Nesta quarta-feira, em Cidade Jardim, será realizado o leilão de potros do Haras Springfield, pertencente a Salomão Soifer, que por sua vez representa um dos maiores investidores do turfe paranaense – e também brasileiro – nos últimos anos. De vasto e longínquo contato com as corridas de cavalo, Soifer, que há 30 anos mantinha, em sociedade, o extinto Haras Mossoró, hoje aparece como um dos mais promissores criadores, dentre os qualificados centros do PSI estabelecidos no Paraná, face toda a estrutura e a mão de obra qualificada de que dispõe.
Contando com animais seus competindo no Brasil e também na Argentina – onde detém a “primeira monta” do ótimo Altair Domingos – Soifer concedeu uma entrevista exclusiva à reportagem do Raia Leve, abordando seus pontos de vista em relação ao turfe de uma maneira geral, e também sobre o próprio Haras Springfield.
RL: Depois do encerramento das atividades do Haras Mossoró, o sr. permaneceu afastado, de certo modo, da criação e do turfe em si. Na década passada, no entanto, aquele terreno de criação é reativado com o Haras Springfield, que hoje aparece como um dos mais modernos e qualificados espaços do Puro Sangue Inglês no Brasil, e isso mesmo com o panorama não muito animador apresentado pelo turfe no Brasil, em tempos atuais. O que motivou este retorno seu ao esporte?
SS: Sou um apaixonado por turfe, frequento o hipódromo desde os 10 anos de idade. Este retorno ao turfe não visou resultados financeiros, fui motivado pela minha paixão pelo esporte.
RL: É de conhecimento geral o êxito do Grupo Soifer em matéria de empreendedorismo. Logo, se numa situação hipotética, o sr. tivesse de tomar conta da parte administrativa do turfe no Brasil, quais seriam as diretrizes principais a serem seguidas para que a atividade conseguisse galgar alguma perspectiva de recuperação?
SS: Se eu tivesse projeção política, a caneta na mão, eu criaria um órgão que uniria os principais hipódromos do país – os jockeys clubes do Rio, São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul - e faria três coisas: cada clube teria seu dia com carreiras exclusivas, ou seja, quando tivesse carreiras no Jockey Clube do Paraná, por exemplo, não haveria programação em outros hipódromos. Assim funciona na Argentina. Outra medida seria a pedra única, a unificação do sistema de apostas. Além disso, criaria uma lei do turfe para que o governo federal colaborasse com todas as pessoas que vivem do turfe e que estão cada vez mais abandonadas. Enfim, falta um órgão que se interesse exclusivamente pelo esporte.
RL: O Haras Springfield foi um dos responsáveis pela vinda do Amigoni ao Brasil, sendo ele o primeiro filho de Danehill a servir por aqui. Ao mesmo tempo, outros reprodutores, cujas vindas para cá seriam inimagináveis até outrora, começaram a desembarcar no Brasil para servir no regime de shuttle, operação esta que expandiu os horizontes da nossa criação. Hoje em dia, o que é mais vantajoso para o criador, a aquisição do garanhão ou o investimento numa operação de shuttling?
SS: Hoje em dia sem dúvida é mais vantajoso para criador o shuttle. Adquirimos um dos melhores garanhões em atividade no Brasil, o Amigoni. Hoje provavelmente não conseguiríamos viabilizar sua vinda para o Brasil. Com uma operação de shuttling é possível trazer excelentes garanhões sem ter o alto investimento da compra.
RL: Ainda no assunto dos garanhões: não só o Brasil, mas a América do Sul como um todo – principalmente via Argentina – vem tendo acesso a reprodutores de altíssimo nível nos últimos anos, como, por exemplo, a estrela da Coolmore, Giant’s Causeway. Com a vinda destes animais, dá para cravar que o garanhão de médio porte, para “utilização caseira”, perdeu muito espaço na criação? Ou ainda é possível galgar por competitividade e bons resultados utilizando reprodutores menos expressivos?
SS: É lógico que reprodutores de alto nível oferecem de pronto uma maior credibilidade e segurança. Mas não existem garantias em se tratando de criação. O fato é que os criadores brasileiros estão procurando reprodutores de alto nível e penso que isso é uma tendência.
RL: Além de toda a estrutura mantida no Brasil, o Haras Springfield também possui animais defendendo a sua farda na Argentina, assim como éguas de cria naquele país. Tanto é que foi através do próprio Springfield, que o bridão Altair Domingos rumou para o país vizinho, onde vem obtendo muito sucesso, por sinal. Logo, possuindo intimidade e conhecimento sobre a situação do turfe na Argentina, qual seria o segredo “deles” para as coisas funcionarem de verdade por lá?
SS: Não pode se comparar o turfe brasileiro com o turfe argentino mesmo eu acreditando que estamos criando melhores animais e que a economia no Brasil está melhor do que a da Argentina. O que acontece é que o povo argentino é apaixonado pelo turfe e isso faz com que o negócio do turfe lá seja muito forte. Na Argentina se investe mais. Um dos motivos é que as premiações compensam. Já no Brasil, os haras estão diminuindo suas estruturas, o número de reprodutoras, os animais em campanha. Além disso, a natureza favoreceu os argentinos. Os campos argentinos exigem pouca manutenção, possuem pastagens naturais e sem necessidade de melhorias ou adubação. Isso diminui o custo final.
RL: Outro fator que chama muita atenção quando falamos no Haras Springfield, é a alta qualidade dos profissionais integrantes da equipe. Desde o “time” que trabalha no haras, até veterinários, jóqueis e treinadores, a mão de obra de vocês impressiona bastante. Há, de fato uma preocupação especial nesse sentido, ou é algo que acontece naturalmente?
SS: Nesse sentido, nada acontece naturalmente. Em todos os setores em que atua, o grupo Soifer procura os melhores profissionais no mercado e esta é a receita do sucesso. Não é diferente com o Haras Springfield.
RL: O Haras Springfield conta também com o trabalho de um dos mais respeitados hipólogos do Brasil, o Samir Abujamra. Muitos haras de grande porte, diga-se de passagem, não se dão ao luxo de contar, em suas equipes técnicas, com um nome de tanto peso. Qual é o papel do Abujamra para o funcionamento do Springfield?
SS: Nós escutamos fielmente as colocações das pessoas que têm conhecimento. Samir Abujamra exerce um papel essencial no Haras. Todo o planejamento genético do Haras Springifield é baseado em seus apontamentos. Fazemos consultas diárias ao Samir Abujamra.
RL: Assim como outros importantes estabelecimentos, o Haras Springfield realizará um leilão com os seus potros, fato este se torna cada vez mais comum em termos de turfe no Brasil. A venda, a participação em licitações deste tipo, já era um plano original do haras, ou as circunstâncias apresentadas pelo turfe brasileiro é que foram preponderantes para essa decisão?
SS: Foram as circunstâncias. Gostaríamos de ficar com toda a geração, mas isto se tornou inviável. Os maiores haras do país não conseguem manter todos os seus animais. Contudo, sentimos que estamos num patamar de competitividade dentro da criação nacional, tendo em vista primeiramente toda a qualidade genética desta geração. Isso nos permitiu viabilizar este primeiro leilão do Haras Springfield.
RL: Qual seria a sua mensagem final para os Leitores do Raia Leve?
SS: Eu gostaria de dizer para os leitores do Raia Leve que continuem prestigiando o turfe. Tenho um profundo respeito pelos envolvidos no universo do turfe, pois com certeza são movidos por pura paixão.
por Victor Corrêa
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