Jeane Alves

Jeane Alves
Vitória de G 1 com Equitana

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Curiosidades por Milton Lodi


Escorial

Muita coisa curiosa acontece no dia a dia do turfe, na criação e nas corridas. Os cavalos são seres vivos, não são máquinas, e há momentos melhores e piores, e como os cavalos não falam, compete aos homens tentar interpretá-los. E, é aí que vem o problema, pois a natural vaidade dos criadores e dos proprietários e as interpretações nem sempre corretas dos profissionais resultam em um aproveitamento não ótimo. Mas isso não impede casos interessantes e curiosos.

Uma tarde, nas corridas de Cidade Jardim, eu conversava com o excelente jóquei Eduardo Le Mener Filho, que à época trabalhava e montava os animais treinados por Mário de Almeida, do Mondesir, de propriedade do Dr. Peixoto. À época, o melhor produto da nova geração em São Paulo era Mani, um castanho forte e bonito filho de Waldmeister e Urgência. Foi quando o Le Mener me contou que na primeira fase de galopes ele estava terminando de dar uma volta devagar com um castanho moleirão, manso, que se mexia como um candidato à matunguice, quando quase parando o moleirão caiu com ele. Nada havia acontecido que justificasse a queda, que não teve consequências, o cavalo havia caído de bobo, de manso. Na volta ao padoque, o jóquei disse ao treinador que aquele potro não tinha futuro, era ruim, moleirão, não tinha vontade. Foi quando o experiente Mário de Almeida lhe disse que aquele seria o melhor potro da geração, certamente um bom ganhador clássico. E os fatos, posteriormente, confirmaram a opinião do treinador.

Na semana seguinte, nas corridas na Gávea, disse ao Dr. Peixoto o que o Le Mener me contara, com satisfação confessando que estivera errado e que Mani era um verdadeiro campeão. O Dr. Peixoto me disse então que ele não soubera desse detalhe, mas tinha certeza que o Mário de Almeida não ia errar.



José Paulino Nogueira


Por volta de 1950, o meu pai foi ao Haras Bela Esperança, do genial José Paulino Nogueira, para comprar potros. Naquela época, o transporte era feito em trens, já que as estradas eram ruins e não apresentavam segurança. Após escolher cinco potros, o Dr. Paulino observou que no vagão do trem havia acomodação para seis, seria o caso do meu pai levar mais um. O meu pai concordou, mas insistiu para que o grande criador, que nunca indicava aos compradores o que eles deviam levar, as opiniões deveriam ser pessoais, então houve a sugestão para que fosse levado também o potro preto, franzino e o menos exuberante, um filho de Ebou e Etincelante, por British Empire. Ebou era um inglês ou irlandês de formidável pedigree internacional, só havia sido exportado porque tinha péssimo gênio. O pretinho logo se adiantou quando do início dos trabalhos, mostrou-se muito bom e foi o líder ou um deles de sua geração na Gávea. Foi inscrito como provável vencedor da primeira prova da tríplice coroa carioca. E, foi justamente quando o mau gênio de Ebou se manifestou, por mais que o Rigoni insistisse, Morumbi se negava a entrar no partidor e teve que ser retirado. O páreo foi vencido pelo ótimo Quiproquó, que veio a ser tríplice coroado.

Na semana seguinte, Morumbi vinha galopando em trabalho devagar quando, de repente, cravou e derrubou o galopador, pulou a cerca interna da raia pequena, seguiu correndo e se atirou no laguinho do peão do prado. Foi muito difícil tirá-lo de lá, teve que ser improvisada uma rampa com sacos de serragem. Cada vez mais irascível Morumbi teve que ser levado para ser redomado e adestrado em um Clube Hípico, após quase um ano voltou à Gávea, tendo até vencido um Grande Prêmio. Vendido para reprodução, ele foi para o Haras São Bento, em Valinhos, perto de Campinas.

Um dia passei por lá e resolvi entrar no haras. O proprietário Antonio Luiz Ferraz não estava. Então, pedi ao administrador que me mostrasse os filhos do Morumbi, que tinham por volta de 1 ano e meio. Ele me disse que era fácil identificá-los, eram aqueles que ficavam dando peitadas nas portas. Um outro filho do Ebou também tinha gênio ruim. O ótimo ganhador clássico Zaluar só podia correr páreos de menos de 2.000 metros, pois ao cruzar o disco de chegada ele parava, nada o demovia para continuar. Zaluar mostrou-se um ótimo milheiro clássico.

Uma das mais fantásticas histórias que conheço no mundo do turfe ocorreu na Alemanha e na Itália. Logo no início da segunda Grande Guerra, em 1939, o melhor garanhão alemão era Oleander, um filho de Prunus, que não podia cobrir a melhor égua do seu haras pela consaguinidade. Ao mesmo tempo, ocorria o mesmo na Itália o melhor garanhão do país, Ortello, um filho de Teddy, não podia receber a melhor égua do haras pelo mesmo motivo, consanguinidade. Entenderam, então, os criadores de mandar a boa italiana para o alemão Oleander, e a boa alemã para o italiano Ortello. As duas éguas ficaram cheias e voltaram para os seus países. Em 1940 nasceram dois machos. Em 1943, o Derby Alemão foi vencido pelo filho do italiano Ortello, de nome Algull, e o Derby Italiano pelo filho do alemão Oleander, chamado Orsenigo. Esse fato extraordinário teve ótimo reflexo no Brasil, pois o Haras Guanabara trouxe em arrendamento, por dois anos, o campeão Orsenigo, que deu dentre muitos outros bons, os especiais Escorial, Lohengrin e Emoción. Essa história eu considero fantástica.

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