Jeane Alves

Jeane Alves
Vitória de G 1 com Equitana

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Grande Prêmio Brasil de 1993,a tarde emocionante do Grande Prêmio Brasil de 1993


Villach King, com Lavor, bate Much Better e Sandpit

Na quarta-feira, poucos dias antes da disputa do Grande Prêmio Brasil de 1993, eu cheguei bem cedo ao Vale do Cuiabá, no centro de treinamento do Haras Vale da Boa Esperança, em Itaipava. Repórter de turfe do Jornal do Brasil desde 1982, já não sentia aquela ansiedade de principiante. Pelo contrário, tentava controlar o faniquito do fotógrafo, pouco acostumado a cobrir o turfe. Qualquer puro-sangue que aparecesse na pista o cara já queria meter o flash. Eu explicava que era melhor esperar o meu comando, do contrário, na hora de revelar os filmes poderia confundir algum matungo com os concorrentes ao Grande Prêmio Brasil.

João Luiz Maciel estava tranqüilo. Além de apresentar o favorito do páreo, Sandpit, do Haras São José da Serra, tinha o novato Much Better, do Stud TNT, que depois de operar o joelho com o magnífico veterinário, Flávio Geo Siqueira desandou a correr feito um desesperado. Sandpit nunca foi de desafiar os cronômetros. Com seu jeito moleirão deixava para infernizar os rivais na raia. Much Better, ao contrário, gostava de mostrar, logo de manhã, que seria tremenda encrenca na hora do vamos ver. Sandpit fez floreio suave de 1.000 metros em 1m07s, de galope largo. Estava tinindo. Much Better virou manchete do dia seguinte, com treino de 1m04s no mesmo percurso. Parecia impossível que o ganhador do Grande Prêmio Brasil não estivesse nas famosas cocheiras do centro de treinamento do saudoso Júlio Cápua.

No dia da corrida fui para o hipódromo com a certeza de que um dos dois pensionistas de João Maciel ganharia a maior prova do turfe nacional. Resolvi fazer uma acumulada com os dois defensores do Haras São José da Serra, Suspicious Mind, na milha internacional, e Sandpit, na prova central. E aí pensei: “Se o Suspicious Mind ganhar fecho uma grana preta no Sandpit. E aí, para defender, aposto o resto do dinheiro no Much Better, que vai ser pule alta apesar do Ricardinho estar em cima dele”. Maciel tinha absoluta convicção de que o potro Suspicious Mind derrotaria a fabulosa Secret Hunter, americana invicta do Haras Anderson. E isto realmente aconteceu. Com direção primorosa de Edson Ferreira, que deslocou apenas 53 quilos, ele superou nos metros finais a craque absoluta entre as éguas daquela temporada.

Só faltava o desenlace final. O valioso dividendo de R$ 8,80 de Suspicious Mind engrenou uma cumulada espetacular para cima de Sandpit, com rateio de pouco mais de R$ 3,00. Much Better pagava R$ 9,30 na pedra de apostas. De imediato pensei: ”É um golpe perfeito. Jogo tudo nele e aí tanto faz. Se bater a acumulada é show. E se o Jorge Ricardo vier estragar a festa melhor ainda”. Mas nem sempre as coisas acontecem como a gente espera. Edson Ferreira passou mal depois da vitória de Suspicious Mind. Baixou a sua pressão e desmaiou na sala de jóqueis. Monta ou não monta? Quem vai substituir? Esperou-se um pouco e lá se foi o Edson ainda sem estar totalmente recuperado. O resumo da ópera foi tenebroso para mim. Nos 100 metros finais, Much Better tinha uns dois corpos de vantagem, e Sandpit, por dentro, era o segundo, tentando reagir. Estava tudo muito bem até que, por fora, surgiu Villach King com ação avassaladora. O castanho do Haras Santa Maria de Araras, montado por Carlos Lavor, passou de viagem por Sandpit e igualou a linha de Much Better. O juiz de chegada pediu fotografia.

Eu já tinha rasgado a acumulada do Sandpit. O bilhete das pules estava amassado na minha mão direita e deixei cair no chão da Tribuna dos Profissionais. Restavam as pules, e não eram poucas, do Much Better. O resultado da fotografia durou a eternidade. De imediato pensei na alegria que seria voltar à redação para contar a história da segunda vitória de Jorge Ricardo na maior prova do turfe nacional. E o meu entusiasmo com tanto dinheiro no bolso. Quando comecei a pensar na outra possibilidade ela se tornou real. Apareceu o número de Villach King no topo do mastro. Minha decepção só não foi maior do que a do jóquei Jorge Ricardo e a do treinador, João Maciel.

No meio daquela confusão de alegria, por parte da turma do Haras Santa Maria de Araras, e de decepção, do pessoal do Stud TNT, presenciei um diálogo que marcou para sempre a minha vida. O repórter do Jornal dos Sports, Luiz Ernesto Magalhães, o popular Fofinho, perguntou para Gonçalo Torrealba, proprietário de Much Better, como ele se sentia após perder um páreo naquelas condições. Ao ouvir aquela pergunta, logo pensei que o Gonçalo iria mandar o rapaz para algum lugar bem distante e impublicável. Para minha surpresa, ele respondeu com simplicidade.

“Eu me sinto feliz por agora eu já sei qual é a emoção de ganhar o Grande Prêmio Brasil. De onde eu assisti o páreo tive a nítida impressão de que meu cavalo venceu. As pessoas ao meu lado, também tiveram certeza. Desci as tribunas e recebi os cumprimentos até de turfistas anônimos, ou seja, pessoas desconhecidas, como se o meu cavalo fosse o ganhador. Bem, quando cheguei aqui embaixo à foto revelou alguns minutos depois, que ganhou o adversário. Mas aí já era tarde. Eu já tinha vivido toda a emoção de vencedor. No ano que vem, quando o cavalo vencer este páreo de fato, nenhuma destas emoções será novidade, pois pude senti todas elas da descida eufórica da tribuna até a frustração na repesagem.”

Gonçalo tinha razão. Em 1994, Much Better ganhou disparado. E na mesma temporada, ainda pode vibrar com as vitórias do seu craque no Latino-americano, em La Plata, no GP São Paulo, em Cidade Jardim, e no GP Carlos Pellegrini, em Buenos Aires. Pude então entender melhor, aquela resposta surpreendente que havia dado ao repórter no ano anterior.

por Paulo Gama

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