Jeane Alves

Jeane Alves
Vitória de G 1 com Equitana

segunda-feira, 14 de março de 2011

Índia, Um mosaico chamado Índia - Parte 1

Um mosaico chamado Índia
O segundo país mais povoado da Terra - com cerca de um bilhão de habitantes -, apontado como uma das potências econômicas do século 21 é também um dos mais desiguais do ponto de vista social

Tecnologia digital de ponta, projetos espaciais desenvolvidos em ritmo acelerado, dívida externa em franco retrocesso, maior indústria cinematográfica do planeta. Mobilidade social restrita por um sistema de castas extra-oficial, taxas de analfabetismo elevadas, casamentos arranjados, opressão às mulheres. Eis a Índia. O segundo país mais povoado da Terra - com cerca de um bilhão de habitantes -, apontado como uma das potências econômicas do século 21 é também um dos mais desiguais do ponto de vista social.

Compor um panorama da sociedade indiana é de encantar e estarrecer. A agricultura é um dos pilares da economia do país, por isso as áreas rurais concentram aproximadamente 70% da população. Os outros quase 30% estão nas cidades. A grande metrópole da Índia é Mumbai - antiga Bombain - com 16,5 milhões de habitantes, dos quais metade é de favelados e cerca de um milhão vive nas ruas. E é andando nas ruas, obviamente, que se entra em contato com a realidade de qualquer lugar. Em Mumbai, os mais modernos automóveis circulam ao lado de elefantes, que lá são meio de transporte. Modernidade e tradição? Sim. É esse um dos paradoxos que mais chamam a atenção no país.

A Índia da prosperidade científica e tecnológica é a mesma que tem 40% da sua população analfabeta. Ascender socialmente, mudar de vida, para os indianos em situação mais pobre, é uma rara conquista. A desigualdade na distribuição de renda, característica do neoliberalismo, é uma realidade no país, além do mais, os contrastes econômico-sociais encontram-se fortemente justificados por um sistema de castas, algo sem similar em qualquer cultura ocidental.

Tentar entender a Índia sem considerar o seu sistema de castas é perda de tempo. Oficialmente banido do país em 1946, esse sistema milenar de divisão da sociedade, na prática, ainda vigora. As castas são quatro, que, originalmente, foram divididas da seguinte forma: a dos brâmanes, incluindo a elite religiosa, pesadores e os proprietários de terra; a dos kshatriyas, dos militares e administradores; a dos vaishyas, comerciantes; e a dos sudras, na qual se enquadram artesãos e trabalhadores braçais. Fora do sistema de castas, conseqüentemente, no lugar mais baixo da pirâmide social, estão os dalits ou parias, também chamados de intocáveis. São denominados assim porque, para boa parte dos hindus, quem toca em um paria fica impuro.

O governo da Índia vem tentando combater esse preceito tradicional e introduzindo medidas para proporcionar a esses membros da sociedade - estimados em 160 milhões de pessoas - acesso a educação e a empregos mais dignos que os trabalhos sub-humanos que lhes são oferecidos. Os próprios dalits protestam contra a sua exclusão e se organizam para lutar pelos direitos que o governo lhes garante, mas que boa parte das classes mais altas deixa de reconhecer. De acordo com uma ativista da Campanha Nacional Pelos Direitos Humanos dos Dalits, que deu seu depoimento no Fórum Social Mundial, realizado na Índia em 2004, antigamente os dalits tinham que andar com sinos ou chocalhos para avisar que estavam se aproximando e assim as pessoas de outras castas sabiam que tinham que evitá-los. Anupam Wankhede, a ativista em questão, disse que isso não é mais realidade no país, pelo menos, nas cidades. Ela trabalha para conscientizar as pessoas de que o sistema de castas não foi criado por Deus, mas pelos homens, pela elite - os brâmanes - que queriam ter poder sobre os demais.


Por Bianca Encarnação

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