Jeane Alves

Jeane Alves
Vitória de G 1 com Equitana

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Diário de um brasileiro na Índia



Estou vivendo uma grande experiência profissional aqui na Índia, com a oportunidade de conhecer estilos de trabalho e estilo de montar bem diferentes do que eu estava acostumado no Brasil.

O dia a dia de trabalho se resume em acordar cedo e aproveitar o clima mais fresco para exercitar os animais. Saio do hotel em que estou hospedado, cerca de 10 minutos depois já estou no Jockey Club. Termino de trabalhar às 9 horas da manhã e volto para o hotel. Aqui não existe centro de treinamento e todos os cavalos estão alojados no hipódromo.

Os treinadores tem costume de trotar muito os cavalos, antes de galopar ou trabalhar forte. No hipódromo, em Hyderabad, existem duas raias principais de grama, com uma raia auxiliar para o galope e preparo dos animais. Notei uma diferença no comportamento dos animais, pois são ensinados de outra forma, a maioria deles precisa de um líder à frente para poder trotar e galopar. Os indianos têm muita paciência com os cavalos e acredito que seja esse o motivo da pequena quantidade de animais com problemas de casco, tendão e boleto. Além disso, é pouco comum encontrar um animal com hemorragia pulmonar induzida por esforço (HPIE) depois das corridas.

Nas corridas os jóqueis tem que ficar exclusivamente na sala de jóqueis e é proibido o uso de celulares dentro do hipódromo. Logo que cheguei, apareceu a primeira dificuldade. Aqui as montarias são dadas um dia antes das corridas e os jóqueis devem ter seu próprio material para montar, selim, rédeas, pescoceira, cilhas e sobrecilhas.

Olha minha situação, cheguei sem nada e fui pego de surpresa, pois no Brasil não é assim. Acabei fazendo amizade com os jóqueis e mesmo sem falar o idioma consegui emprestado o selim de um, as rédeas de outro e assim foi “minha estreia” em Hyderabad. Logo depois, com a ajuda do treinador Ananta Vatsalya, providenciei a compra de todo equipamento.

É sempre gratificante causar uma boa impressão em um lugar desconhecido. No meu primeiro dia de trabalho fiz isso simplesmente ao subir num cavalo. Aqui os jóqueis ganham uma "ajudinha" para subir nos cavalos e eu subi do meu jeito, o jeito brasileiro, “gringando”. O treinador e o proprietário ficaram admirados e vieram me perguntar como eu fazia isso. A mesma admiração e surpresa que se passou no dia que fui montar a minha primeira corrida. O hipódromo estava cheio e muitas pessoas foram ao paddock ver os jóqueis. Para mim foi algo simples que eu estou acostumado a fazer, “gringar” sobre o cavalo. O que foi inesperado e muito emocionante, foi ser aplaudido por aquela multidão. Desse dia em diante, vários turfistas quiseram me conhecer, pessoas de todos os tipos e todas as classes sociais. Ao final de um dia importante com muitos clássicos e provas de grupo, os turfistas costumam pedir fotos com os jóqueis estrangeiros.

Foi gratificante ser aplaudido quando ganhei meu primeiro Grupo I, na minha segunda semana montando, e o páreo era muito equilibrado. Uma grande alegria para mim, para o treinador e para o proprietário. Uma sensação incrível, emocionante, de dever cumprido e de estar no caminho certo.

Hoje, sou o quarto colocado da estatística com 10 vitórias, estou com uma vitória de diferença para o terceiro colocado. Os dois primeiro estão isolados, são jóqueis muito bons e cada um é contratado por três treinadores. Juntos, em média, ganham metade da reunião. Aqui na Índia existe uma regra que permite aos jóqueis estrangeiros montar somente 50% das reuniões. No meu caso sou contratado do Sr. Rakesh Reddy que tem como treinadores o Ananta Vatsalya e Anupam Sharma. Com minha rápida evolução dentro do Hipódromo consegui a confiança de outros proprietários dos respectivos treinadores e assim apareceu a oportunidade de montar fora do contrato onde obtive vitórias importantes e convites para montar em outros hipódromos, principalmente o Kolkata.

Os indianos tem a cultura de trazer jóqueis de outros países para montar, principalmente os jóqueis europeus, vindos da Irlanda, Inlgaterra e França aproveitando que durante esses meses vários hipódromos estão fechados por causa do frio. Os jóqueis montam de uma forma bem diferente.

Hyderabad é a capital do estado de Andhra Pradesh, sendo conhecida por seus belos palácios e bazares coloridos onde sedas, pérolas, perfumes, antiguidades e acessórios são encontradasem abundância. Tem aproximadamente 7.749.334 habitantes (censo de 2011).

A comida é muito diferente, tive e ainda estou tendo certa dificuldade até hoje. Os indianos usam temperos fortes e apimentados. É fácil notar que eles apreciam a comida chinesa, pois existem diversos restaurantes espalhados pela cidade, enquanto encontramos somente alguns restaurantes de comida japonesa e poucos de comida europeia e americana.

A cultura é muito diversificada e diferente, cada estado tem a sua língua local, nas escolas ensinam o hindu, língua oficial indiana, o inglês, por conta da colonização no passado e a língua local. As pessoas se vestem sempre com roupas coloridas, as mulheres usam vestidos estampados com muitas flores e cores, as muçulmanas sempre de burca, lugares reservados para mulheres em ônibus, escolas só para elas, muitas motos e carros, templos, mesquitas e variado comércio.

Estarei de volta em março assim que fechar o hipódromo por causa do clima que fica bastante quente. Tenho mais um mês pela frente e, se conseguir, pretendo ir a mais dois grandes Jockeys Clubs, um mais ao norte, na capital Nova Dehli e um ao leste, no litoral em Mumbai. No final da minha jornada pretendo ir a Goa, uma pequena parte da Índia que foi colonizada por portugueses onde existem belas praias e já ir pegando um pouco do gostinho de Brasil.


Um abraço a todos,
Saudades
C.Henrique

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