Jeane Alves
segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012
PAPO DE TURFE –Com Luiz Sérgio Paiva
Titular do Stud São José dos Bastiões, Luiz Sérgio Paiva é o convidado especial desta semana da coluna de entrevistas do site do Jockey Club Brasileiro. Como o turfe entrou em sua vida?
LSP: Meu Pai (Sérgio P. Paiva), um dos maiores exemplos que tenho em minha vida, já frequentava o Hipódromo da Madalena desde os seus nove anos. Nisso, meu tio, outra pessoa bastante importante para mim, também se interessou desde jovem e fundaram o Stud Boa Viagem que veio a se transformar no Stud São José dos Bastiões. Portanto, na verdade, eu “não ingressei no turfe” apenas permaneci, pois nasci “dentro dele”, junto a esses animais maravilhosos e a tantos bons amigos que tenho feito ao longo desses, digamos, 35 anos de memória turfística!
O que as corridas de cavalos representam para você?
LSP: As corridas significam o ápice de momentos dedicados ao cavalo. Fico nervoso até hoje, mesmo em páreos comuns! É de fato uma grande alegria ver um animal seu indo fazer o cânter, alinhando no starting gate e, maior ainda, se chegar à frente dos demais! Coleciono incontáveis emoções eternizadas em meu coração e mente vividos dentro do turfe! Ah, e como a semana demora a passar quando se tem um cavalo inscrito (risos)!
Quais são melhores cavalos/éguas que já viu correr?
LSP: Até hoje me impressionam (e não poderia ser diferente) o Itajara, o Much Better e o Cacique Negro. Dos mais novos, sou fã do Desejado Thunder e deste fenômeno que é o Mr. Nedawi. Falando de turfe internacional, acredito estarmos presenciando a evolução de um fenômeno, o Frankel, assim como vimos a Zarkava e a Zenyatta!
Cavalo/égua mais bonito que já viu?
LSP: Essa pergunta é muito difícil, pois precisamos, mais ainda, separar o amor por um determinado cavalo para podermos analisar sua beleza. Falando dos cavalos que passaram por nós, o Príncipe do Mares, Deuteronômio e o Jujuy são belos exemplares P.S.I!
Melhor animal de sua propriedade e/ou criação?
LSP: Costumo dizer que as pessoas que lidam com o cavalo, sabem e esperam resultados que às vezes não se realizam na pista por inúmeras razões, portanto, cavalos como o Smart Club, que se machucou desde muito cedo não teve oportunidade de mostrar todo seu potencial (apesar da bela e curta campanha). Mas, analisando os resultados destacaria Royal Music (que ganhou do Dono da Raia duas vezes), Vupt-Vapt e o Jujuy, o mais querido, que nunca mais se recuperou de uma viagem mal planejada para correr o GP Ramirez (G1), no Uruguai. Já os turfistas mais velhos, com certeza se lembrarão do Manaus, um filho do Rio Bravo II, que, dentre tantos feitos, ganhou duas vezes o Clássico Delegações Turfísticas em CJ, o GP Paraná em 1985 (21 apresentações, 13 vitórias e seis colocações), etc...
Quais jóqueis fazem a diferença?
LSP: Primordialmente aquele que tem a paixão pela vitória. Aquele que dá ao proprietário e ao público a certeza de que sempre dará o melhor de si para chegar em uma melhor colocação no disco. Isso é fundamental. Hoje o Brasil é um celeiro de grandes jóqueis e apontar um seria por demais injusto com tantos outros. Acredito, entretanto, que o profissionalismo, represente 90% do sucesso em qualquer atividade, e o talento apenas 10%. Sendo assim, segue um conselho aos mais novos, juntamente com um exemplo: humildade, muito trabalho, seriedade e respeito ao mais velhos e, especialmente, ao animal. Jorge Ricardo tem todas estas qualidades!
Quais os melhores treinadores em sua opinião?
LSP: Meu pai, Sérgio Paiva, que possui matrícula de treinador aqui na Madalena (Hipódromo do Recife). Depois dele, por inúmeras razões, o Stud São José dos Bastiões tem cavalos atualmente com o Milton Signoretti, o Dengo (E.P. Gusso), Amazílio “Nenem” Magalhães, em Cidade Jardim. Na gávea o Paim está com alguns e o C.G Netto (Gugu) em breve estará recebendo outros. Ele é minha grande aposta para este ano. No Paraná estamos com o E. Vieira, que é uma garoto com todas as qualidades para ser, junto com o Ivanzinho Jerônimo, os maiores treinadores de sua geração. Portanto, estes, juntamente com o C.A. Nascimento (o Beto), aqui no Recife para nós, fazem a diferença. Sim, porque muitas vezes algum profissional é muito bom para determinado cavalo ou Stud/Haras e ruim para outros em razão das personalidades (dos profissionais, dos proprietários e do cavalo) e dos objetivos que se buscam. Contudo, 2011 foi, indiscutivelmente, o ano do craque Dulcino Guignoni!
Melhores garanhões da atualidade no turfe nacional?
LSP: Diversos excelentes garanhões estão com produtos para estreiar sua primeira geração nacional este ano e/ou no próximo (Elusive Quality, Manduro, Shirocco, Watchmom, Union Avenue, Artax...), portanto, atentando apenas para os com produtos já experimentados de fato, o Amigoni mostrou ser uma grata realidade, mas ainda coloco Wild Event, Signal Tap, Put It Back, Blade Prospector (velocidade) e, mais recentemente o Northen Afleet, à frente deste.
Melhores garanhões da história do turfe brasileiro?
LSP: Locris, Rio Bravo II, Gadheer, Know Heights e Roi Normand.
Seu momento inesquecível no turfe?
LSP: Na verdade tenho três muito bons: Olho de Tigre vencendo o GP Presidente da República (G1), em São Paulo (2007); Jotabe Clark, com quase 8 anos, ganhando em recorde os 2.800m da P.E. Viziane (2007) e Capistrano vencendo nosso único GP Bento Magalhães, principal prova do calendário nordestino. E há um muito ruim também: quando Tango Di Gardel prejudicado no GP Brasil (2007), por Top Hat e pelo ganhador da prova, L’Amico Steve, finalizando em 2º lugar.
Algum páreo marcante?
LSP: Graças a Deus são vários, especialmente os citados anteriormente, pois todos estavam com nossa farda. Ir para a foto da vitória é sempre marcante, especialmente quando se tem amigos para compartilhar e multiplicar estas alegrias!
Qual foi sua maior tristeza com cavalos?
LSP: Ainda é. O não reconhecimento do turfe pelo seu devido valor. Um esporte que gera receitas e empregos diversos, numa cadeia produtiva que vai desde o garanhão, passando pelo transporte, alimentação, medicação e profissionais que lidam diretamente com os animais. Um exemplo: é fato que o JCSP deve IPTU, o Corinthias também devia (sua dívida foi perdoada)... Ademais, nunca ninguém falou que a Lei Municipal de São Paulo foi declarada inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal, tendo sido editada uma nova o que faz com os débitos do Clube sejam bem menores do que se pensa e propaga. Essa discriminação já deveria estar sendo combatida há anos com o intuito de trazer novos proprietários e admiradores do esporte. Criou-se um hiato perigoso em relação à renovação no Turfe Nacional!
O que espera do turfe brasileiro nos próximos anos?
LSP: União, menos egocentrismo e ambição pessoal e mais, muito mais AMOR AO CAVALO e profissionalismo. Mas, sinceramente, não vejo nada disso com grandes possibilidades de ocorrer. Gostaria também, de ver, como meu amigo Alcebíades Azevedo tem tentado difundir, o uso do chicote extremamente controlado.
O que você diria para um novo proprietário que está começando a investir em cavalos de corrida?
LSP: Primeiramente que o investimento tem retorno certo se o resultado esperado for as alegrias inerentes ao turfe e ao cavalo. E olhe que são muitas e intensas. Mas, se considerarmos o turfe como investimento financeiro, infelizmente o diria para nunca comprar um cavalo de corridas. Um forte abraço e um maravilhoso 2012 para todos da comunidade turfística e do JCB
Por Celson Afonso – Fotos: Arquivo Pessoal
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