Jeane Alves

Jeane Alves
Vitória de G 1 com Equitana

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Grande Prêmio Brasil, curiosidades do GP Brasil III

1957 – O argentino Don Varela foi o vencedor, com Canavial em 2º, Caporal em 3º e John Araby em 4º. Don Varela era, naquele momento, o melhor corredor da Argentina, mas no panorama geral dos ganhadores do G.P. Brasil, de representatividade pequena.

1958 – O proprietário carioca Eurico Solanés, titular do Stud (depois Haras) Verde e Preto, resolveu arrendar um cavalo especificamente correr o G.P. Brasil de 1958. Arrendou, só para o páreo, o argentino Espiche, que montado por J.O. Tapia, venceu em final difícil o nacional Kraus e o também argentino Gramófono. Depois que tudo se passou é que se foi verificado que Espiche não poderia ter sido importado, pois as leis brasileiras não permitiam a importação de cavalos puro-por-cruza.

1959 – Foi um capítulo à parte. Páreo forte, competidores de alto padrão. O 4º colocado foi Escorial, um dos melhores corredores nacionais de todos os tempos, criação e propriedade de Roberto e Nelson Grimaldi Seabra (Haras Guanabara). O 3º foi Xaveco, de Antonio Joaquim Peixoto de Castro Júnior ( Haras Mondesir), muito bom nas pistas e, também, posteriormente, no Haras. Em 2º chegou o argentino Atlas, um corredor de exceção, que corria na frente em ritmo acelerado e, na reta final, era um problema sério tentar ultrapassá-lo, pois lutava e não se entregava. O grande ganhador foi Narvik, de criação e propriedade de Henrique de Toledo Lara (Haras Faxina). Para chegar à frente de Atlas, Xaveco e Escorial, Narvik teve que bater o recorde dos 3.000 metros. Na reprodução, Narvik mostrou-se infértil.

1960 – No ano seguinte ao de Narvik, já em 1960, o G.P. Brasil foi vencido pelo talvez melhor corredor brasileiro de todos os tempos, o preto Farwell. Sempre de ponta a ponta, Farwell ficou invicto no Brasil em 15 apresentacões. Lamentavelmente, nas duas vezes que correu na Argentina, em 1960, no Gran Premio 25 de Mayo, e no Gran Premio Carlos Pellegrini, perdeu, respectivamente, para Escorial e Atlas. Nessas duas viagens, Farwell teve fortes diarréias, correu as duas vezes por ordem do proprietário, Nelson de Almeida Prado e contra a vontade do veterinário Fernando Pereira Lima. Assim como Gualicho e Narvik, Farwell, posteriormente, mostrou-se infértil. Farwell era filho do inglês Burpham, um filho de Hyperion, em égua clássica de criação de José Paulino Nogueira ( Haras Bela Esperança).

1961 – Em 1961 tivemos no Hipódromo da Gávea uma demonstração de alta classe, do cavalo Arturo A. e do jóquei Irineo Leguisamo. O ótimo treinador argentino Juan de La Cruz, que foi por alguns anos responsável pelo treinamento da cavalhada dos irmãos Seabra (Haras Guanabara), em Cidade Jardim, costumavam dizer que os cavalos mais velozes que conhecera, tinham sido Arturo A., e Escorial, e a ciência estava em treiná-los para correr em distâncias maiores, guardando no percurso as necessárias reservas para retas finais de grande aceleração. Arturo A. e Escorial ganharam provas clássicas internacionais da maior importância em até 3.000 metros.

1962 - Em 1962 ocorreu um fato inusitado. Na pista o vencedor foi o cavalo uruguaio Montecristo, com o nacional Ortille em 2º. Os responsáveis pelo ganhador voltaram para o Uruguai com as glórias e as taças do vencedor. Todavia, alguns dias depois, os exames de material do Montecristo mostraram que ele havia vencido dopado. Naturalmente, houve a necessária desclassificação e Ortille passou a ganhador. Dias depois, telefonou-me de São Paulo o meu amigo Wasfi Julio Zarzur (Stud, depois Haras, Eduardo Guilherme), dono do Ortille, pedindo para que eu intercedesse junto à Diretoria do Jockey Club Brasileiro no sentido do recebimento das taças, que tinham ido para o Uruguai. Eu imaginei que iriam mandar confeccionar outras taças para o Julio. Mas não foi o que aconteceu, os Diretores disseram que nada mais tinham a ver com aquilo, se o Julio quisesse, que entrasse em contato direto com os uruguaios. O resultado desse descaso e falta de consideração, foi que o Julio ficou sem as taças merecidas pelo Ortille.

1963 - Naquele ano ocorreu um fato inesperado, de solução arbitrária, política. Como o número de concorrentes era grande, houve necessidade de acoplar mais um conjunto de boxes no partidor. Dada a partida, as portas dos boxes de fora não abriram e 5 ou 6 animais ficaram presos. Não sei se o confirmador, o homem da bandeirinha vermelha, acenou anulando a partida, por ordem do Starter, ou não. Posteriormente, os jóqueis dos animais que ficaram presos disseram que a partida foi anulada. O que eu sei é que o páreo foi confirmado. Os que puderam largar tiveram um percurso normal, com a vitória categórica do chileno Cencerro. Rigoni era o jóquei de Coaralde, um dos que não puderam largar pelo mal funcionamento do partidor e foi, com os outros jóqueis prejudicados, pedir a anulação do páreo, conforme determinava nesses casos, o Código Nacional de Corridas. O páreo teria que ser corrido de novo, no mesmo dia ou em outro a ser determinado pela Comissão de Corridas, em até 8 dias depois. De nada adiantaram Código, Regulamentos e Reclamções, o páreo foi confirmado e estamos conversados.

1964 - Tivemos um G.P. Brasil dos menos relevantes. Ganhou Leigo, de criação e propriedade de Paulo Piza de Lara. O 2º foi Don Bolinha, o 3º foi Bar, e o 4º Pantheon. Os quatro primeiros eram nacionais.

1965/1966 - Zenabre mostrou-se, em 65 e 66, um verdadeiro campeão. Tinha péssimos joelhos após a fase inicial de sua campanha nas pistas, mas tudo superava com grande categoria. Era de propriedade de Teotônio Piza de Lara e criação do Haras Bela Esperança, de José Paulino Nogueira, um criador do melhor quilate. Ao término da vitoriosa campanha nas pistas, Zenabre foi para a reprodução, transmitindo qualidade e classe. Eu o vi pela última vez, menos de uma semana antes de ele morrer, já com idade, no Posto de Monta do Jockey Club de São Paulo. Tinha os joelhos enormes, deformados, o físico em evidente decadência. Certa vez, em um dos eventos promovidos no Posto, antes do início, muitos turfistas e participantes iam visitar os 5 ou 6 garanhões à época lá estacionados, e um que me antecedia disse alto para que todos ouvissem que Zenabre estava com má aparência. Foi quando uma voz se elevou atrás de nós, dizendo que não era o físico do grande campeão que deveria ser analisado, mas suas brilhantes vitórias, sua especial produção, sua vitoriosa vida como corredor e, na criação, como um melhorador. Eu olhei para trás, para identificar quem tinha dito aquelas sábias palavras era o Ministro Luiz Fernando Cirne Lima.

por Milton Lodi

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