Mais um líder camponês, o 6º em 3 meses, é morto no Pará; ninguém foi preso pelos crimes
O líder camponês Valdemar Oliveira Barbosa, conhecido como Piauí, foi assassinado a tiros por volta de 11h desta quinta-feira (24) em Marabá (PA), segundo informações da Polícia Militar. Ele foi morto enquanto andava de bicicleta pelo bairro de São Félix por dois homens que estavam em uma moto preta. Um deles disparou duas vezes contra Barbosa, de acordo com a polícia.
É o sexto camponês morto no sudeste do Pará em três meses. Até agora, nenhum dos responsáveis pelas seis mortes foi preso.
Barbosa era associado do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Marabá e coordenou a ocupação da fazenda Estrela da Manhã, que fica na região. Segundo a CPT, a fazenda não foi desapropriada, e o sindicalista voltou a morar na cidade, onde ajudou a organizar a ocupação urbana Folha 06, no bairro Nova Marabá.
Em 2010, Barbosa coordenou um grupo de famílias que ocupavam a fazenda Califórnia, no município de Jacundá. No final do ano passado, as famílias foram despejadas pela Polícia Militar do Pará, mas os sem-terra ameaçavam reocupar o local.
Segundo a Polícia Civil, a principal suspeita é de que o crime tenha sido motivado pela ocupação da fazenda Califórnia, de propriedade de Vicente Correa. Em maio, Barbosa registrou boletim de ocorrência no qual relata ter recebido ameaças de Correa.
O delegado José Humberto, da Delegacia de Conflitos Agrários (Deca) de Marabá, responsável pelo inquérito, afirma que é cedo para dizer que o crime tem como motivação a disputa por terras. "Estamos investigando, não dá para falar ainda."
Ninguém preso
A onda de mortes no sudeste do Pará começou em 24 de maio, quando o casal de extrativistas José Cláudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo da Silva foram mortos a tiros em uma emboscada.
Somente em 28 de julho, mais de dois meses após o crime, o juiz Murilo Lemos Simão, da Comarca de Marabá, pediu a prisão preventiva de José Rodrigues Moreira --suspeito de ser o mandante do crime--, Lindonjonson Silva Rocha e Alberto Lopes do Nascimento, que teriam sido os autores dos disparos que mataram o casal.
A Polícia Civil concluiu o inquérito em de 10 julho. Antes, o mesmo juiz negou em duas ocasiõesos pedidos de prisão feitos pela Polícia Civil, que tinham parecer favorável do Ministério Público, alegando falta de provas. Para a CPT (Comissão Pastoral da Terra), a postura do juiz facilitou a fuga dos criminosos. Até agora nenhum dos três foi preso.
Alguns dias após a morte dos extrativistas, o lavrador Eremilton Pereira dos Santos, 25, que morava no mesmo assentamento do casal, foi encontrado morto. No dia 1º de junho, um lavrador de 33 anos foi assassinado em Eldorado dos Carajás.
Inicialmente, a polícia afirmou que não havia relação entre as mortes, mas depois disse que a sequência de assassinatos seria uma estratégia dos responsáveis pelos crimes para atrapalhar a investigação policial.
Para conter a onda de violência, o governo federal decidiu enviar a Força Nacional de Segurança, além do Exército e Polícia Federal, para o sudeste do Pará e para o oeste de Rondônia, onde Adelino Ramos, liderança do Movimento Camponês Corumbiara (MCC), foi assassinado enquanto vendia verduras em Vista Alegre do Abunã, distrito de Porto Velho (RO), em 27 de maio --na época, o principal suspeito pelo crime foi preso.
Na véspera da chegada das tropas, em 9 de junho, o camponês Obede Loyla Souza, 31, foi morto no acampamento Esperança, em Pacajá (PA).
Os responsáveis pelos crimes de Carajás, Pacajá e pela terceira morte em Nova Ipixuna ainda não foram localizados.
Guilherme Balza
Do UOL Notícias
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