''O Jockey Club de São Paulo tem solução''
ENTREVISTA - Eduardo da Rocha Azevedo, presidente do Jockey Club de São Paulo
02 de abril de 2011 | 0h 00
Ex-presidente da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) e fundador da Bolsa Mercantil & de Futuros (BM&F), o empresário Eduardo da Rocha Azevedo, de 61 anos, tornou-se há 18 dias o novo presidente do Jockey Club de São Paulo, herdando, assim, uma dívida de mais de R$ 150 milhões de Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) e muitos problemas administrativos.
Sócio das Faculdades Campinas (Fecamp), Azevedo, que fez parte da diretoria do clube entre 1999 e 2002, foi eleito em uma disputa acirrada. Ganhou por uma diferença de 228 votos do candidato da situação, Mário Gimenes, apoiado pelo último presidente, Márcio Toledo. Dos 1.332 sócios habilitados a votar, 498 escolheram Azevedo; 270, Gimenes. "Não tenho experiência em eleição em clube, achei que ganharíamos por 100 votos", afirma Azevedo. Agora, ele pretende negociar com a Prefeitura a desapropriação de uma área do clube para a criação de um parque e explica que busca "profissionalizar" o quadro administrativo e mexer no estatuto.
O Jockey deve cerca de R$ 150 milhões de IPTU e tenta resolver há anos uma série de problemas aparentemente insolúveis. O que leva alguém a querer ser presidente de um abacaxi desses?
Minha mulher me pergunta isso todo dia. Considero os problemas solucionáveis. Reunimos uma série de proprietários de corrida para propor uma política administrativa de empresa. Nossa administração vai ser pró-sócio, não para a diretoria aparecer politicamente.
Por onde vai começar?
Pela mudança do estatuto. A primeira missão é uma minuta que preveja um nova postura administrativa para o dia a dia. Hoje você tem diretor geral, diretor financeiro, de jogo, social e não há comunicação. Quero transformar aquilo em empresa. Você acredita que o diretor executivo não pode assinar cheque? Já viu isso? É o melhor emprego do mundo: o sujeito é presidente, manda, mas não tem responsabilidade nenhuma.
O senhor foi presidente da Bovespa (1882/85-1987/90) e fundou a BM&F (1986). Acha que a experiência no mercado financeiro pode ajudá-lo no Jockey?
Na época eu era muito jovem, tinha 31 anos, e aquilo era novo para mim. Então, instituí um diretor executivo, que era o Horácio de Mendonça Neto, que profissionalizou os quadros. Percebo que, sem profissionalizar a administração do Jockey, a coisa não vai andar. Ali, cada diretor manda na sua área, é uma confusão. Precisa organizar.
E em relação à dívida?
Estamos ainda tomando pé da situação, vendo o que foi julgado, o que está sendo negociado. Vamos fazer uma auditoria para tomar ciência de onde estamos entrando.
O que vai ser feito na Chácara do Ferreira (também conhecida como do Jockey)?
Não tenho a menor ideia. Sei que são 150 mil m², a 400 metros da estação do metrô, é um terreno que vale bastante dinheiro e que temos para negociar a dívida com a Prefeitura. Vamos ver quanto desse terreno está arrendado para a Prefeitura, quanto dá para negociar.
E em relação às corridas? É possível contar com a receita?
O Jockey já teve 30% sobre o cavalo vencedor; hoje, tem 27%. Com a tecnologia, o jogo de cavalo é feito pelo computador no mundo todo. No Japão, as pessoas jogam pelo celular, no trem. Não há jockey no mundo que tenha mantido o faturamento de 20 anos atrás.
Para um clube tão tradicional, o preço do título (R$ 5 mil, em até 10 vezes) parece atraente?
Vamos mudar isso. O Jockey tem um patrimônio de R$ 2 bilhões e pouco mais e 10 mil títulos patrimoniais. Se dividir R$ 2 bilhões, dá R$ 200 mil.
Mas é um clube endividado. Por que deve tanto?
Há 6 anos, o Jockey tinha 5 mil sócios pagantes. Hoje, são 1.302. O turfe dá prejuízo. É preciso equilibrar o clube como um todo. Tem de ir na causa dos problemas.
O senhor já esteve na direção do clube em 2000. Por que não conseguiu resolvê-los?
Essa é uma pergunta que eu me faço também. Tínhamos um terreno em Jaguariúna que foi vendido para pagar o emergencial. Mas existem barbaridades administrativas no clube. Da dívida que havia de IPTU, digamos, R$ 50 milhões, cerca de R$ 18 milhões foram tramitados e julgados. Na época, com os "refis" (Programa de Recuperação Fiscal, pelo qual se promovia a regularização dos créditos da União decorrentes de tributos e contribuições com vencimento até 2000), caiu para R$ 4 milhões. Ou 100 prestações de R$ 40 mil. Só que, se deixassem de pagar uma, a dívida voltava à estaca zero. Uma das administrações deixou de pagar.
E em relação à desapropriação que a Prefeitura pretende fazer da sede do clube, para criar um parque?
Ainda não parei para pensar nisso. O primeiro passo é fazer uma auditoria interna e procurar a Prefeitura para negociar. Mas com responsabilidade. Não é ir lá, negociar em não sei quantos anos e não pagar a primeira prestação.
Acha que vai ser fácil negociar com a Prefeitura?
O Jockey é dos sócios, não da Prefeitura. Tem 600 m² à beira da Marginal. Quanto vale? Se, por um lado o Jockey deve R$ 150 milhões, como eles dizem (nossas contas são diferentes), esse terreno vale muito mais hoje. Foi doado pela Cia. City inglesa, que loteou a região, com a condição de promover corrida de cavalos puro-sangue ingleses.
Pretende continuar alugando espaços para eventos?
São contratos longos, tenho de manter. Mas a auditoria deve nos dizer se há prejuízo nesses contratos. Aí, vamos sentar e conversar.
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