Jeane Alves
domingo, 23 de janeiro de 2011
Joquetas, Páreo Duro
Elas são minoria, mas nem por isso deixam de fazer frente à concorrência. As joquetas que trabalham no Jockey Club de São Paulo não estão brincando.
"Eu sonho em correr lá fora", afirma a cearense Jeane Alves de Lemos, de 21 anos, nascida e criada na pequena Acopiara, município com pouco mais de 51 mil habitantes.
Jeane é uma desbravadora da profissão. Quando chegou à escolinha, em 2008, havia outras três meninas tentando a sorte: Aderlândia, Josiane e Halethéia. Hoje, elas são seis entre os 50 atletas da casa.
Ser jóquei exige muito sacrifício. São necessários dois anos de curso, que inclui trabalhos em pista em dois períodos, além de quatro horas de aulas de alfabetização. E ninguém pode retornar para os dormitórios depois das 22h.
Mas a formação básica é apenas a primeira barreira a ser superada. "Existe preconceito. Acham que temos menos força física para lidar com os cavalos. Ouvi várias vezes que isso não era trabalho para mulher", lembra Jeane. "E é ainda pior para quem não conhece os proprietários", diz ela, que tem contrato com o Haras Moema.
Desafios - O caminho até essa conquista não foi fácil. Primeira mulher a vencer o GP 24 de abril - páreo do Grupo 1, a mais alta graduação do turfe ?, Jeane construiu carreira invejável como aprendiz (recorde de 137 vitórias) e profissional (155). Mas, quando tudo parecia estar encaminhado, quebrou o braço direito e precisou colocar uma placa com oito pinos. Foram três meses parada e um retorno cheio de ansiedade. "Você fica com medo de não conseguir voltar e os outros acham que você não tem condições."
A vitória no GP 24 de abril, em 2010, resgatou a confiança, reforçada por outra conquista de Grupo 1 na semana seguinte.
Porém, pelas exigências da própria profissão, as joquetas lidam com outro inimigo diário: o controle de peso. Com 1,60 m e 52 kg, Jeane não pode vacilar com a balança. Por isso, aboliu o chocolate do cardápio e nem frequenta mais academia, pois estava ganhando muita massa muscular.
"Manter o regime é o mais difícil", admite a atleta, que entra em ação nesta terça-feira, no GP Presidente do Jockey Club. No mesmo dia, será realizado o GP 25 de Janeiro, que celebra os 457 anos da capital paulista.
Rivalidade é desafio extra para joquetas
Como se não bastassem os obstáculos normais da profissão, as meninas do Jockey Club de São Paulo ainda enfrentam um adversário interno de respeito: a rivalidade entre elas. "Não somos unidas, há muita concorrência entre nós. Eu mesmo falo com poucas delas", reconhece a joqueta Jeane Alves de Lemos.
Mas, ao contrário daquela brincadeira com fundo de verdade segundo a qual muita mulher junta não pode dar certo, o psicólogo João Ricardo Cozac, presidente da Associação Paulista de Psicologia Esportiva, considera esta ideia uma bobagem.
"Homem trabalhando com homem também não é fácil", afirma o especialista. "Existe a crença nessa dificuldade feminina, mas não é por isso. Sempre que você envolver um grupo no relacionamento, haverá demandas específicas a serem trabalhadas."
Para Cozac, é a competitividade que torna essa dinâmica tão complexa e não o temperamento feminino. "Claro que há a desconfiança, a vaidade, os melindres, mas são coisas que surgem pelo caráter competitivo da relação. O importante é buscar sempre alternativas viáveis para uma convivência mais saudável."
A solução para a dificuldade de relacionamento não é mágica. Passa pelo diálogo aberto e pelo respeito interno entre todos os elementos do grupo. "O importante é construir uma relação de auxílio mútuo", diz Cozac.
por Marta Teixeira
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