Jeane Alves

Jeane Alves
Vitória de G 1 com Equitana

sábado, 4 de fevereiro de 2012

Curiosidades por Milton Lodi

CURIOSIDADES (III)


O grande criador José Carlos Fragoso Pires ficou mais conhecido no âmbito turfístico, quando adquiriu parte das terras que então ocupava o Mondesir em Bagé (RS). Mas ele iniciou-se como criador em uma fazenda de sua propriedade de nome Juréa, no Estado do Rio de Janeiro, com três éguas e um garanhão Marroquino. O chamado Haras São Carlos funcionou de 1955 a 1960, quando o governo do então presidente Jânio Quadros, em equivocadas determinações, quase acabou com o turfe brasileiro. Os animais foram vendidos para o Exército, e José Carlos Fragoso Pires voltou a criar em 1972, quando comprou na região de Itapoã, perto de Porto Alegre (RS), o haras do saudoso Indemburgo de Lima e Silva, e em janeiro de 1980 comprou o haras, em Bagé, com quase todos os animais que lá estavam. O nome Santa Ana era uma homenagem de Indemburgo à memória de uma filha que morrera pequena, e José Carlos manteve o nome acrescendo “do Rio Grande”. Quando da compra, a letra “A” estava ao pé e Anilité tinha um mês e meio. O Mondesir passou a criar em terras contíguas, onde está vitoriosamente desde então.

Eu estava com o meu pai nas arquibancadas do Hipódromo da Gávea, quando se chegaram o Roberto Seabra e o Príncipe Aly Khan. O príncipe tinha chegado da Europa na véspera, em viagem pela América do Sul (Brasil, Uruguai, Argentina, Chile e Peru), e depois iria para os Estados Unidos. O motivo principal da viagem era tentar vender quatro cavalos para a reprodução, ótimos papeis, mas corredores discretos. O Príncipe conhecia muito as corridas, como supervisor dos haras do pai era fraco, e estava sempre nos grandes eventos turfísticos. Ele era um homem do mundo, um autêntico playboy, ótimo comerciante e grande apreciador das belas mulheres. O Roberto disse ao meu pai que ele tinha fechado negócio com três dos quatro cavalos: Birikil (um filho de Biribi, já com mais idade, que ia ficar no Haras La Pomme na Argentina em sociedade com Roger Gutman), Sahib (um filho de Birikil que ele veio a arrendar ou vender para um haras gaúcho, com péssimos resultados) e Inshalla (um filho do que havia de melhor no mundo à época, por Fair Trial e Stafaralla). O quarto era um irlandês de 4 anos de idade, ainda perdedor, mas com um bom pedigree baseado na avó Mumtaz Begum, a maior velocista da Europa em sua época. O tal cavalo tinha como pedigree Tehran e Bibibeg, por Bahram e Mumtaz Begum, essa pela ótima Mumtaz Mahal. O meu pai ficou com o cavalo que sobrara, e disse ao Roberto que ele colocasse o cavalo em nome dele ou o mantivesse no nome do Príncipe, para uma última corrida na Irlanda. Por incrível que pareça, o cavalo correu e ganhou e o treinador mandou pedir para que o cavalo não corresse mais, não dava para ganhar outra. O cavalo veio para o Brasil, e o Stud Book Brasileiro vetou o seu nome, já que havia um Kameran registrado pelo Haras Santa Anitta. Kameran passou a se chamar Kameran Khan, que se mostrou cavalo apenas regular nas pistas da Gávea, obtendo 4 vitórias comuns sem quaisquer qualidades.

Na reprodução, Sahib e Inshalla foram completos fracassos (o último terminou como rufião no então Posto de Monta do Jockey Club do Paraná), Birikil também não foi nada de especial, embora tenha dado a espetacular Bucarest de cobertura em Bumble Bee, que foi à Argentina para ser coberta. E, enquanto isso Kameran Khan produziu muito bem, dentre eles os ganhadores clássicos Elisabeth (em Palermo), Itamaraty (entre outras provas nobres ganhou a milha internacional do dia do Pellegrini), Hudson (um dos primeiros líderes de turma na Gávea), Obelisco (exportado após vencer o GP em Cidade Jardim), e mais um punhado de ganhadores de clássicos e de provas comuns, e como avo foi Grupo 1.

Quando o Dr. Peixoto comprou o Swallow Tail, então 3º colocado no Derby de Epsom, e o fez, principalmente, para cobrir as suas reprodutoras filhas de King Salmon, mandou vir da França o jóquei Marcel L’Ollierou. Havia uma ótima corredora inglesa com a cruza Bois Roussel x King Salmon, e o Dr. Peixoto, resolveu respeitar a cruza, que veio a ser um fantástico resultado no Brasil em especial no Mondesir. Mas antes de seguir para a reprodução Swallow Tail foi inscrito para correr o GP São Paulo. L’Ollierou já havia montado na Gávea, tinha recebido o apelido de Ventarola, pelo seu manuseio do chicote, rodando em sua mão direita como um incentivo ao seu pilotado. Montava à europeia, “crescia” na sela, estilo muito diferente dos grandes ases chilenos que por aqui marcaram época. Não era ruim, tinha boa equitação e mão de rédea, mas ficava a dever aos nossos melhores jóqueis. Grande favorito no GP São Paulo, que à época era de 3.000 metros, no meio da corrida já estava na frente, e entrou na reta final como iminente ganhador. Mas no final cedeu a uma atropelada de um que havia sido guardado para uma atropelada final. L’Ollierou correu à européia, deixando o seu cavalo bracear, mas Swallow Tail, mesmo sendo muito melhor que os seus competidores, sentiu a falta de aclimatação, estava ainda com um preparo insuficiente. Essa corrida foi determinante na estadia do jóquei francês no Brasil, detalhe de corridas com partidos lícitos e algumas vezes ilícitos não lhe eram peculiares. Ele voltou para a França sem deixar saudades.

As chances de Falcon Jet ganhar o Pellegrini foram jogadas fora quando seu ótimo jóquei, Jorge Ricardo, recebeu ordens e instruções erradas. Falcon Jet largou por fora de todos, na baliza 24, procurou desde logo a cerca interna, fez a curva por dentro, e sempre seguindo as infelizes instruções, procurou sair da cerca interna para o meio da raia. Isso em Buenos Aires é derrota quase certa, pois quem se mete por dentro fica invariavelmente encaixotado, sem passagem, preso e quando o páreo já estava decidido, apareceu um espaço e Falcon Jet descontou muito, mas só a tempo de chegar em 7º. Uma corrida jogada fora antes mesmo da largada. Bastava Falcon Jet acompanhar Flying Finn, que correu em 2º e terminou em ótimo 3º, muito bem dirigido por Gabriel Meneses, que conhecia bem as corridas em Buenos Aires, pois havia feito, anteriormente, uma temporada lá. Sem as ordens e instruções erradas, certamente, Falcon Jet deveria chegar entre os quatro primeiros, provavelmente em ótimo 2º.

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