Jeane Alves

Jeane Alves
Vitória de G 1 com Equitana

sexta-feira, 25 de março de 2011

Índia, um mosaico chamado Índia - Parte 4

A Índia é considerada a maior democracia do mundo em função de ter o maior eleitorado entre os países democráticos. O sistema político é parlamentar. O presidente, na qualidade de chefe de Estado, exerce um papel principalmente protocolar, embora sua aprovação seja necessária para que qualquer lei que saia do parlamento. Ele é eleito indiretamente por um colégio eleitoral para um mandato de cinco anos. A chefia de governo é exercida por um primeiro-ministro, que concentra a maior parte dos poderes executivos. Este é nomeado pelo presidente, desde que conte com o apoio de um partido.

Em sua mais recente eleição, de julho de 2007, pela primeira vez na história do país, a Índia elegeu uma mulher para presidente. Pratibha Patil, ex-governadora e candidata pela aliança governista, teve maioria no Congresso. Mas, Patil, vale lembrar, não foi a primeira mulher a estar à frente do governo indiano. Indira Gandhi, assassinada em 1984, foi a primeira-ministra do país. Apesar do sobrenome, Indira não tinha qualquer parentesco com Mahatma Gandhi, e seu governo foi bastante polêmico. Combateu com rigor, por exemplo, os problemas sociais e econômicos decorrentes da explosão demográfica e uma de suas medidas foi a esterelização maciça obrigatória.

A interferência do governo no direito à natalidade de uma forma como esta foi mais uma marca no histórico de violência cometida contra as mulheres indianas. O domínio dos homens sobre as mulheres no país ainda é muito forte em qualquer nível social. Embora a modernidade esteja desbancando algumas tradições, os casamentos arranjados são bastante comuns e o pagamento de dote por parte da família da noiva ao noivo é uma prática associada a esse tipo de arranjo entre famílias. A justificativa mais comum pelo dote é a de que ele seria uma espécie de compensação para a família do noivo pelo investimento na educação dele e no seu preparo para sustentar a noiva e a família que virão a formar pelo resto da vida.

A conseqüência dramática dessa tradição é que o dote desestrutura financeiramente muitas famílias que dão suas filhas em casamento. Isso faz com que dar à luz a meninas seja um prejuízo a priori. Logo, o aborto seletivo - realizado logo após a identificação do sexo pelo exame de ultrassom - tornou-se recorrente.

O dote é uma prática presente em todas as classes sociais, mas proibida pelo governo indiano, estando o noivo que o recebe sujeito à prisão. O dote, obviamente, não é a causa, mas uma conseqüência de uma sociedade que oprime a mulher. Diversas organizações protestam contra os altos números de estupro e violência doméstica.

Não é de se espantar que as mulheres dalit tenham uma vida ainda mais difícil do que as demais. Elas não são estimuladas a estudar e a vasta maioria trabalha por salários de fome na agricultura. Por conta de todas as questões de gênero do país, elas trabalham consideravelmente mais do que os homens dalits, recebendo muito menos do que eles. Apesar de serem consideradas intocáveis, elas acumulam histórias de exploração sexual e são as grandes vítimas da Aids no país.

Mas nem tudo é tragédia na vida das mulheres indianas. Muitas conseguem casar por escolhas próprias e outros tantos casamentos arranjados acabam dando certo também. Fora isso, os novos tempos têm trazido perspectivas melhores para elas. Seus direitos estão garantidos em lei, mas a luta para fazê-los valer na prática é grande.

Se sob alguns aspectos, nossos olhos ocidentais se espantam e se revoltam diante de algumas tradições indianas, por outros ângulos é preciso reverenciar essa sociedade. A busca pelo saber está presente na cultura indiana e talvez seja um dos grandes propósitos da nação. A religiosidade acaba tendo, no país, uma função social, pregando o desenvolvimento do conhecimento como meio de sair das trevas da ignorância. Como resultado dessa premissa, a Índia foi o berço da primeira Universidade - que existiu em Nalanda, no estado de Bihar, nos tempos ancestrais. O conceito do zero, por exemplo, nasceu na Índia, assim como outros fundamentos matemáticos do modo como os entendemos hoje em dia. Todo o sistema de numeração é indo-arábico, ou seja, os árabes buscaram na Índia e difundiram os algarismos que usamos até hoje. A fórmula de Bhaskara, por exemplo, que foi criada na Índia, é usada para resolver todas as equações do atual Ensino Médio.

A Índia tem também uma incontestável contribuição na filosofia, ciência que faz parte da vida de todo indiano. Os avanços em áreas como na tecnologia da informação também são notórios. O país hoje "exporta" especialistas, principalmente, em softwares, para países da Europa e América.

Nos Estados Unidos, no campo de pesquisas espaciais, o telescópio Chandra, da NASA, que leva o nome do físico indiano, é superior em tecnologia ao Hubble, mais conhecido por ser responsável por telecomunicações. Outra área importante é a biotecnologia, campo que a
Índia domina sobre muitos países.

Em 2006, a Índia e a Alemanha anunciaram uma nova iniciativa de colaboração de ciência e tecnologia que irá fortalecer e expandir a cooperação nessas áreas. A parceria foi selada após a sexta reunião do Comitê Indo-Alemão de Ciência e Tecnologia, concluída em 25 de setembro de 2006, em Nova Delhi. Na reunião, representantes do Ministério Federal da Educação e Pesquisa da Alemanha e do Departamento de Ciência e Tecnologia da Índia identificaram as áreas de foco para cooperação. Entre elas, estão a de nanotecnologia, biotecnologia e estudos do cérebro, entre outras frentes de pesquisa. O Brasil também já conta com profissionais indianos em seus institutos de pesquisas e universidades. Exemplos são o Instituto de Pesquisas Espaciais (INPE) e a Universidade de São Paulo (USP).

A boa formação em ciências exatas nas instituições de ensino técnico e superior, a língua inglesa - que é falada pela classe média e pelas classes mais altas em decorrência da colonização britânica -, entre outras políticas, como a de importações, que criou ilhas de competitividade, são atitudes que renovam cada vez mais os avanços da Índia. Aliado a essas iniciativas está o desenvolvimento de pesquisas voltadas para o aprimoramento das condições de vida no meio rural, cuja representatividade na economia do país é considerável.

por Bianca Encarnação

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