Jeane Alves

Jeane Alves
Vitória de G 1 com Equitana

quinta-feira, 22 de julho de 2010

AFONSO BURLAMAQUI TURFE SEM CACA NIQUEIS


Sempre que se mencionam as dificuldades estruturais do turfe brasileiro, aparece alguém oferecendo como única e definitiva alternativa para lidar com a situação a exploração de “loterias instantâneas” nos hipódromos do país.

Parêntese: leia-se por “loterias instantâneas” a permissão para instalação de máquinas caça-níqueis nas dependências dos Jockey Clubs.

Há evidentes erros de enfoque nessa proposta.

Primeiro, porque não é verdade que tenha ocorrido a atração de novos freqüentadores, adeptos do esporte das corridas de cavalos, nos hipódromos do exterior onde essas máquinas forma instaladas.

Quem freqüenta são, pura e simplesmente, os amantes dos jogos de azar.

E não poderia ser diferente, eis que os dois universos, os dois ambientes e os dois tipos de públicos não guardam nenhuma correlação entre si.

Turfe é um esporte secular com liturgia e tradição próprias, onde quem aposta pode medir suas chances de acerto em relação à performance de um ser vivo; máquinas caça-níqueis não vão além de uma loteria de números.

Segundo, porque restou evidente que a ampliação do volume de apostas ligado diretamente à atividade turfística não aconteceu com o advento das máquinas caça-níqueis, como equivocadamente se faz crer.

O que existe é apenas uma espécie de “mesada” paga aos Jockey Clubs locais pelas empresas – geralmente estrangeiras – que exploram as citadas máquinas.

E, diga-se de passagem, em concorrência direta e quase sempre predatória com o turfe e seu mercado específico.

A diretoria da Associação Brasileira dos Criadores e Proprietários de Cavalos de Corridas (ABCPCC), entidade de cunho nacional com centenas de membros, já se manifestou oficialmente no sentido de que não vê a permissão de exploração de máquinas caça-níqueis nos hipódromos brasileiros como solução mágica para os problemas da atividade entre nós.

Ao contrário, não só a ABCPCC como a Associação Paulista de Fomento ao Turfe (APFT) e a Associação Carioca de Proprietários de Cavalos Puro-Sangue Inglês (ACPCPSI) acabam de apoiar as conclusões do relevante estudo desenvolvido pela APFT sobre a atividade turfística no Brasil, denominado “Turfe Forte”.

Nele, estão perfeitamente identificadas as incoerências, as contradições e os gargalos que têm impedido, nestes últimos anos, o normal e sadio crescimento da atividade entre nós.

O futuro do turfe brasileiro, como núcleo de expansão econômica garantidor de milhares de empregos Brasil a fora, passa antes de tudo, como demonstrado no estudo em questão, pela competente gerência das sociedades promotoras de corridas e pela urgente necessidade de se rever o antiquado modelo de sua estrutura de comando e organização.

Antes de se cogitar de máquinas caça-níqueis, é necessário que o turfe e a criação brasileiros encontrem a solução que reequilibre a atividade entre nós, sem perda da liberdade de decidir seu próprio destino.

E sem ter que alienar, sob qualquer forma, um patrimônio e um mercado que custaram décadas e décadas de investimento, de trabalho e de sacrifícios pessoais daqueles que construíram a indústria nacional do cavalo de corridas.

Em lugar de se pensar em cassinos dentro dos hipódromos, é fundamental gerenciar melhor os próprios Jockey Clubs. E isso ficou claro – com uma certeza de ofender a vista – a partir das conclusões do projeto “Turfe Forte”.

Credito -Jornal O Globo
Foto - Karol Loureiro

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