Jeane Alves

Jeane Alves
Vitória de G 1 com Equitana

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Exportação: uma aventura inesquecível - História do Turfe


Alpino, na sua vitória nos Estados Unidos

Esta foi uma aventura de um grupo de brasileiros que com esta empreitada tentou influir no processo de abertura do mercado norte-americano para o cavalo brasileiro PSI e sua participação na superação do nosso complexo de vira-latas.

Primeiramente gostaria de prestar a minha homenagem ao treinador Walfrido Garcia sem quem esta empreitada não seria possível e agradecer a família Arcangeli, bem como todos os outros profissionais e proprietários que conosco participaram desta idéia romântica (ou seria maluca?).

Há exatos 25 anos, Alessandro Arcangeli e eu, encontrávamo-nos no aeroporto de Los Angeles esperando o avião de cargas da Varig que trazia os nossos primeiros 6 cavalos vindos do Brasil.

Tudo começou quando em uma manhã de abril de 1983, Walfrido Garcia me ligou para ir à cocheira. Lá chegando encontrei além de Walfrido, o Max Arcangeli.
Walfrido então disse pelo que ele havia visto na sua recente viagem para correr Duplex no Arllington Million (o páreo de grama mais importante dos EUA na época), que se os cavalos brasileiros fossem levados de maneira profissional para lá obteríamos sucesso. Que Duplex poderia perfeitamente levantar o páreo que ele foi disputar se lá se encontrasse há mais tempo.

Em pouco tempo, 6 pessoas só falavam deste assunto: os Arcangeli (Túlio e seus filhos Max e Alessandro), os Polacow (meu pai Marcos juntamente comigo) e o próprio Walfrido.

Resolvemos, então, nos unir e ir adiante.

Uma pergunta de cara colocava dúvida quanto ao nosso desempenho: Os nossos cavalos corriam 1.400m na areia em 86 segundos e os americanos em menos de 81 segundos. Como explicar tal diferença?

Muitas outras perguntas teriam de ser respondidas, tais como:

Para onde ir? Como arrumar cocheiras? Qual o tempo e como proceder durante a aclimatação? Aonde fazer a quarentena? Qual a localização ideal considerando-se o clima? Aonde os cavalos brasileiros poderiam correr? O que seria de fato um páreo de claiming? Aspectos legais quanto a impostos e vistos.

Após viagens de estudo (nesta época não existia nem fax, quanto mais internet e outras tecnologias, e as informações que chegavam normalmente eram imprecisas), descobrimos que poderíamos creditar os 5 a 6 segundos de diferença entre os tempos praticados entre nós e os americanos, a diferença de sistema de marcação, dureza das raias americanas, peso dos jóqueis e inclinação nas curvas. Sentimos confiança que nossos cavalos poderiam correr 1.400m na areia em 81 segundos.

Respondidas as outras perguntas, optamos por Los Angeles, que contava com 3 hipódromos de ponta, corridas o ano todo e ótimo clima. Além do centro de treinamento de San Luis Rey Downs, cuja pista foi totalmente copiada do hipódromo de Santa Anita.

Ao visitar este centro de treinamento falamos com seu proprietário, Frank Wessels, que riu ao saber que queríamos cocheiras para levar cavalos brasileiros. Chegamos mesmo a discutir. Para minha surpresa quando já estávamos de volta, fui acordado por um telefonema de Wessels dizendo que estava curioso para saber o que iria acontecer. Os boxes estavam disponíveis.

Fomos então, já mordidos pela mosca do desafio, arrumar cavalos para tal empreitada. Para tanto, convidamos duas pessoas da mais alta qualificação e que prontamente aceitaram; Samir Abujamra e o jóquei Albenzio Barroso.

Após muito trabalho de todos, conseguimos 6 cavalos que se não eram os ideais, eram os possíveis: Alpino (Fazenda Mondesir), Eloah (Haras São José e Expedictus), Epson Downs (Haras Pindorama), Maybe This Time (Haras Scotland), Last Tango (Stud Gege), Candelabro (sociedade entre Luis Alvarez e nós).

Chegamos, então, ao dia 6 de fevereiro de 1984, no aeroporto de Los Angeles, e quando o treinador Luis Urbina (que acompanhava os nossos cavalos) acenou do avião dizendo que tudo havia corrido bem, a nossa emoção foi diferente. Um misto de realização e ansiedade.

Os cavalos foram levados para o centro de treinamento de San Luis Rey Downs e passamos a fase de aclimatação e treinamento. Nossa equipe era composta além dos já citados Walfrido, Barroso e Urbina, por Eduardo Garcia, D.L.Albres, J. Lima, D. Albres, entre outros.

Tivemos a sorte de conhecer o brasileiro Fabio Nor que era treinador em Los Angeles e que nos ajudou demais.

Ao longo dos meses de fevereiro, março, abril e maio os cavalos foram se preparando para a estréia:

Quando Alpino em junho de 84 adentrou a raia, enquanto o painel luminoso saldava os brasileiros Barroso e Walfrido Garcia e suas milhares de vitórias, o Racing Form escrevia depreciativamente a respeito de Alpino “DE QUE PLANETA VEIO ESTE”.

Epson Downs viria a obter em Hollywood Park a nossa 1ª vitória, após um sexto e um quarto lugares. A alegria foi intensa e a vitória foi noticiada pelos jornais (naquela época haviam páginas sobre turfe nos principais jornais brasileiros) tanto daqui como americanos. Esta vitória tirou a nossa angústia e nos deu confiança.

Após a vitória de Epson Downs, Last Tango venceu em sua segunda apresentação (a primeira havia sido na grama) em um forte claiming em 1400 m na areia em 1m e 22 seg., por mais de 5 corpos.

Alpino que trabalhava muito bem, não havia corrido a contento em suas 2 primeiras tentativas em raia de grama. Decidimos tentar a areia e após 1 segundo lugar veio a esperada vitória em um allowance em Hollywood Park, em 1700m por 8 corpos de diferença. Walfrido havia pego o jeito da coisa. Os cavalos estavam tinindo.

Cada corrida era cercada de muita expectativa, chamávamos atenção de muita gente e Maybe This Time e Candelabro foram claimiados logo em suas primeiras apresentações. (estes 2 cavalos e mais Last Tango já tinham 7 anos e estavam muito enturmados, só podendo correr claimings ou provas muito fortes)

Com o término das corridas em Hollywood Park e a transferência das corridas para Del Mar, já nos sentíamos altamente satisfeitos com os resultados obtidos.

Neste hipódromo, Epson Dows viria a ganhar um forte allowance sendo negociado em seguida.

Alpino viria a ganhar outro allowance. Logo após esta vitória, o handcappeur do hipódromo de Del Mar, Tom Robbins, nos chamou a sua sala convidando Alpino a participar de um steaks restrito a animais de qualidade. Sentimos neste momento que ninguém mais perguntaria “de que planeta veio este?”.

Terminada a temporada de Del Mar, o nosso projeto de provar para nós mesmos a nossa real qualidade estava concluído.

Walfrido então manifestou o desejo de voltar ao Brasil, dizendo que se dava por satisfeito e que o caminho para as vitórias em provas de grupo viriam a ser obtidos por cavalos melhores e mais novos do que os que havíamos levado.

No total foram 5 vitórias e 16 colocações em 25 apresentações entre junho e setembro de 1984 , em um dos 2 mais concorridos circuitos dos EUA.

Epson Downs viria a ser stakes winner em Hollywood Park, levantando mais de U$300.000,00 em prêmios.

A história fez justiça e os 3 primeiros brasileiros ganhadores de provas de grupo nos EUA: Indian Cris, Steff Graf e Romarin foram criados por haras que estavam diretamente relacionados aos seis cavalos que desceram em Los Angeles em 6 de fevereiro de 1984.

Ao encerrar gostaria de destacar a participação de Antonio Joaquim e Paulo César Peixoto de Castro Palhares, de Linneo de Paula Machado, tanto do pai como do filho, dos amigos Humberto Scarano e Antonio Grisi, bem como de Sergio Malzoni e Luis Alvarez, proprietários dos cavalos e que também foram protagonistas nesta empreitada maluca (ou seria romântica?).

por José Luiz Polacow
postado Site Raia Leve

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