Jeane Alves

Jeane Alves
Vitória de G 1 com Equitana

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Haras Arado, Estoc e a Criação de PSI no Rio Grande do Sul


A conformação topográfica dos campos da região de Bagé, cidade distante 380 km de Porto Alegre, são similares aos campos da vizinha Argentina, dado a fertilidade dos solos e a base vegetal do campo nativo, que formam os principais alicerces para a criação do cavalo puro sangue inglês de corridas, transformou-se nos dias atuais como uma indústria que cresce em ritmo que chama a atenção pelos números que alcança, e pela qualificação genética dos animais nascidos nos mais de vinte criatórios em funcionamento na região.

Este complexo que hoje forma uma cadeia altamente produtiva, geradora de divisas e, sobretudo, de verdadeiros campeões nas pistas, surpreendendo “los hermanos do Prata, passa obrigatoriamente pela cidade de Porto Alegre, e remete ao longínquo ano de 1957, na região rural de Porto Alegre, mais precisamente, no “balneário” do Belém Novo, onde estava localizado o Haras do Arado, de propriedade do jornalista Breno Caldas e, principalmente, pelo seu gestor e “homem de confiança”, Nestor Cavalcanti de Magalhães.

Nestor de Magalhães, além de responsável pela seleção do Arado, era diretor técnico do Jockey Club do Rio Grande do Sul, jornalista e editor da página “Nos Haras e nas Pistas”, encartada no Suplemento Rural do jornal Correio do Povo – e referido pelo excelente expert, Milton Lodi, em artigo publicado na sua coluna em 26/11/2009, com o título Criação Boussac -, quem vem confirmar a sua importância no contexto evolutivo da criação rio-grandense.

Nestor foi sem qualquer dúvida o avalista do sucesso do Arado e do salto dado pelo elevage no Estado a partir das importações de animais da Europa e da Argentina, realizadas pessoalmente e com plenos poderes do Dr. Breno para o Haras do Arado.

Não bastassem estes fatos terem conhecimento público à época, são comprovados pelo acervo de obras e documentos recentemente recuperados sobre o turfe europeu e latino americano, de propriedade de Breno Caldas, adquiridos a pedido de Nestor, que se encontravam na antiga residência no Arado e que tinham como destino se transformarem em papel reciclado, salvos, graças a um antigo “sebo” de Porto Alegre.

Incipiente no final dos anos 40 e início de 50, a criação do PSI no Rio Grande do Sul, atendia a demanda de 10 hipódromos que mantinham atividade permanente nas cidades de Porto Alegre, Pelotas, Rio Grande, Santa Maria, Uruguaiana, Bagé, Livramento, Jaguarão e Cachoeira do Sul e, os prados de Curitiba e Rio de Janeiro mais acentuadamente.

O cavalo puro sangue inglês já desempenhava no movimento das exportações embora que restrito ao mercado interno, fundamental papel para o desenvolvimento econômico do setor primário gaúcho. Não havia semana que lotes de animais partiam de Porto Alegre com destino ao centro do País. Os 20 haras gaúchos registrados produziam entre 500 e 600 animais em condições de corrida por ano, com plantel de aproximadamente 1500 reprodutoras e 300 garanhões. Contudo, ainda carente de qualificativos para suportar a concorrência nas pistas com elementos saídos de criatórios do porte de um Haras Guanabara, Mondesir, criação Paula Machado, Ipiranga, Faxina, entre outros.

No Arado, então líder absoluto das estatísticas de criadores nos Moinhos de Vento, e mesmo possuindo em seu plantel reprodutores do padrão do francês Pantalon (Scaramouche), dos argentinos, Stefan (Serio), Morador II (Amesterdam) e Grain d’Or (Congreve), e o sucesso que vinham obtendo, o visionário Dr. Breno, com a orientação de Nestor de Magalhães, resolveu implantar nova fase à sua equinocultura.

A primeira etapa foi à busca de novo semental na Europa, e as negociações evoluíram para um nome que tinha sido destaque nas pistas da Irlanda, e possuidor de nobre estirpe, Dark Warrior. Por Fairhaven (Fairway) e Dunure (Umidwar), Dark Warrior, pertencia e à mesma linhagem baixa de Formasterus e Bruluer. Após longo período de complicada negociação, Dark Warrior desembarcou em 1951, na sede do Haras Arado.

Em 1956, já com sua primeira geração nas pistas, o reprodutor demonstrava sua capacidade com vitorias de seus produtos na esfera clássica do prado local. Entretanto, Breno Caldas mostrou insatisfação e, determinou que nova importação fosse feita na Europa, com uma diferença: esta passaria pela criação de Marcel Boussac.

A seleção do novo reprodutor, após minuciosa pesquisa e revista em vários cavalos egressos do haras do conhecido criador francês, com a participação decisiva de Nestor de Magalhães a escolha recaiu em Estoc, que não tardou a desembarcar em Belém Novo, no ano de 1953.

Descendente de Jock (Asteurs e Naïc, por Gainsborough) e Tanis (Tourbillon e Sana, por Austerus) com forte inbreeding sobe Asterus, Estoc pertence à mesma linha materna de Aram, Nyangal e Coronation. Sua campanha nas pistas foi restrita a idade de três anos, e apresentado em apenas cinco oportunidades, na França e na Inglaterra, obtendo quatro vitórias: Prix de Marroniers em 2.200 metros e Prix Reiset em 2.800 metros, em Longchamp; Gold Vase sobre a distância de 3.200 metros em Ascot e o Trial Stakes nos 2.400 metros em Goodwood. Finalizou em quarto no Prix Hocquart sobre as 12 quadras de Longchamp.

Ainda nos Moinhos de Vento, em 1958, a produção inicial de Estoc, confirmou o que se esperava do nobre Sire. Com seis elementos, sendo dois potros e quatro potrancas, estes somaram 22 logros, com 12 na esfera estrelar, somente no primeiro ano de campanha. Seus produtos que atuaram em 1958 foram: Ângela, Estandarte, Estadista, Estensoro, Estênsula e Estrôncio.

Até o ano de 1962, os filhos de Estoc acumularam 84 vitórias, com 34 clássicas, incluindo uma Tríplice Coroa, a segunda na história do turfe rio-grandense com o notável Estensoro.

Estoc teve curta produção, entretanto, nenhum descendente, que foram 16, deixaram a pista como perdedor. Os cinco que cumpriram campanha na Gávea obtiveram 18 impactos.

Ainda no ano de 1958, nasceu o derradeiro filho de Estoc. Uma potranca que recebeu o nome de Estadela. Estoc foi acometido de grave enfermidade que prejudicava seu desempenho, terminando por matá-lo em agosto de 1957.

Muito embora seus poucos descendentes, ficou evidente o poderio genético que trouxe Estoc e, se foi lamentável a perda que a criação no Rio Grande do Sul sofreu com seu desaparecimento prematuro, ficou da mesma forma, estabelecido um marco com a sua presença e exemplo para o crescimento e melhoramento da qualidade do puro sangue inglês a partir do final dos anos 50.

Mário Rozano

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