Jeane Alves

Jeane Alves
Vitória de G 1 com Equitana

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Floreando, por Milton Lodi

Planejamento de corridas


A detestável rotina à qual se submetem os jóqueis costuma ser responsável por derrotas e/ou performances disparatadas. É comum mesmo os melhores jóqueis jogarem fora às chances de seus pilotados pela falta de um planejamento adequado a cada páreo e em função dos méritos de seus cavalos e os de seus pilotados. A idéia de correr páreos curtos na frente e longos atrás, adotada pela grande maioria dos profissionais, é rigorosamente falsa, errada. Os cavalos conseguem correr sem respirar no máximo por 700 ou 800 metros, quando superacelerados como nas “pencas”, eu diria até uns 500 metros. Para tomar fôlego, para poderem renovar o ar nos pulmões, têm que diminuir a velocidade, e aí vêm os que respiraram até então por não terem sido exigidos ao máximo desde a partida e ultrapassam os precipitados. Da época anterior e na presente, dois exemplos dentre os muitos podem ser lembrados. O fantástico Mensageiro Alado, o melhor velocista de sua época e talvez o melhor de todos os tempos, ganhou quase todas as suas provas de velocidade correndo por volta do 4° lugar, e atropelando a partir da segunda metade da reta.

Na época atual, o melhor velocista é Desejado Thunder, quase imbatível em páreos de 1.000 metros, e que também corre colocado na primeira parte do percurso, e só é acelerando do meio da reta para o final. É simples de entender, enquanto os outros disparam loucamente querendo assumir a liderança sem respirar em corrida desabalada, o mais inteligentemente corrido acompanha respirando, e nas proximidades do disco os “afobados” têm que respirar enquanto o bem corrido os ultrapassa. Dá pena ver jóqueis ditos bons jogando fora páreos incríveis, já largando com toda a velocidade possível, e terem que por isso de se entregarem no final, e a eles injustamente serem atribuídas às derrotas, que na verdade são dos jóqueis que não raciocinam ou fruto de ordens equivocadas dos treinadores e/ou proprietários. Os cavalos dão tudo que podem, exigidos ao máximo desde a partida por jóqueis inconscientes, e quando diminuem para o necessário “respiro” apanham e são culpados da derrota pelos inconscientes.

O contrário se dá com os páreos longos, como referencia os de 3.000 metros. As caminhadas os galopes diários bem ritmados para “treinar” os pulmões, eventualmente natação, sem pressa, mas galopes contínuos em distancias longas, e uma ou outra “partida” para exercitar a musculatura em movimentos rápidos, e correr com os “pulmões”, isto é, na frente ou entre eles, em ritmo bom mas moderado, sem exageros nem “preguiças”, ritmo adequado à capacidade individual. Assim se ganha as boas corridas em distancias maiores. Mais recentemente, Xin Xu Lin venceu o Derby Paulista e o Pellegrini correndo na frente. Na primeira dessas provas, correu na ponta e na reta livrou grande vantagem, e na Argentina, impiedosamente perseguido desde a largada, na metade da última reta quando com ele emparelharam, aí funcioram os seus pulmões e exigido pelo seu inteligente jóquei livrou significativa vantagem quando se imaginava que diminuiria ritmo. É claro que Xin Xu Lin é um caso muito especial pela sua alta qualidade, mas o raciocínio é válido, é correto.

Corridas de cavalos não são matemáticas, ganham cavalos que correm na frente em páreos curtos e quem corre de trás em distancias maiores. Mas isso depende de circunstâncias, não é a regra, o raciocínio lógico.

Ganhei por duas vezes o Grande Prêmio Consagração, a terceira prova da tríplice-coroa paulista, em 3.000 metros, com San Pablo e Goethe, ambas de ponta a ponta, e nas duas vezes, quando os de trás atropelaram San Pablo e Goethe aumentaram as suas vantagens.

A ciência está no ritmo adequado ao cavalo e à distância, não exagerar nem ficar dependendo de um tremendo esforço para descontar a desvantagem após cumprir um longo percurso.

Além da qualidade intrínseca do corredor, do seu preparo e a adequação à distância, o que prepondera é o ritmo, se os da frente estão em velocidade natural, normal, ou exigidos, e os de trás em distância compatível para que possam tentar alcançar os da frente.

Durante um páreo na Inglaterra, perguntaram a um turfista onde se colocara Lester Pigott na carreira, e a resposta foi simples, “se o ritmo está suave ele certamente está entre os primeiros, se está regular ele está no meio do pelotão, e se o ritmo está forte Piggott está entre os últimos”. Os bons jóqueis têm noção da velocidade.

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