Jeane Alves

Jeane Alves
Vitória de G 1 com Equitana

terça-feira, 26 de julho de 2011

Nos tempos do indomável Aquilante

Cavalo preto, de porte médio e temperamento tranqüilo, Aquilante se transformava ao entrar no boxe, na cocheira. Durante horas ele caminhava, sem parar e só ficava quieto por alguns instantes para comer a ração ou beber água. Logo em seguida reiniciava sua interminável caminhada em círculo. Altamir Vieira, o seu treinador, começou a estudar algumas maneiras de tentar enganar Aquilante e evitar aquele desgaste excessivo e desnecessário.

Em primeiro lugar, colocou um espelho, perto do cocho, onde fica a ração. Ao perceber a própria imagem refletida no espelho, Aquilante parava, olhava para si mesmo por alguns minutos e depois recomeçava suas andanças. Altamir decidiu colocar também algumas luzes coloridas dentro do boxe. À noite, era a melhor maneira de distrair o cavalo andarilho. Olhava para a luz vermelha, do lado esquerdo do boxe, ou para a luz azul, do lado oposto. Descansava com aquela rotina também. Mas era sempre por pouco tempo. Depois recomeçava a andar indefinidamente.

Nos dias de corrida, quando Aquilante escutava o barulho dos cavalos na pista da Gávea enlouquecia de vez. Acelerava os passos, não parava nem diante das luzes ou do espelho e corria alucinado em volta do boxe. A única saída era amarrá-lo no cabresto. Durante um churrasco realizado na cocheira de Altamir Vieira, Renato Nascimento, um colega treinador, que ainda não conhecia o comportamento de Aquilante, estranhou aquelas luzes em sua cocheira. O profissional explicou que Aquilante era um cavalo cheio de manias, tiques nervosos e aqueles artifícios eram uma forma de amenizar aquele interminável esforço que ele fazia.

Renato Nascimento, o popular Mentirinha, era um tremendo gozador, mas Altamir Vieira não sabia disso. Ele se disse sensibilizado com o problema do cavalo e perguntou ao colega treinador se ele aceitava uma sugestão. Altamir agradeceu a gentileza e solidariedade de Renato. Afirmou que seja qual fosse a idéia ela seria bem vinda, pois o cavalo era uma dor de cabeça constante para ele.

“O senhor já tem luzes coloridas e espelho. Só está faltando uma música para este boxe virar uma boate. Eu tenho uns ótimos discos de rock importados. A gente coloca uma aparelhagem de som e quem sabe ele não para de andar, acompanha o ritmo da música e dança um roque pauleira”, sorriu Mentirinha cinicamente diante do rosto vermelho de raiva de Altamir Vieira.

por Paulo Gama

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