Jeane Alves

Jeane Alves
Vitória de G 1 com Equitana

sábado, 30 de abril de 2011

Entrevista com o proprietário do Haras Regina Sergio Coutinho Nogueira


Sergio, sua filha Maria Cecília e seu genro Luis Daniel no Jockey Club de São Paulo

O proprietário do Haras Regina Sergio Coutinho Nogueira, concedeu uma entrevista ao Raia Leve, contando os detalhes da sua honrosa trajetória no turfe. Herança de família, o amor pelos cavalos de corrida na vida do Sr. Sergio vai além de um simples hobby. "A minha trajetória no turfe é antiga, talvez até além do que eu consiga me lembrar, uma vez que o amor pelos cavalos de corrida vem de família".

RL: Conte-nos sobre a sua história... Com que idade o amor pelo cavalo de corrida nasceu? É uma tradição familiar? Com que idade o senhor começou a participar de verdade do turfe?

SC: São 2 valores que meu pai transmitiu de forma forte: amor à família e aos cavalos de corrida. Eu e meu irmão Toni seguimos a trajetória familiar de ligação aos cavalos de corrida, tradição esta que já vem de meu tio avô José Paulino Nogueira com quem tive o prazer de conversar várias vezes.

Me lembro de aos 5 anos (idade mínima que era permitido ingresso ao Jockey) eu ir ao prado e tirar fotos com cavalos de meu pai que àquela altura corriam em nome de José Bonifácio Coutinho Nogueira e com a farda vermelha e preta em listas verticais que hoje o Haras Regina usa. Depois, ao criar o Haras São Quirino meu pai passou a adotar a farda laranja e verde que permanece até hoje e é usada por meu irmão Toni.

RL: Quando surgiu o Haras Regina? O que motivou sua criação?

SC: No final da década de 60, adquiri um cavalo em corrida de meu pai e o coloquei em nome de Haras Regina (nome de minha avó, mãe de meu pai e de minha irmã). Depois fui tendo um ou outro cavalo quando era possível ao jovem ter. E tive um cavalo de boa qualidade, Ianelli, filho do Viziane, que venceu provas de Grupo na milha (o Haras Regina sempre deu sorte em milhas).

No ano de 2005 retomei o Haras Regina em outro ritmo e hoje temos mais cavalos do que imaginávamos até em momentos de pensamentos exagerados. Hoje temos éguas alojadas no São Quirino e Santa Ana do Rio Grande como pensionistas e desde 2007 estamos criando.

RL: Qual foi, ou é, a sua maior e mais prazerosa alegria no turfe?

SC: O Maior prazer do turfe? O turfe dá tanto prazer que eles apesar de não serem tantos, nos fazem esquecer todos os dissabores. A corrida que mais me lembro é o Derby Paulista de 1960 quando o Garboleto (pule de 59 por 1) filho de Pharas e Garbosa Bruleur, criação do São Quirino ganhou de forma impressionante. Assisti do estacionamento do Jockey pois o Presidente Jânio Quadros havia proibido o ingresso de menores de 18 no hipódromo e eu tinha apenas 10 anos.

RL: Quais foram e quais são as maiores dificuldades enfrentadas por um proprietário. Existe hoje, uma soma maior de barreiras e obstáculos para seguir no turfe?

SC: Barreiras e dificuldades e cavalos de corrida sempre estiveram e estarão muito ligados, pois os espinhos são em maior quantidade que as pétalas da rosa, mas o perfume que ela exala sempre superará as gotas de sangue derramadas por algum espinho desapercebido. A cada vitória e alegria esquecemos as dificuldades e obstáculos superados. Mas hoje em dia os custos de manutenção dos animais em corrida criam dificuldades que só a amor aos cavalos de corrida dá forças a superar.

RL: O senhor concorda com o que tem sido dito, que as administrações atuais contrariam de fato os interesses dos proprietários?

SC: Não concordo com a generalização de que as administrações ferem os interesses dos proprietários, até porque quando há união no turfe, quem lhe causa mal é expelido do sistema como ocorreu em São Paulo nas últimas eleições consagrando de forma avassaladora uma chapa dominada amplamente por turfistas de todos os quilates.

Temos que fazer a análise no tempo certo e real. A atual gestão do JCB muito criticada por vários turfistas foi sem dúvida alguma a que mais benefícios gerou nos últimos anos: raia de grama, photochart, cerca móvel, piscina, starting gate e agora promessa de uma nova iluminação. Sem entrar no mérito da gestão que desconheço pois sequer sou sócio do JCB, temos que reconhecer pelo menos os investimentos feitos.

RL: Olhando para o passado, o que lhe faz sentir saudades?

SC: Saudades? Difícil dizer, em termos de turfe dá saudades de ver o hipódromo cheio, muitos aficionados, amigos, mas os tempos são outros. Hoje em dia nem a paixão nacional, o futebol, enche os estádios, exceto nos grandes clássicos regionais e nacionais. Dou um exemplo básico, nos Jogos Olímpicos o esporte mais assistido pela TV e pelos espectadores é o atletismo e no entanto vá à uma competição normal de atletismo e verá que excetuando os atletas, familiares e amigos, poucos comparecem, pelo menos em nosso País. Hoje há inúmeras outras opções de lazer sobretudo aos jovens que tanto fazem falta ao nosso turfe.

RL: Qual o melhor animal que o senhor já presenciou correr?

SC: Difícil falar do melhor animal que vi correr, mas acho que ficaria com o Farewell. Apesar de que na época eu tinha apenas 9 anos. Mas depois destaco alguns: Quari Bravo, Emerald Hill, Off The Way, Immensity, Dono da Raia, Itajara, Much Better, Duplex , Quartier Latin e Too Friendly (um monstro na milha). Enfim, em geral assiti muito mais corridas em São Paulo e pouco ia ao Rio, até que recentemente virei um proprietário mais carioca do que paulista.

RL: Qual foi e qual é o melhor jóquei da atualidade?

SC: Difícil apontar o melhor jóquei, mas como o Dalto Duarte é nosso jóquei e tenho por ele profundo respeito e admiração, fico com ele.

RL: E treinador?

SC: O melhor treinador eu diria que é o Roberto Solanes, que além de jovem, vem mostrando a cada dia mais competência. Tenho muito respeito e admiração pelo Venâncio também. Mas jamais deixaria de citar o Altahyr de Oliveira que mesmo aos 81 anos é o treinador do Regina em Cidade Jardim e nesta semana, mesmo tendo sofrido uma cirurgia em março, retornou à atividade, um exemplo de determinação e competência. E seu cartel já fala por si só.

RL: Qual foi ou é seu maior xodó (cavalo ou égua)?

SC: O meu maior xodó? Não dá pra falar de um porque cada um tem seu tempo, mas cito Hurry Up, Snack Bar, e agora sem dúvida a Olympic Message, tanto que fico adiando a ida dela para o exterior para poder vê-la correr mais um pouquinho aqui pertinho.

RL: Quais são seus maiores desejos no turfe?

SC: Maior sonho ou desejo? Se fosse ganhar uma Milha Internacional eu já estaria triplamente realizado, mas Um Derby é e será sempre um Derby. Assim como um Diana será sempre um Diana.

RL: Para o senhor, o que realmente movimenta o turfe atualmente, dinheiro, tradição, paixão ou vaidade?

SC: O que move realmente o turfe atualmente? Se fosse o dinheiro já estaríamos fechados, pois hoje é impossível nos mantermos com estes prêmios, custos e preços de superavitário na atividade, ainda mais agora com os preços internacionais também em baixa. Tradição? Também não, a única coisa que se mantém pela tradição é a monarquia inglesa. Paixão? Diria que sim, pelo menos no meu caso e no de diversos outros, mas em alguns casos é vaidade também.

RL: Para finalizar, Quais são suas expectativas para o futuro do turfe no Brasil?

SC: Em termos de qualidade de criação acho que evoluímos muito e temos dado provas disso mundo afora, e sobretudo recentemente quando vários cavalos importantes vieram em Shuttle: Elusive Quality, Sinndar, Refuse To Bend, Shirocco, Manduro, além de outros do passado como Royal Academy, Spend a Buck e etc.

Acho que se profissionalizarmos as gestões dos Jockeys, trabalharmos de forma unida e única (não só com a pedra única) o futuro será bem melhor. Será que a melhor forma, mais racional e mais lucrativa seria fazermos corridas nos mesmo dias em São Paulo e no Rio? Experiências como Argentina e Chile dizem que não. Mas sem trabalharmos em uma gestão unida e pensamento único nunca poderemos saber.

Desde então, aguardemos e façamos com que o futuro do turfe seja literalmente o desejo dos que realmente amam o esporte.

por Eluan Turino

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