos não forçados.Ritmos moderados mas sem excessos,galopes sérios, ritmados em função da respiração e da musculatura e sempre sem exigir da parte óssea, pois até os 3 anos de idade os esqueletos ainda estão em formação.Após a doma são necessários de 4 a 6 meses de trotes e galopes preparatórios para a iniciação dos trabalhos para as corridas.Observação,calma e paciência são ingredientes necessários à proteção e desenvolvimento da “máquina” que vai ter que suportar necessários e desnecessários exageros.

Desrespeitar a fase de crescimento e desenvolvimento naturais e desafios à Natureza, é predispor os potros a problemas inclusive ósseos, e provocar indesejáveis reações do periósteo, uma resposta do organismo chamada Dor de Canela.

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