Jeane Alves

Jeane Alves
Vitória de G 1 com Equitana

sábado, 3 de setembro de 2011

Esclarecimento sobre o Turfe do Paraná, por Eduardo Buffara

Lendo na semana passada um artigo do insigne turfman sr. Milton Lodi publicado neste RAIA LEVE sob o título “Ingressos na Reprodução”, constata-se um comentário pejorativo com referência ao turfe do Paraná e do Rio Grande do Sul.

Como turfista, criador e proprietário paranaense, só possuo dados para argumentar em defesa do meu estado, mas estou seguro de que os gaúchos também saberão – caso queiram – apresentar suas explanações.

Para esclarecimento geral, o sr. Milton Lodi escreve textualmente que: “...a enorme distância técnica entre os dois clubes da primeira faixa e os dois da segunda facilita a questão. No Paraná e no Rio Grande do Sul os seus G.G.P.P. Paraná e Bento Gonçalves são disputados e vencidos por cavalos que na Gávea e/ou Cidade Jardim são de padrão “4 anos com duas ou três vitórias”, no máximo corredores de “pesos especiais”, e quando excepcionalmente vai um corredor de real expressão, não é um páreo normal, mas uma verdadeira “caça a raposa”. O caminho é claro, irrefutável.”

Ainda que certamente a distância técnica entre os animais do turfe do Paraná e os do Rio ou de São Paulo exista, especialmente pelo fator financeiro (os prêmios médios de SP e RJ são 4 vezes mais altos que os do PR), não se trata de uma “enorme” distância, como se verá a seguir. Além disso, querer desqualificar o padrão dos animais que aqui atuam ou são treinados, e - pior - que disputam e/ou vencem o GP Paraná, comparando-os a cavalos de 4 anos com 2 vitórias, é afirmação que, com todo o devido respeito ao sr. Milton, exige uma contestação a bem da verdade.

Quanto à parte técnica, basta analisar os números.

Alertando para o fato de que, assim como os cavalos do Cristal usualmente “migram” para a Gávea, os do Paraná têm sempre suas campanhas mais direcionadas para Cidade Jardim, observamos que apenas neste ano de 2011 (mantendo aliás uma série que vem se repetindo há pelo menos uma década sem falha) animais treinados em Curitiba ganharam inúmeros clássicos em São Paulo. E clássicos de relevo.

Se, como insiste em afirmar o sr. Milton Lodi, a distância técnica entre os animais do Paraná e de São Paulo fosse tão enorme, ALTA VISTA não teria ganho 5 dos 6 clássicos da geração nascida em 2008 que disputou em Cidade Jardim, sendo 2 provas de Grupo 1, inclusive a 1ª da Coroa. Curiosamente, a líder incontestável da atual geração teve 100% de seu treinamento no Paraná, onde está e sempre esteve alojada.

Se, como insiste em afirmar o sr. Milton Lodi, a distância técnica entre os animais do Paraná e de São Paulo fosse tão enorme, UNA BELEZA não teria ganho 2 das 3 provas da Coroa da geração nascida em 2007 que disputou em Cidade Jardim, além de ter se colocado no Derby e no GP São Paulo, e de ter derrotado os machos em prova clássica em São Paulo. Curiosamente, a líder incontestável da geração anterior teve 100% de seu treinamento no Paraná, onde está e sempre esteve alojada.

Se, como insiste em afirmar o sr. Milton Lodi, a distância técnica entre os animais do Paraná e de São Paulo fosse tão enorme, JECA não teria ganho 3 dos 5 clássicos que disputou em Cidade Jardim este ano, além de ter sido 2º no GP São Paulo e na Copa ABCPCC Clássica e 3º no GP Brasil – em todas elas perdendo corridas incríveis, por pequenas diferenças, sendo que em 2 para animais também iniciados aqui. Curiosamente, um dos 2 ou 3 melhores machos em treinamento do País teve 100% de seu treinamento no Paraná, onde está e sempre esteve alojado...

Se, como insiste em afirmar o sr. Milton Lodi, a distância técnica entre os animais do Paraná e de São Paulo fosse tão enorme, a nossa defensora EAKINS não teria ganho uma prova de Grupo 2 de ponta a ponta em Cidade Jardim este ano, batendo as subseqüentes ganhadoras da Milha Internacional de SP (Equitana) e do GP OSAF do RJ (REnânia), além de ter se colocado em provas de Grupo 1 e 2 a seguir. Feito que ela obteve justamente enquanto esteve alojada e em treinamento no Paraná!

E se, como insiste em afirmar o sr. Milton Lodi, a distância técnica entre os animais do Paraná e de São Paulo fosse tão enorme, não teríamos nos históricos de ganhadores de provas de Grupo 1 do Rio e de São Paulo nos últimos anos animais como THIGNON BOY, EYJUR, TOO FRIENDLY, VACILAÇÃO, JETON DE LUXO, SETEMBRO CHOVE, ROXINHO, ITAQUERE POWER, URODONAL, FAST LOOK, COQUETEL, SNACK BAR, CRYSTAL DAY, SKYPILOT, NÉLEO, BYZANTIUM, VALIANTNESS, NERGY SELLER, todos treinados ou iniciados no Hipódromo do Tarumã,no Paraná.

Com referência especificamente ao GP Paraná, prova que segundo o sr. Milton Lodi é habitualmente “vencida por animais de 4 anos/2 vitórias”, antes de mais nada é curioso observar que não é feita qualquer menção ao fato de o recente ganhador do GP Brasil 2011 ter sido um cavalo que havia saído do perdedor na 5ª atuação, 1 mês antes da magna prova, e que era – este sim – um “4 anos/1 vitória”, e que antes do GP Brasil jamais havia sequer atuado numa prova clássica, sequer num handicap.

Eis aí um FATO que NUNCA aconteceu na história de 68 anos do GP Paraná...

Mas, vamos aos números das últimas 5 versões da prova máxima paranaense:

2010 – Vencedor: JABURU VIP. Era um potro de 3 anos com 3 saídas, ganhador na estréia aos 2 anos no Paraná e que na 2ª apresentação, batendo futura ganhadora de G2 em São Paulo, e que estreando em Cidade Jardim diretamente em Grupo 2, foi o 2º colocado. Derrotou não cavalos de “4 anos/2 vitórias”, mas Jeca (2º no GP São Paulo e 3º no GP Brasil), Nozze de Fígaro (ganhadora clássica em SP e no Rio e que acaba de dar um “show” na melhor prova de areia da semana do GP Brasil), e clássicos de grupo como Tatamovich, Haraquiri, Our Potri e outros de destaque no Rio e SP. A exemplo de todos os ganhadores do GP Paraná nos últimos 3 anos, foi exportado. Lamentavelmente morreu de laminite no Uruguai.

2009 – Vencedor: MR. NEDAWI. Casualmente não é um cavalo de 4 anos/2 vitórias, mas sim o melhor arenático da América do Sul. Foi exportado, fez e faz grande sucesso na Argentina e no Uruguai.

2008 – Vencedor: TANGO UNO. Era um potro ganhador em SP em 2 saídas, com 2º em Grupo 3 (derrotando ganhador de Grupo 1) e que vinha de atuar não em claimings, mas em 2 provas de Grupo 1 da Coroa Paulista. Derrotou não cavalos comuns mas 6 (seis) animais clássicos em provas de Grupo 1. Foi exportado em seguida para os USA.

2007 – Vencedor: ALUCARD. Vinha de vencer 2 clássicos de areia na Gávea, onde era tido como um dos melhores corredores nesta pista. Na sequência foi a um prova de G2 em São Paulo e derrotou “apenas” Giruá...

2006 – Vencedor: FOGONAROUPA. Potro ganhador na estréia, contava 3 anos e vinha de vencer o clássico preparatório batendo Pantaleon (ganhador e colocado em Grupo em SP e no Rio, onde atuou inclusive no GP Brasil), Bucaneer (múltiplo ganhador de provas de grupo no Uruguai, 2º inclusive no Internacional GP Ramirez-Grupo 1) e Dá-lhe Grison (ganhador de Grupo 1 e eleito – não por mim, mas pela ABCPCC – “Melhor Arenático do Brasil” no ano anterior.

Pelos fatos reais acima relatados, pela importância do Paraná no cenário turfístico nacional, ou ainda pela reiterada qualidade dos animais treinados em Curitiba, como ficou demonstrado, acho que o nosso turfe e a nossa maior prova merecem mais respeito.

A título de ilustração final, figuram na imortal galeria de ganhadores e perdedores do GP Paraná-Grupo 1 nomes como CLACKSON, KIGRANDI, GORYLLA, BIG LARK, RIADHIS, LUNARD, GRÃO DE BICO, ARNALDO, LEIGO, AIORTROPHE, DILEMA, AWAY, REIZINHO, SALOMÃO, LOVING, CASTÃO, ZIRBO, MAJOR´S DILEMMA, IMPORTANZA, LA RANCHERA, PANTHER, IMPORTANZA, RUMOR e muitos outros campeões que, gloriosamente inesquecíveis para os turfistas, haverão sempre de contestar as opiniões do sr. Milton Lodi.



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