Eduardo Gosik e Pedro Nickel: homenageados na tarde
O turfista que, neste sábado, bater o olho na programação organizada pela Comissão de Turfe do Jockey Club de São Paulo para as corridas de logo mais, não tardará a notar algo diferente na denominação dos páreos. Num ato que merece todo o tipo de apreço da comunidade turfística, o Jockey Club de São Paulo homenageará os mais antigos treinadores, ainda em atividade, no turfe paulistano. E muito mais do que relevar nomes de profissionais tão importantes para a atividade, esta reunião sabatina de Cidade Jardim oportuniza a todos nós refletirmos sobre as reais condições do treinador no turfe brasileiro.
“Eu me sinto muito honrado em ser lembrado pela Diretoria”, diz Eduardo Gosik, um dos homenageados de logo mais, e que desempenha a função de treinador desde a década de 50, quando ainda se encontrava radicado no Hipódromo do Guabirotuba, em Curitiba. “Duda”, como é carinhosamente chamado (durante a conversa com a nossa reportagem, lembrou de momentos importantes de sua carreira, como a 1ª vitória, obtida pelo animal Entediado), se transferiu para Cidade Jardim em 1969, contando com apoio, dentre outras coudelarias, do Haras H.Oliva, farda que faz questão de ressaltar.
“Graças a Deus, eu posso me considerar um privilegiado nesta profissão, onde pude conquistar vitórias expressivas, estatísticas, além de ter encaminhado minha família”, salienta o experiente profissional, fazendo menção aos filhos Luis Eduardo e Mário Gosik, sendo que o segundo segue os passos do patriarca até os dias de hoje na profissão. Contudo, Eduardo não esconde que a situação do treinador brasileiro, genericamente falando, é bastante complicada se comparada a outras épocas. “É difícil falar, até porque tudo era mais rico, mais forte no turfe de antigamente. Mas, também é complicado de negar que o treinador tenha perdido um pouco de espaço, um pouco de autonomia. A figura do veterinário, por exemplo, ganhou muito espaço, até mesmo influenciando na maneira de treinar, e no modo de agir de alguns treinadores. Mas é algo natural, de tempos atuais, e não dá para fugir disso. E eu, repito, me sinto um privilegiado de ter conseguido atravessar todo este tempo com uma boa estabilidade, e poder seguir trabalhando até hoje”, arremata o respeitado profissional.
Sem folgas, sem fins de semana, sem um momento sequer de despreocupação em relação aos seus pupilos. Via de regra, é este o ritmo psicológico imposto ao treinador, que em sua profissão desempenha uma vocação tão complexa e bela, que chega a beirar o patamar de uma autêntica arte. A transformação de um cavalo xucro num campeão das pistas, tal qual a tarefa de um ourives lapidando um diamante, enche de histórias e estórias o nosso meio, extrapolando, portanto, os limites da funcionalidade. E em que pese os horários “madrugueiros”, a pressão por resultados e, claro, a ingrata missão de ter de entender a seres que não falam uma palavra sequer, infelizmente esta classe não goza do reconhecimento merecido.
Institucionalmente falando, políticas de subsídio por parte dos próprios hipódromos e associações anexas, e de apoio a treinadores já aposentados – ou inválidos por algum motivo – fazem muita falta. E no sentido prático da questão, é bastante triste acompanharmos tantos profissionais de gabarito caírem no esquecimento, não apenas dos proprietários, como também do público turfista em geral. Em meio a este panorama acerca de uma peça tão fundamental para as corridas de cavalo, que este louvável ato do JCSP (a atenção, principalmente, em evitar uma homenagem póstuma que não teria muito sentido) sirva de exemplo para as entidades co-irmãs e afins. E que os portadores deste dom que lhes é tão peculiar sejam congratulados à altura do desafio que lhes é imposto, dia após dia, corrida após corrida.
A Althayr de Oliveira, Eduardo Gosik, Elídio Pereira Gusso, João Roldão, Milton Signoretti, Pedro Nickel, Roberto Mesquita, Selmar Lobo, Walfrido Garcia, Wanildo Garcia Tosta, e todos os treinadores do Brasil, os nossos parabéns.
por Victor Corrêa
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