Jeane Alves

Jeane Alves
Vitória de G 1 com Equitana

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Bento Magalhães, um coronel sem patente

Grande Prêmio Bento Magalhães. Mas quem foi este homem que empresta o seu nome, desde 1964, à mais tradicional e premiada prova do turfe nordestino e considerada o 5º maior evento turfístico do Brasil?

“Bento Magalhães foi um líder, um verdadeiro comandante de todos os turfistas de Pernambuco. Daí o título de Coronel, mesmo sem patente”, conta o médico Manoel Pires Medeiros, proprietário e criador de cavalos, e sobrinho de Dona Maria Laura, pianista recifense, casada com Magalhães.

Com 79 anos, Manoel destaca a importância do turfista homenageado. “Bentinho e e Antônio Alves Pereira são os dois grandes nomes da história do esporte no Estado, eles foram grandes presidentes do Jockey”, recorda.

Bento cresceu num Recife que tinha três pistas para corridas de cavalos, o Hipódromo da Madalena, o do Derby (onde hoje é o quartel da Polícia Militar) e, ainda, o Hipódromo de Campo Grande.

O centenário JCP passou por muitas crises e felicidades ao longo da história, nelas sempre estava direta ou indiretamente, a figura de Bento, comerciante do ramo de tecidos e representante de famosos fabricantes do produto no Estado. “Ele era a ‘tábua de salvação’ do turfe. Sempre que havia uma crise, geralmente por falta de criadores ou por enchentes, ele era chamado para resolver. E resolvia, sempre com entusiasmo e adoração pelas corridas”, destaca Manoel.

Como todo líder, Bento Magalhães tinha uma grande ascendência sobre os turfistas, mandando no Hipódromo da Madalena. “Ele tinha a personalidade forte, às vezes, chegava a ser duro e autoritário, e tinha invariavelmente sua opinião acatada. Bento tratava todo mundo bem, mas sempre impondo o respeito”. Vale ressaltar que Bento foi auxiliado por pessoas do quilate de Mauro Gil, Pedro Allain Teixeira, Romeu Medeiros, Mauro Pugliesi Branco, dentre outros grandes turfistas.

“Nos tempos dele era mais difícil, porque o dinheiro era gerado apenas das corridas. Hoje em dia, existem outras fontes de receitas e pode-se fazer eventos a cada 15 dias”, diz Manoel, há 71 anos envolvido com o turfe, com tradição de cinco gerações (seu avô foi um dos fundadores do JCP e seu tio, Romeu Medeiros tem o nome emprestado ao 5º páreo). Manoel, que hoje é representado no Bentão, com o cavalo Lord Thunder, teve a alegria de ganhar a prova, em 1975, com o cavalo Foky, do seu Haras Bongi, atual líder das estatísticas dos proprietários do JCP.

Bento Magalhães, além de ter sido um grande presidente, era um incentivador do esporte, que sempre sofreu com a falta de criadores no pobre Norte/Nordeste. Ele também será lembrado pela reforma que fez ao lado de Pedro Allain, no Hipódromo da Madalena.

Muitas vezes, Bento se ofereceu para ser uma espécie de ‘braço-direito’ de empresários na implantação de haras no Estado, abrindo espaço para que Pernambuco chegasse a ser reconhecido como importante pólo turfístico. Um destes parceiros foi Frederico Lundgren, dono do Haras Guararapes, que com o cavalo Mossoró, marcou história no turfe nacional, ao vencer em 1933, a primeira edição da principal corrida de cavalos do País, o Grande Prêmio Brasil, realizado na Gávea, no Rio de Janeiro.

A façanha é lembrada até hoje, afinal, não é todo ano que um cavalo pernambucano desbanca os melhores cavalos do País. Os animais, por sinal, eram a grande paixão e hobby de Bento, já que além das corridas de cavalo, também adorava brigas de galo.

Por volta dos 80 anos, o turfista já estava afastado da direção, mas sempre comparecia às corridas de cavalos, definidas pelos aficcionados, como ‘uma cachaça’ que não acaba, se perpetuando por muitas gerações. “Não é por dinheiro, mas sim pela emoção”, explica Manoel, que ainda salienta que poucos hipódromos no Brasil e no mundo lotam como o nosso no dia do Bentão.

Com a morte de Bento no início dos anos 60, o GP Governador do Estado (ainda disputado) que era a competição mais importante, perdeu o seu posto para o ‘Bentão’, uma justa homenagem a um grande homem e turfista de Pernambuco.

por Moisés de Holanda
Jornal do Commercio
Recife - 05.11.2000
Domingo

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