Engenheiro agrônomo responsável pela reforma e manutenção das pistas do Hipódromo da Gávea, Paulo Nania vem trabalhando intensamente com sua equipe para manter as raias no melhor estado possível para as corridas realizadas no Jockey Club Brasileiro.
Em entrevista ao nosso site, Paulo esclareceu algumas questões relacionadas à conservação da pista de grama.
Em que estágio a pista de grama se encontra?
PN: Por ser inverno, a grama recebe menos incidência de raios solares, devido os dias serem mais curtos neste período do ano, ela se desenvolve menos, por isso, tem menos cobertura vegetal. Normalmente no verão a grama cresce 3 cm por dia, já no inverno, se crescer 0,50 cm por dia é muito. Mas no geral a pista se encontra boa, segura.
Quais medidas vêm sendo tomadas para a conservação das raias?
PN: São muitas. Por exemplo, a gente faz reposição de nutriente via adubação com fertilizante granulado e foliar, hoje, dia 13, para se ter uma idéia, a gente está usando um adubo organomineral que veio da Espanha, e que é utilizado no campo do Barcelona. Utilizamos também um equipamento importado da Holanda, Verti Drain, que descompacta o solo e melhora a drenagem da pista. Utilizamos substrato (top soil) para pisoteio dos animais e rolo compactador para nivelamento da pista.
Em relação à meteorologia, como é usada para auxiliar o seu trabalho?
PN: É feito um acompanhamento em dois sites, o Somar Meteorologia, com o qual o Jockey tem um contrato, e o Climatempo. A gente utiliza como base a previsão de três dias, que é a mais segura. Dependendo da previsão decidimos irrigar ou não a raia.
Na Gávea, há muito tempo não temos corridas na pista leve, a que se deve esse fato?
PN: Pensamos principalmente na sanidade do cavalo, sua vida útil atlética. Tecnicamente pista macia é a mais confortável para os animais, que sofrem menos com claudicações, portanto é a pista recomendada para atividade de corridas de cavalo. Dependendo da meteorologia irrigamos a pista afim de atender essa condição. Na Europa, onde as corridas acontecem em sua maioria na pista de grama, raia macia é uma condição obrigatória nos hipódromos, que são fiscalizados por autoridades internacionais.
Mesmo com a raia macia vem “subindo” muitos torrões de terra e grama quando os cavalos passam. Isso é normal?
PN: No inverno é mais normal e, como disse anteriormente, a pista tem menos cobertura vegetal neste período do ano. Na parada da pista no começo do ano, aproveitamos para corrigir um pequeno desnível no centro da pista, com um material específico, então essa parte ainda não está totalmente consolidada. Quando temos cerca móvel a partir de 7 metros acontece mais. Mas, com o tempo, as coisas devem se normalizar nesse sentido.
Qual a medida aconselhável para desferrar um animal na grama?
PN: Minha preocupação é com a conservação da pista e com a sanidade dos cavalos. Usamos medidas internacionais na manutenção da pista, agora não esta na minha alçada se um treinador deve ou não desferrar um animal.
Você conseguiu normalizar a raia de areia, já que não temos mais o famoso “trilho” pela baliza um e nem mais aquelas diagonais na pista encharcada. Como fez e vem fazendo para conservar a raia boa para todas as balizas?
PN: Foi um grande desafio. Quando cheguei, tínhamos poucos equipamentos e, apesar de muitos funcionários, tínhamos pouca mão de obra especializada e treinada. Hoje temos equipamentos e material humano que possibilitam um melhor manejo da raia. Os problemas que existiam anteriormente, ainda existem, mas, hoje em dia, conseguimos resolver rapidamente, graças aos recursos que nos foram disponibilizados.
O que podemos esperar das pistas do hipódromo da Gávea nos próximos anos?
PN: Uma pista que proporcione maior segurança ao animal e um espetáculo justo e com credibilidade. Gostaria de aproveitar o espaço e fazer um agradecimento especial ao presidente do clube, que vem dando todo o suporte e confiança à equipe das pistas para realização do trabalho. Hoje temos materiais e recursos que não tínhamos antes e devemos isso a sua gestão. Entendemos que novos desafios estão por vir e esperamos estar preparados para enfrentá-los de forma justa e consciente.
Por Celson Afonso
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