Jeane Alves

Jeane Alves
Vitória de G 1 com Equitana

sábado, 31 de julho de 2010

JORGE RICARDO, GRANDE AUSENCIA


Jorge Antônio Ricardo, o profissional mais vitorioso do turfe brasileiro em todos os tempos, não vai participar da festa do Grande Prêmio Brasil deste ano. Ricardinho lamenta o fato e admite que a falta de montaria com chance de brigar pelo triunfo foi o maior impedimento. No dia da maior prova do turfe nacional ele estará no Hipódromo de La Plata para conduzir Sipan-Bagh, do Stud Rubio B, na Polla de Potrillos.

“Sou jóquei contratado da coudelaria e para pedir a minha liberação teria que ser para montar um dos favoritos. Lamento não participar do evento por que sei da importância da minha presença na divulgação da prova, mas fica para outra oportunidade. Vou torcer por um dia bonito de inverno, com o prado lotado e o sucesso de todos os envolvidos”.

Ricardo considera-se adaptado de forma definitiva ao turfe argentino. O recordista sul-americano de vitórias sente-se lisonjeado por ter conquistado espaço no turfe mais competitivo e poderoso da América do Sul. No momento, ele ocupa a primeira posição na estatística geral de jóqueis nos três hipódromos, mas perde para Pablo Falero, nos dois principais, Palermo e San Isidro.

“Levo vantagem no geral por que ele praticamente não monta em La Plata e eu já tenho quase 50 vitórias lá. Em San Isidro, ele está mais de 30 vitórias na minha frente e em Palermo apenas duas. A parada é muito difícil. Além de o Pablo Falero ser um grande jóquei, ele está radicado ao turfe argentino há muitos anos. Monta para os principais treinadores e eu apenas para uma meia dúzia. Consigo muitas montarias dos cavalos de fora, das províncias, que vêm correr aqui em Buenos Aires”.

Ricardo afirma que o turfe argentino vai de vento em popa, com bons prêmios e muita divulgação na mídia. Antes da virada da idade, os páreos de potros de dois anos pagavam cerca de US$ 12 mil para os proprietários. Agora, com três anos, o prêmio caiu para US$ 10 mil, o que ainda é muito bom. Com relação à mídia então nem se fala.

“Aqui temos cobertura diária do Clarin, La Nacion, Crônica e Diário Popular. Para os estudiosos temos as revistas La Blanca e a La Rosa, com o retrospecto e os treinos dos cavalos nos dois hipódromos. A ESPN Internacional possui um programa semanal nas quintas-feiras, às 19h. E repete o programa a meia-noite. Além disso, fazem cobertura dos clássicos mais importantes do calendário. Na TV a cabo há um programa no canal 505, chamado Campana de Largada, que passa o VT de todos os páreos da semana”, esclarece.

As reuniões turfísticas argentinas são organizadas de forma criteriosa, segundo Ricardinho. São 10 programações por mês para cada hipódromo. La Plata tem corrida às terças e quintas. Palermo todas as segundas, e San Isidro, as quartas. As reuniões de sexta, sábado e domingo são alternadas entre os três hipódromos. “O turfe de La Plata cresceu bastante, os prêmios melhoraram e por isso tenho montado lá. A pista não me agrada muito, mas o Stud Rubio B sempre dá sorte e ganha bons páreos”.

Jorge Ricardo lamenta a má fase do turfe brasileiro. Considera difícil o turfe se manter, em qualquer lugar do mundo, sem alguma ajuda do governo ou a liberação das máquinas de caça-níqueis. O campeão brasileiro lembra a crise que quase fechou o Hipódromo de Palermo, hoje em dia o mais forte, por causa das mais de três mil máquinas que funcionam 24h ininterruptas.

“O turfe emprega milhares de pessoas e por isso não acho nada demais contar com a ajuda do governo com algum subsídio. Este incentivo seria normal e mais do que justificado. Com relação às máquinas eu sei que as opiniões por aí se dividem. Aqui não existe polêmica. O turfe mudou com elas. De quase falido transformou-se numa potência. O meu patrão, Ricardo Benedicto, é o dono das máquinas de Palermo. E por isso sei muito bem a força delas”, afirma.

Ricardo reconhece que o estilo de vida e a cultura do povo argentino são bem diferentes do brasileiro. O modo de viver parecido com o modelo europeu leva os argentinos às ruas até altas horas da madrugada. Buenos Aires é uma festa. Os notívagos se esbaldam nos cassinos, casas de tango e boates. Tudo regado a vinho de alta qualidade e uma das carnes mais festejadas de todo o planeta. Ricardinho destaca um fato interessante. Todo dia quando chega para trabalhar os cavalos em Palermo, por volta das 5h da madrugada, se espanta com o estacionamento lotado.

“É a turma das máquinas de caça-níqueis. Eles jogam até o amanhecer. E existem aqueles que dormem cedo e chegam junto com a gente para apostar. O movimento de apostas das corridas é maior do que o do Brasil, mas a diferença é apenas razoável se levarmos em conta que aqui são disputados até 17 páreos numa programação. Num dia fraco, por exemplo, o movimento de apostas fica em torno de R$ 900 mil. No sábado, o dia mais forte nas apostas, chega a R$1,5 milhão. Mas as máquinas não param. Elas faturam sem parar dia e noite”.

Outro aspecto apontado por Jorge Ricardo como bem diferente na cultura turfística dos dois países é a paixão. Em Buenos Aires desde 2.006, Jorge Ricardo ainda se espanta com a vibração dos argentinos. “Às vezes ganho um páreo de animais de seis anos e os proprietários aparecem na raia pulando e dançando como se fosse um Pellegrini. Os criadores estão sempre nos hipódromos e os maiores proprietários também. Isto não acontece no Brasil. Alguns grandes criadores e proprietários só aparecem nos maiores eventos”.

Ricardinho sente falta dos incríveis duelos com Juvenal Machado da Silva. Lembra que sempre foram amigos, se respeitavam e a competição era apenas dentro da pista. Bi-campeão do Grande Prêmio Brasil com Falcon Jet, do Haras Santa Ana do Rio Grande, e Much Better, do Stud TNT, ele não esquece estes momentos. “Falcon Jet fez justiça em 1992. Um cavalo da sua categoria não poderia deixar de vencer o Grande Prêmio Brasil. Foi um triunfo debaixo de chuva e lama para cima do Flying Finn e do Juvenal. Foi uma das maiores emoções que tive no turfe”.

Na opinião de Jorge Ricardo, Much Better foi o melhor cavalo que teve a oportunidade de montar. No ano em que ganhou o Grande Prêmio Brasil, em 1994, ele também conquistou o Latino-americano, em La Plata, o Grande Prêmio São Paulo e o Grande Prêmio Carlos Pellegrini. Os dois craques eram preparados por João Luiz Maciel, segundo ele, um dos personagens mais importantes de sua carreira. Mas Ricardinho também teve derrotas marcantes. O jóquei lembra que já obteve cinco segundos lugares na prova.


“Fui segundo colocado com Bowling, Falcon Jet, Much Better, Evil Knievel e Istbestand. Foram derrotas incríveis. O Grande Prêmio Brasil é uma prova que você perde e ganha do detalhe. Tenho esperança de voltar a vencer este páreo em breve. Quem sabe não será no ano que vem com um cavalo do Stud Rubio B?”.

A cada dia mais próximo do canadense Russel Baze, na luta pelo recorde mundial de vitórias, Ricardinho muda de assunto quando falo em aposentadoria. Ele se diz motivado a montar por muito tempo e não quer falar no futuro ainda. Obstinado, parece que este dia só vai chegar quando recuperar o topo do mundo. Nostálgico, ele admite sentir saudade dos tempos em que começou a montar.

“Lembro da Gávea fervilhando nos matinais e nas tribunas. Os cavalos de manhã nos primeiros raios de sol treinados por Sabatino D’Amore, Mário Mendes, Alberto Nahid, Paulo Morgado, Geraldo Morgado e Expedicto Coutinho. Todos se foram. E os primeiros treinos no Bombril com o meu pai, Antônio Ricardo, querendo me arrancar o couro. Como aprendi naquele tempo. Agora vejo com tristeza toda esta decadência. Às vezes me sinto longe de casa...”

por Paulo Gama

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