Jeane Alves

Jeane Alves
Vitória de G 1 com Equitana

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Trabalhadores buscam mais do que uma oportunidade de emprego

Em alguns segmentos, como supermercados, construtoras e lojas, o quadro incompleto de funcionários já integra a rotina.
“Estamos contratando”. A expressão ou derivações deste tipo se multiplicam por Curitiba seja em faixas que pegam toda a extensão do estabelecimento, seja em vitrines de pontos comerciais das mais diversas finalidades. Em alguns segmentos, como supermercados, construtoras e lojas, o quadro incompleto de funcionários já integra a rotina. Apesar disso, quem está desempregado, não se mostra tão disposto em se candidatar à maioria das vagas disponíveis. E o motivo engloba desde a baixa remuneração até as condições de trabalho oferecidas.

“Depois de um ano registrado pedi para fazer um acerto e ser mandado embora, porque estava muito insatisfeito. A empresa não se preocupava nem com a segurança dos funcionários, mesmo nos trabalhos de pintura de edifícios”, reclama o pintor Paulo César de Oliveira, de 46 anos, que estava na Agência do Trabalhador da Rua da Cidadania do bairro Boa Vista, em Curitiba, para dar entrada no Seguro-Desemprego. Segundo ele, a empresa não fornecia nem o Equipamento de Proteção Individual (EPI) para o trabalho. “Na minha área, há emprego sobrando, mas compensa muito mais trabalhar por conta, pois a maioria das obras contrata gatos (empreiteiros) para recrutar mão-de-obra. Os gatos ficam com a maior parte do lucro e exploram ao máximo o funcionário, atrasando pagamento e sem o mínimo de cuidado com o bem-estar da gente”, explica. “Como autônomo, ganho pelo menos o dobro, mesmo pagando para a Previdência Social”, revela.

O vigilante e cabeleireiro André Felipe Silva Caldeira, de 28 anos, também não mostrava qualquer tom de lamentação com a recente demissão. “Como cabeleireiro autônomo ganho pelo menos três vezes mais”, compara. Caldeira explica que há 13 anos investe na carreira de cabeleireiro, mas, por duas vezes, tentou ter uma profissão com registro em carteira. “No ano passado fui trabalhar em supermercado e foi ainda pior. Meu salário mensal com os descontos era menor do que o faturamento de um fim de semana de trabalho como cabeleireiro”, afirma. “O problema não é trabalhar no fim de semana, mas é trabalhar e não ver diferença na renda no final do mês”, avalia.

Ele diz que, depois das duas experiências, vai se dedicar apenas à função de cabeleireiro. “Meu foco é megahair e escova progressiva. Por enquanto, vou até a casa dos clientes, mas pretendo montar um salão”, planeja.

Do lado de quem contrata, o momento de baixo índice de desemprego em determinados setores segue apesar dos esforços e da evolução na qualidade das vagas. Para o presidente da Associação Paranaense de Supermercados (Apras), Pedro Joanir Zonta, os supermercados, assim como o varejo de um modo geral, têm propiciado grandes oportunidades de carreira e os salários vêm evoluindo neste ano, assim como correu em 2010 (com alta entre 20% e 25%).

Segundo a Apras, outra estratégia recorrente das grandes redes está na ampliação dos benefícios oferecidos. Além de vale-transporte e vale-refeição, alguns supermercados incluem seguro de vida, participação nos lucros, plano de previdência privada, assistência médica e odontológica, entre outros. Contudo, a questão de ter que cumprir jornada de trabalho nos finais de semana, principalmente aos domingos, afasta muita gente.

Esse tipo de problema também é percebido nos shoppings. “Só na minha loja temos 12 vagas e estamos aceitando jovens sem experiência. Os ganhos são a partir de R$ 1,2 mil e, mesmo assim, o domingo é um complicador”, explica a gerente da loja Siberian do Park Shopping Barigui, Caroline Koslowski. “Em todo shopping há pelo menos umas 40 vagas em aberto”, acrescenta.

Na visão do diretor financeiro do salão de beleza Molina’s Hair, Élcio Milani, a alta rotatividade de funcionários é inevitável com os funcionários mais novos e reflete o bom momento econômico. “Estamos contratando manicure e as vagas são ilimitadas. Isso porque não dá para ficar com quem não consegue se adaptar ao nosso sistema, mesmo faltando gente. Por outro lado, sei da alta rotatividade, principalmente das funcionárias novatas, por isso deixo o número de vagas ilimitado como garantia de reposição”.

ag Estado

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