Jeane Alves

Jeane Alves
Vitória de G 1 com Equitana

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Luiz Rigoni, dos tempos do violino à novela Roque Santeiro



Na última quarta-feira, o dia mais quente do ano, eu estava de bobeira, dentro de casa, com a televisão ligada. Para dizer a verdade tentava fazer hora e encontrar o meu amigo José Augusto Castelões, o popular Nabo, na Loja Turf Bet Sports, na Gávea. O primeiro páreo, nos Estados Unidos, só começava depois das 15h e, a corrida do feriado, em Cidade Jardim, às 14h30m. Por volta do meio-dia, ao apertar o seletor de canais, me deparei com a novela Roque Santeiro, no canal Viva, que só passa programas antigos da rede Globo.

Para minha surpresa, entre o personagem Sinhozinho Malta, interpretado por Lima Duarte, e a viúva Porcina, encarnada por Regina Duarte, percebi a presença do lendário jóquei, Luiz Rigoni, que vivia ele próprio na novela. Tratava-se de um desafio, uma corrida de cavalos, com aposta e tudo. Luiz Rigoni montava Vendaval, cavalo de propriedade do Sinhozinho Malta. Asa Branca, égua cuja dona era a viúva Porcina, tinha a direção de Zé Ligeiro, personagem vivido por o então garoto, Maurício Mattar. Não fiquei em casa a tempo de ver o confronto. Mas, o carinho e a deferência do elenco da novela com o extraordinário piloto me impressionaram profundamente.

Não tive o privilégio de ver Rigoni montar nos seus áureos tempos. Mas conheci suas histórias através do convívio com alguns cronistas da época, entre eles, Gil Moniz Viana, Wilson Nascimento e Daniel Kranzfeld. Alguns jóqueis que montaram com Rigoni, entre eles os saudosos Antônio Ricardo e Alberto Nahid, também contaram muitas façanhas do chamado “Homem do violino”. Gil Moniz Viana, por exemplo, sempre dizia que apenas Antônio Ricardo, poderia ser comparado a ele. Admitia a melhor técnica de Rigoni, mas ressaltava o rigor do pai de Ricardinho.

Antônio Ricardo nunca aceitou tal comparação. Na sua simplicidade, sempre exaltava Rigoni como um símbolo único da profissão, um jóquei perfeito, no percurso, no cálculo de corrida, na genialidade e acima de tudo, na elegância. Alberto Nahid, que montou com ele muitos anos, contava repetidas vezes uma deliciosa história vivida por eles. Numa reta final disputada entre ele e Rigoni, ao perceber que seu cavalo tinha mais ação gritou para o colega: “Não adianta Rigoni, o seu violino está desafinado!”. Depois do páreo, na repesagem, voltou a provocar. ”Dizem que você dá pata a cavalo. Por que hoje o violino não tocou?”. Rigoni ficou quieto e limitou-se a sorrir.

Duas semanas depois, Alberto Nahid montava o favorito do oitavo páreo. Largou na terceira posição e se manteve por ali até a reta de chegada. Nos 400 metros finais, para evitar alguma surpresa, tomou de golpe à ponta. Fugiu um corpo, dois e três corpos. Quase em cima do disco ouviu uma gritaria ensurdecedora que vinha das tribunas. Frações de segundos depois, uma voz sombria ao seu lado falou: “Te peguei!”. Para surpresa de Nahid, por fora, Luiz Rigoni, sorria irônico. “Você não me ganhou! Pode esperar a foto!”, retrucou Nahid. O homem do violino, em cima do maior azarão do páreo, provocou. “Ganhei sim, e por cabeça, que é mais gostoso. Hoje a música do violino está afinada”, brincou enquanto Nahid olhava desolado no alto do placar o número do cavalo de Rigoni em primeiro e o dele em segundo.

Os cronistas Wilson Nascimento e Daniel Kranzfeld acompanharam de perto a carreira de Rigoni. Wilson, principalmente, sempre teve grande amizade com o piloto. Numa tarde de domingo, em que eles estavam apertados de grana, pediram ao famoso jóquei que marcasse uma acumulada para saldar as contas do final de mês. O primeiro cavalo da acumulada, montado por Rigoni, ganhou com rateio acima de seis por um. O segundo, também sob sua direção, pagou três por um. Só faltava o terceiro cavalo para fechar o jogo. Era um castanho de 500 quilos montado pelo jóquei chileno Oswaldo Ulloa. Um grande favorito, que dobrava o capital. Na reta final, os dois cronistas já saboreavam a vitória do cavalo de Ulloa, que trazia três corpos de vantagem. Foi quando apareceu por fora um tordilho meio desajeitado, pule acima de 100 por um, conduzido por Rigoni. Os fãs do jóquei brasileiro começaram a gritar: “Dá-lhe Rigoni! Dá-lhe Rigoni! O jóquei se empolgou e esqueceu completamente da acumulada dos amigos cronistas. Em cima do espelho o azarão de Rigoni alcançou o favorito. Levou ao delírio os seus fãs e ainda teve tempo para guardar o chicote embaixo do braço. Wilson olhou para Kranzfeld desconsolado. Daniel, espirituoso, ainda brincou com o companheiro. “Agora, o Rigoni ficou na obrigação de pagar a nossa condução de volta para a Zona Norte”, falou, enquanto as lágrimas rolavam no rosto do Mosquito Elétrico, famoso apelido de Wilson Nascimento.

por Paulo Gama
Globo Sport - Raia Leve
foto: Google Images

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