Jeane Alves

Jeane Alves
Vitória de G 1 com Equitana

terça-feira, 28 de setembro de 2010

JARDINS SUSPENSOS DA BABILÔNIA



O projeto Jockey Club Boulevard sem dúvida mexeu com a cabeça de muitos turfistas. Pude constatar o fato nas últimas semanas. Em todas as conversas no restaurante da Tribuna Social, na lanchonete, perto do padoque ou na bomboniére do salão de apostas, alguém sempre levantou uma bola sobre o assunto. Entre tantas opiniões divergentes, uma delas, em particular, me chamou a atenção. O libanês Namir Hamdan, radicado no Brasil há muitos anos, e turfista de escol, me surpreendeu com autêntica viagem alucinante a uma das sete maravilhas do mundo antigo.

Freqüentador assíduo dos agentes credenciados e também do prado carioca, Namir mostrou-se apreensivo com o tal projeto. Preocupado com a hipótese de o Boulevard mudar a sua rotina turfística trouxe à discussão suas idéias pessoais. Guloso, compulsivo e sonhador, o popularmente conhecido “Impossível” desfilou planos detalhados de modificações no hipódromo. Suas idéias, a princípio, ecoaram nos meus tímpanos como histórias das Mil e uma noites. Aos poucos, entretanto, percebi que suas preocupações partiam de um coração apaixonado por turfe.

Em primeiro lugar, o projeto de Namir se chamaria “Os novos Jardins Suspensos da Babilônia”, em alusão a uma das sete maravilhas do mundo antigo. A sua preocupação inicial seria com a recuperação das raias do Hipódromo da Gávea e do peão do prado. Segundo ele, a reforma daria condições de trabalho ideal aos treinadores com seus cavalos alojados nas vilas hípicas. Em seguida, recuperaria a raia auxiliar e o peão do prado destruído pelo show de Mariah Carey. Recolocaria em funcionamento o Bombril e a diagonal, aonde os cavalos fazem partidas do boxe.



No peão do prado, Namir escolheu criteriosamente a sua ocupação. A mola mestra seriam atividades rejuvenescedoras do público freqüentador das corridas. Jogos eletrônicos, os games, seriam instalados para atrair crianças e adolescentes. Um Mac Donald, colocado à disposição da garotada, também. Namir acrescentaria ao local uma pequena pista de kart, uma mini-rampa para skatistas, boliche, mini-parque de diversões e uma Lanhouse. Tudo com o objetivo de ocupar o espaço ocioso e ao mesmo tempo trazer os filhos, os netos e os sobrinhos para o Jockey Club ao lado dos adultos.

Depois de seduzir os jovens, Namir falou da necessidade de atrair o público feminino também. Com uma piscada de olho maliciosa, ele sugeriu colocar lojas de moda, artigos esportivos e sapataria, além de um salão de beleza em plena Tribuna Social. E usou argumento convincente. “No Hipódromo da Gávea tem espaço para tudo”.

Namir acha importante a socialização do espaço e as melhorias para os freqüentadores do prado caminhar junto com um turfe forte. A idéia de todos os cavalos ficarem alojados fora do hipódromo lhe parece complicada. “Só a turma de alto poder aquisitivo pode pagar o trato dos centros de treinamento. Se você elitiza o turfe acaba com os pequenos e médios proprietários. Em pouco tempo só realiza uma ou duas corridas por semana”, argumenta.

O projeto de Namir, os Novos Jardins Suspensos da Babilônia seriam concluídos com um asfaltamento das vilas hípicas, limpeza regular do prado, segurança eficiente, melhoria das condições para os cavalos, aumento de prêmios e volta das apostas com possibilidade do turfista levar altas somas. “Hoje, em termos de aposta, o turfe é uma briga entre o gato e o rato. Você não pode admitir uma atividade que receba apostas em que o indivíduo nunca pode levantar um prêmio de valor lotérico. É preciso trazer de volta as apostas com bonificações”.

Comerciante ardiloso, papo agradável e sorriso farto no rosto, o bom Namir é representante da sofrida classe turfística. Nas suas idéias existe aquela ingenuidade popular, mas ela não pode ser subestimada por que vem acompanhada da mais sincera paixão. Provavelmente os seus jardins babilônicos nunca serão suspensos pelos homens que comandam o turfe. Mas a sua atitude de sonhar com melhores dias é sublime como qualquer conto das Mil e Uma noites.

POR PAULO GAMA / RAIA LEVE

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