Jeane Alves

Jeane Alves
Vitória de G 1 com Equitana

sexta-feira, 30 de março de 2012

De Turfe um pouco..., por Mário Rozano


O DOUTOR DEIXOU DINHEIRO…

Para todo o “burrero” que se preze apostar é uma celebração, talvez um dever inadiável e saudável estimulante para o espírito, e em qualquer que seja a situação e meio. Muitas vezes a moeda sonante é substituída por uma lista interminável de objetos, e até mesmo de serviços, e esta prática vem desde a origem do turfe na Inglaterra. O esporte das rédeas, diferente dos jogos de azar se propõe a reflexão, ao estudo e as relações pessoais, forma amizades e interage diretamente com os atores, torna-se intima entre os pares, estimula as disputas paralelas que, sem nenhum prejuízo as instituições, se apropriam do acontecimento e elevam momentos a altos picos de adrenalina, quer nas preliminares, como nos desfechos das contenda privadas... Trata-se de é um verdadeiro reality show... uma boa parada!

E assim aqui está posta uma história, com o H maiúsculo é de direito, e escrita por quem sabe e conheceu como poucos o “caminho das piedras”...

O Doutor deixou dinheiro...

Coisa de cumpincha saliente, qualquer um percebe á primeira vista. Provocação para aposta por fora, “o doutor deixou dinheiro, é tudo comigo, quem se habilita?” Uma bagaceirice simpática, enfim, que virou moda no prado, onde ninguém contesta mais ninguém a não ser na base do suposto dinheiro que o suposto doutor teria deixado para quem ousasse duvidar dele.


Adroaldo e Ricardo Martins Lino recepcionam
a égua Greiba

Na terça-feira da semana passada eu estava lá, Pedro Nunes batia seu serviço para a revista, na Secretaria do Jockey, enquanto o guri Guerra rodava por perto drapejando a bandeira do Uleanto. Ele falava, eu e os outros escutávamos, o Pedro Nunes seguia trabalhando quieto. Vocês sabem, perguntou o guri Guerra, quando é que o Uleanto vai perder de novo para o El Supremo? Ele mesmo esclareceu depois da pausa competente que a resposta era “nunca” e foi então que o Pedro Nunes, de olhos pregados na máquina, afetando um alheamento pelo qual eu não pagaria duzentos réis, falou: “o doutor deixou dinheiro”...

Êpa! Os circunstantes afastaram-se prudentemente e os dois “kids” se encararam. Como se esperava, o guri Guerra sacou primeiro: O que vai ser?

- Uma picanha no Barranco, aperitivo e chope até rachar o bico.

- Tá bom para mim.

- Se quiser mais, é só dizer...

Fui contar o episódio para um amigo meu, cara que não tem dois anos de prado e ainda há pouco, eu me lembro, falava naquela linguagem canhestra dos não iniciados, “joguei o marrom e entrou a dupla 42”. Mas quando manifestei que eu era mais Pedrinho na parada com o Guerra, “big suprise”; ele olhou para as pontas dos sapatos como se naquele momento tivesse notado que os calçara trocados e falou: “O doutor deixou dinheiro”...


Uleanto completa o cânter do Bento Gonçalves de 1976

Contei até dez. Mas será que nestas fitas eu devo ser sempre o irmão covarde da mocinha? Não desta vez!

Na falta de uma ideia melhor, olhei para os meus sapatos, que de resto estavam em ordem e acionei a partida: O dinheiro deste teu doutor dá para uma caixa de escocês?

- Dá pruma caixa.

- Caixa de seis?

- Tanto faz.

Parei para fazer minhas contas mentalmente, cento e sessenta, vezes seis... O Crápula que, segundo tudo indica, esteve lendo dentro da minha cabeça, acrescentou: de supermercado.

Então eu arranquei calmamente o punhal que ele acabava de me cravar no baixo ventre e respondi perguntando, num fio de voz: “De onde mais seria?”.

O dono do saloon que naquela altura estava vazio começou a empilhar cadeiras e apagar luzes. Duelo sacramentado, despedimo-nos em silêncio, duzentos e oitenta, vezes seis... seis vezes zero, zero, seis vezes oito, quarenta e oito, vão quatro, seis vezes dois, doze, com quatro dezesseis. Quase 1.700 cruzeiros, uma caixa, com quem fui me meter...

por Benito Berutti (1926-2007)

Esta crônica do Benito ilustra o imaginário e consagra o turfe. Expõe o autor ao lado de notáveis escritores e artistas, empolgados pela inesgotável temática turfística, que transportam fatos reais para a ficção de maneira magistral, com estilo próprios, épocas distintas, mas peças que forma o mosaico da literatura universal.

Rodolfo Di Diego, falecido na primeira metade da década de 2000, o “Doutor em prognósticos” como concedia aos amigos, ou simplesmente “Doutor”. Personalidade marcante no turfe gaúcho e nos meios intelectuais e políticos de Porto Alegre. Honesto ao extremo emprestava sua solidariedade aos amigos em qualquer situação, sem qualquer vantagem pecuniária, sempre com disposição, um sorriso e uma frase espirituosa com requintes de erudição, muito embora sua formação escolar básica. Não dispensava a “fatiota”, mesmo que modesta. Romântico e sonhador desprezava o “achaque” e a vantagem vulgar.

Adroaldo Guerra Filho – carinhosamente tratado por Benito como “Guri Guerra”, é um protagonista do turfe gaúcho desde a infância; jornalista, foi editor de turfe do jornal Zero Hora durante os anos 80, atualmente é Colunista do jornal Diário Gaúcho, comentarista de futebol e integrante do programa Sala de Redação, da Rádio Gaúcha, e do Bate-Bola da TVCOM, do Grupo RBS.

Uleanto, bicampeão do GP Bento Gonçalves 75/76, filho de Desert Call (FR) por Klairon (FR) ) em Flicka (BRZ) por Flamboyant de Fresnay (FR) por Pharis (FR)., de criação do Haras Jaú-Rio das Pedras.

El Supremo, Elpenor (FR) por (Owen Tudor (GB) em Estupenda (BRZ) por Estoc (FR) por Jock (FR), de criação do Haras do Arado de Breno Caldas.

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