Jeane Alves

Jeane Alves
Vitória de G 1 com Equitana

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Cavalo, desabafo de um Cavalo

Desabafo de um Cavalo


Dono meu, treinador meu, cavalariço meu, jóquei meu:
- Dá-me frenquentemente de comer e de beber, e quando tenhas terminado de trabalhar-me, dá-me uma ducha e uma cama onde eu possa descansar comodamente;
- Examina todos os dias os meus pés e limpa o meu pelo com escova;
- Quando eu recusar a ração, examina os meus dentes e minha boca, porque bem pode ser que eu tenha uma travagem que me impeça de comer;
- Fala-me, tua voz é sempre mais eficaz e mais convicente pra mim, que chicote e que as rédeas;
- Acaricia-me frequentemente, para que eu possa compreender-te, querer-te e servir-te da melhor maneira e de acordo com os teus desejos;
-Não cortes o meu rabo muito curto, privando-me do melhor meio que tenho para espantar as moscas e insetos;
- Não me batas violentamente e nem dês golpe violentos nas rédeas, se não obedeço como queres, é porque ou não te compreendo, ou porque estou mal encilhado, com o bridão mal colocado, com alguma coisa nos meus pés ou meu lombo que me causa alguma dor;
- Se eu me assustar, não deves bater-me e nem me dê chasco com o cabresto sem saber a causa disso, pois bem pode ser o defeito de minha vista ou um providencial aviso para ti;
- Não me obrigues a andar muito depressa nesta vila hípica emburacada;
- Não permaneças montado sem necessidade, pois prefiro caminhar, do que ficar parado com uma sobrecarga sobre o dorso;
- Quando cair, tenhas paciência comigo e ajuda-me a levantar, pois faço quanto posso para não cair e não causar-te desgosto algum;
- Se tropeçar não deves por a culpa em cima de mim , aumentando a minha dor e a impressão de perigo com tuas chicotadas; isso só servirá para aumentar meu medo e minha má vontade, pois você sabe que a raia tem buracos;
- Procura defender-me da tortura do bridão, não no trabalho, mas quando esteja em descanso, e cobre-me com a manta ou com uma capa apropriada;
- Quando por qualquer motivo eu me bater no boxe de largada, peças aos veterinários que me retire da corrida, porque tenho pena dos meus apostadores;
- Enfim meu dono, quando a velhice me tornar inútil, não esqueças o serviço que te prestei, nem as corridas que eu ganhei, obrigando-me a morrer de dor e privações sobre o jugo de um dono cruel ou nos varais de uma carroça; se não puderes manter-me, ou mandar-me para um haras, mata-me com tuas próprias mãos sem me fazeres sofrer;
- Eis tudo que te peço, em nome daquele que quis nascer numa cocheira, minha morada, e não num palácio, tua casa.



por Crenaldo Queiroz

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