Jeane Alves

Jeane Alves
Vitória de G 1 com Equitana

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Caminhoneiros se omitem sobre pratica sexual com Crianças

De cada cinco caminhoneiros, quatro se omitem

Embora a pesquisa tenha concluído que quase a unanimidade (97,3%) dos caminhoneiros tenha a percepção de que a prática sexual com crianças é crime, a reação deles em relação à denúncia é de absoluto distanciamento. Só 14,9% - 15 em cada cem – declararam que delatariam um colega caso este admitisse ter feito sexo com menor. E praticamente 84% manifestaram-se favoráveis a uma posição de não-envolvimento, ou seja, em cada cinco, mais de quatro preferem se omitir.

Até para se abrir, conversar sobre o tema, a opção pelo distanciamento mostrou ser a saída preferencial: um quarto dos entrevistados (24,9%) responderam que não tinham opinião para o assunto, ao serem solicitados a apontar os motivos da prática da exploração de crianças. O grupo favorável à delação demonstra forte rejeição à prática sexual com criança – “quem faz sabe que não pode fazer isso” – e propõe punição severa dos abusadores. Guardam na memória dos seus relatos a idéia dos filhos bem protegidos em casa e alimentam o desejo de que crianças exploradas recebam os mesmos cuidados que dispensam à própria família.

O grupo que prefere não se envolver com denúncia defende o caminho do aconselhamento: afirma que ouve o colega agressor e o alerta sobre os riscos. E só. De acordo com a análise do relatório, a primeira motivação para essa reação tão amena da grande maioria dos caminhoneiros reside no sentimento corporativo de classe que permeia a categoria profissional – “entregar um companheiro não é uma atitude correta”.

Medo

O medo de represálias, associado ao temor da ausência de provas, é um sentimento que só aumenta nos motoristas, frente às dúvidas em relação ao funcionamento do disque-denúncia: desconfiam do compromisso de anonimato prometido pelo serviço; suspeitam que serão descobertos e que sofrerão retaliação do denunciado. A descrença na aplicabilidade da lei (ECA) também está disseminada: a consideram um mero instrumento teórico, sem efetiva aplicação prática.

Sob o argumento de que o problema não é seu e que será resolvido pela polícia, alguns lavam as mãos. Há quem revele no próprio comportamento anuência à atitude predatória do abusador – embora declare repúdio à prática. Definem o deslize sexual como “um momento de fraqueza” diante de uma garota nova e bonita, oferecendo-se por qualquer preço.

A denúncia do local onde ocorre exploração sexual infanto-juvenil é mais comum que a delação da autoria. É o que concluem os pesquisadores ao identificar 77% de respostas que declaram denunciar pontos de encontro. Alguns caminhoneiros defendem rigorosa punição dos proprietários de locais que oferecem crianças, inclusive a cassação do alvará de funcionamento, sob alegação de que a atividade atrai insegurança e macula a imagem dos bons profissionais.

Mas 23% dos pesquisados são, contudo, contrários à denúncia, por entenderem que, apesar de a polícia e autoridades conhecerem os locais, deliberadamente nada fazem. Tal quadro teria origem na corrupção, suborno, arrecadação de propina. Outro ponto que dificulta a delação, além das ressalvas ao disque-denúncia, é o fato desse serviço não ser de conhecimento amplo: menos de dois terços (62,8%) dos entrevistados declararam conhecer o disque-denúncia. No Norte, a taxa cai para 60% e, no Nordeste, para 54%.

O desconhecimento faz com que o nível de utilização da denúncia seja baixo: só 10% dos que disseram conhecer o serviço já o utilizaram. Esse grupo representa, no entanto, apenas 6,5% dos 261 entrevistados, ou seja, apenas 17 indivíduos dos que opinaram já se dispuseram a fazer uma denúncia formal. O número é, portanto, muito baixo se confrontado com o porcentual de depoimentos dando conta da ocorrência de casos de prostituição envolvendo crianças (acima de 53% dos casos).

Os dados mostram que os caminhoneiros que declaram ter denunciado colega por fazer sexo com menor – 30,8% do total – informaram desconhecer o serviço. Os que denunciam apenas o local de exploração sexual, ou 35,1%, também declaram desconhecimento do disque-denúncia. A pesquisa alerta para a importância de maior divulgação do DISQUE 100 para estimular e incrementar o volume de denúncias, pois a falta de acesso minimiza o potencial de incidência de casos registrados.

Márcio de Morais, especial

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