Convidados pelo Sr. Luis Eduardo da Costa Carvalho, ainda Presidente do Jockey Club Brasileiro, nosso Clube, acorremos a uma reunião, cujo propósito seria CONCILIAR a posição do Presidente, com os Senhores Profissionais que, em veemente protesto, interromperam as carreiras no último fim de semana na Gávea.
Confessamos que atendemos ao chamado, apenas na esperança que o Sr. Lecca, tivesse entendido a gravidade da crise que, POR SUA ÚNICA CULPA, atravessa o turfe carioca, às vésperas da nossa maior festa, o Grande Prêmio Brasil.
Confessamos ainda que, tivemos a grata satisfação de encontrar, diversos (dos maiores) proprietários do Rio de Janeiro, que com extremo bom senso e idéias lógicas procuraram auxiliar o Presidente a desfazer as BARBARIDADES por ele mesmo criadas, e que determinaram o justíssimo protesto dos profissionais.
Ao longo de quase 3 (três) horas, debatemos, livremente, os diversos pontos de vista, tendo ao final prevalecido, com a CONCORDÂNCIA do Presidente, o seguinte:
1- Aumento da taxa de inscrição de 1% para 1,5% sobre o prêmio do 1º lugar;
2- Manutenção do Plano de Saúde nos moldes atuais, considerando que o aumento retro mencionando, paga com folga, a diferença relativa ao aumento do Plano;
3- Manutenção da Caixa Beneficente , em todos os seus termos atuais, ficando entendido que a continuidade da Caixa é fundamental para o equilíbrio trabalhista e social, entre proprietários, treinadores e cavalariços.
4- Suspensão imediata de todas as retomadas de cocheiras em curso, bem como interrupção de novos procedimentos, no aguardo de estudos que o Clube pretende fazer em conjunto com os proprietários, instituindo o regime de condomínio nas Vilas Hípicas.
Pensamos que tínhamos, todos, alcançados os objetivos pretendidos e que, superada a crise, caberia ao Presidente informar através do “site” do clube, as decisões do consenso. Qual não foi a nossa surpresa ao tomarmos conhecimento do pronunciamento do Presidente, sob o pseudônimo de “gerente do turfe” do resultado da reunião, onde DISTORCEU, a seu bel prazer, tudo que ficara decidido pelos presentes.
O texto publicado é inaceitável, não guarda qualquer semelhança com o que ficara acordado e pior, distorce para o mal, não respeita, modifica o consenso das opiniões, não tendo sequer nexo causal com os assuntos discutidos, em suma: É RIDÍCULO!
Assim para que prevaleça a verdade, firmamos o presente,
Afonso Cesar Burlamaqui
Luiz Fernando Alencar
Alvaro Novis
Luiz Octavio Figueiredo (representando a ACPCPSI)
Bye bye cavalos, bye bye JCB - [04/08/2011]
Sergio Barcellos
Sócio do JCB, proprietário de cavalos de corrida
Um dia de 1939, um risonho primeiro-ministro inglês desceu em sua terra brandindo orgulhoso um tratado com a Alemanha que, segundo ele, garantiria a paz na Europa de seu tempo.
Demorou apenas dias para a Alemanha, com o consentimento da Inglaterra, tomar uma parte da então Tchecoslováquia, acabar com aquele país, anexar a Áustria, e, finalmente, invadir a Polônia dando início à II Guerra Mundial.
Chamberlain queria, ao transe, o entendimento e a paz, e por eles fez todas as concessões. A diferença entre os dois lados era que um deles, a Alemanha, sabia exatamente o que queria e não abria mão de suas convicções (e ambições). Ele, Chamberlain, um cavaleiro inglês da velha estirpe, acima de qualquer suspeita, só queria a paz. Teve a guerra.
É o que ocorre, quando um lado tem um projeto do qual não se afasta, e o outro não tem projeto nenhum, coordenação nenhuma, nem certeza alguma, senão o de acreditar na cândida possibilidade de diálogo, entendimento e negociação sobre o nada. Infelizmente, é assim que funciona com a natureza humana.
O erro de Chamberlain custou ao mundo 50 milhões de mortos e deixou atrás de si um rastro de destruição, a maior da história da humanidade. Acontece às melhores e mais nobres famílias inglesas.
II
Os dirigentes do Jockey Club Brasileiro hoje não querem mais os 1.945 boxes disponíveis nas cocheiras da Gávea, muito menos querem cavalos para ocupá-los integralmente, como, por exemplo, na década de 1990.
O que eles querem, é reduzir pela metade (50%) o número de boxes disponíveis - não importa como - e limitar o contingente de animais a cerca de, no máximo, 900. Para eles, que se julgam profundos conhecedores do turfe, sem ser, isso é mais que suficiente.
O resto dos espaços das vilas hípicas seria então preenchido por mirabolantes projetos imobiliários os mais variados. Qualquer um serve aos seus propósitos.
Numa palavra, os atuais dirigentes do Jockey Club Brasileiro não acreditam em mais cavalos, e sim em menos cavalos. Não acreditam nos empregos que eles geram, não acreditam em trabalhar para fazer crescer o movimento geral de apostas, não acreditam em nada que lembre, de longe, atividade hípica em torno do centenário hipódromo.
Só acreditam numa coisa e aplicam nela a certeza ideológica dos mártires e suicidas: desocupar cocheiras rapidamente, derrubá-las, e botar no lugar delas seja o que for - menos cavalos de corrida.
III
Então, para conseguir seu intento, os dirigentes do Jockey Club Brasileiro, de tempos em tempos, amenizam a evidente preocupação de ilustres criadores e proprietários acerca de suas intenções, convocam-nos para debates "construtivos" sobre as cocheiras da Gávea e seus problemas, fazem juras de fidelidade ao turfe, desenvolvem argumentos os mais exóticos, apontam notórios exemplos de desvios de conduta dos comodatários das cocheiras, transformam essas exceções em regra, e prometem, de pé junto, que nada do que eles, criadores e proprietários suspeitam, é verdade.
Basta o último deles sair e a porta se fechar, para que o plano de reduzir o número de cavalos da Gávea e desocupar metade das cocheiras seja imediatamente retomado.
E eles, criadores, proprietários, presidentes de associações de classe, momentaneamente apaziguados em suas angústias e preocupações, e acreditando, piamente, em tudo que ouviram, sentem-se seguros - durante um breve e brilhante momento -, de que seu brutal investimento na atividade será preservado por este estranho JCB-2011.
De uma forma simbólica, eles são os Chamberlains do Jockey Club Brasileiro, homens honrados, convictos de que a santidade dos contratos será respeitada. E a paz, afinal, virá. Nem os contratos serão respeitados, nem a paz virá. Não dessa forma.
Porém, na manhã do dia seguinte à reunião - com a surpresa espantada dos homens de boa fé -, dão de cara com uma decisão dos atuais dirigentes do clube inteiramente oposta ao que foi solenemente pactuado na noite de horrores do dia anterior. Cruel decepção...Mais uma.
E isso se repete, e se repete, e se repete, como um mantra - com entediante regularidade -, desde a primeira reunião que tiveram sobre o assunto com os atuais dignitários do JCB.
Louve-se a calma, a educação, e a paciência, dos criadores e proprietários. A mesma que Chamberlain teve nas reuniões de Munich, da qual resultou o tal papel almaço da "paz" com a Alemanha. Não adiantou nada tanta educação, tanta contenção, e tanto polimento.
Na verdade, os ilustres criadores, os grandes proprietários, os presidentes de associações de classe, sejam estaduais, sejam nacionais, presentes a esses encontros, ainda não perceberam, exatamente, que as certezas e as intenções de seus interlocutores do JCB são muito mais consistentes que as deles, resumidas estas em uma só frase: cavalos de corrida na Gávea, enquanto estivermos aqui, não mais!
Embora candor e abertura de espírito sejam virtudes, vão ser crédulos assim em Queimados! (na baixada fluminense)
E quem tem dúvidas a respeito de mais uma decepção, é só ler o editorial aqui no Raia Leve, cujo título é: "Aos Senhores Proprietários e Profissionais do Turfe", assinado por quatro ilustres criadores e proprietários presentes, de boa fé, à última reunião com os atuais senhores indiscutidos do Jockey Club Brasileiro.
IV
E o que resultaria da progressiva diminuição do número de boxes disponíveis na Gávea? Boa pergunta.
1) De saída, por óbvio, menos cavalos, menos matéria- prima para a formação de quatro reuniões semanais de corridas. Como são necessários cerca de 400 animais para a formação dos citados programas - e tendo em vista, que existe no turfe algo que atende pelo nome de "enturmação" - pode-se pensar que em futuro próximo uma dessas reuniões não seria mais realizada.
Ou seja, voltaríamos 30 anos atrás, com corridas apenas no sábado, domingo e segundas-feiras. Enquanto houver cavalos para realizá-las...
2) Menos cavalos, menos proprietários, menor aquisição de animais (danem-se os criadores!), menos empregos (danem-se os empregos!), menos profissionais necessários (danem-se os profissionais!), menor volume de apostas (danem-se as apostas!). Interessante, não é?
Enquanto o turfe do mundo incentiva fortemente a formação de novos proprietários (individuais ou em grupo), aliado ao aumento do número de animais disponíveis para a competição, e luta arduamente por isso, o turfe do Rio de Janeiro ameaça caminhar na direção oposta (uma espécie de anta reumática na contra-mão da Av. Brasil...).
3) E os centros de treinamento criados nas proximidades do hipódromo - em sua maior parte, quando a atividade florescia e o número de cavalos da Gávea era o dobro do atual? O que acontecerá com eles?
Aberta a caixa de Pandora da diminuição progressiva dos espaços para animais estabulados na Gávea, também eles, os centros, podem se preparar para dias difíceis.
Tange a mais absoluta ingenuidade pensar que aproveita aos interesses dos proprietários desses centros a drástica (e hoje programada) redução da matéria-prima disponível para a formação dos quatro programas semanais do Jockey Club Brasileiro.
Na verdade, os centros de treinamento só se justificam economicamente como uma forma inteligente de elitização do mercado de animais hoje existente em torno do hipódromo. Nenhum proprietário pequeno resiste financeiramente a manter em centros de treinamento privados nenhum animal cuja qualidade seja duvidosa: ele vende o animal ou desiste da atividade. Sai dela.
Aliás, a primeira providência que o empresário internacional e brilhante reformador do turfe francês, Jean-Luc Lagardère, tomou quando assumiu a France Galop, foi perceber imediatamente que teria de criar opções mais baratas para que o pequeno proprietário pudesse manter seu(s) animal(is) em treinamento, permanecendo na atividade. Ou comprando mais cavalos. Como ocorreu.
E fez isso, incentivando-os a treinar na província (de Deauville, na costa do Canal, ao sul da França), e a correr, primeiramente, nos hipódromos do interior, antes de cogitar trazê-los para Chantilly - onde só milionário pode ter cavalo de corrida.
E Lagardère sabia, mais que ninguém, que milionário sozinho não faz um turfe próspero, apenas ajuda sua prosperidade ("Faz encher algo que já está em progresso", como disse T.S. Eliot) Se tivesse nascido brasileiro, estaria lutando para lotar as cocheiras da Gávea de animais de corrida!
Pois quem faz turfe forte no mundo, são os milhares de pequenos e médios proprietários de cavalos de corrida, não a grande e afluente coudelaria. Ponto.
Traduzindo: diminua-se o número de cavalos da Gávea, anule-se a possibilidade de reserva de espaço para acolhe-lhos e suportar um eventual crescimento da quantidade de animais, e todo o conjunto da atividade, centros de treinamento da serra inclusive, começarão a ter problemas. Isso é certo.
4) E os empregos da equipe do JCB que gerencia as corridas? Não vai ser preciso mais equipe alguma. Basta um "handicapeur" e alguém para atender telefone. Quanto menor o número de cavalos, e menor o número de reuniões, menor a necessidade de gerenciar a formação dos programas de corridas.
V
No terrível dia em que o Jockey Club Brasileiro abrir mão de suas espetaculares cocheiras das vilas hípicas e dos 1.945 boxes que ali possui - e imaginar que só tem obrigação de fornecer a pista de corrida, e mais nada -, acabou o turfe da cidade.
E como monumento à absoluta incapacidade de seus dirigentes, sobrará apenas a nostalgia de algo que um dia foi, e não é mais. E os atuais dirigentes do clube viverão para sempre felizes, pois não terão que se preocupar com cavalos de corrida ou corrida de cavalos.
Orgulhosamente (há gosto para tudo), talvez amem administrar uma sede esportiva, uma garagem na cidade, alguns restaurantes espalhados por aí, e salas para alugar nos fundos do prédio. Moleza.
Mas é exatamente este o fim amargo desenhado no horizonte do clube, a partir do instante em que se acredita que dessa mixórdia de conceitos sairá algo de bom e útil. Não sairá.
Chamberlain morreu logo depois do tal pergaminho da paz que só produziu sangue, trabalho, suor e lágrimas. E entrou para a história como o estereótipo do homem da conciliação e da boa vontade. No caso, ambas totalmente equivocadas.
Pobre Chamberlain. Pobres criadores, proprietários, e profissionais do Jockey Club Brasileiro. Pobres centros de treinamento. Não têm idéia do que os espera.
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