Jeane Alves

Jeane Alves
Vitória de G 1 com Equitana

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

FÉ NO CAVALO


Muito feio e fora de qualquer padrão ético o comunicado feito recentemente pelo Jockey ClubBrasileiro, ao anunciar a postergação da assembléia que votaria o maior escândalo imobiliário de todos os tempos, afirmando que o projeto em que abraçara valorizaria o patrimônio e o título de todos os sócios do clube.

Engessar uma das áreas mais nobres do mundo ao prazer da especulação imobiliária, e ao sabor de uma única proposta, admitindo publicamente tratar-se de uma área degradada e abandonada a cada dia do mandato da atual diretoria é o caminho mais pobre que se poderia escolher para trilhar.

A “sensibilidade” do adiamento dessa pretensão nada bucólica contra o JCB, denominada “Boulevard”, teve origem na inesperada surpresa da reação negativa da esmagadora maioria dos sócios do clube diante do elefante branco na terra do cavalo que ousaram empurrar goela abaixo de pessoas inteligentes.

Não esperavam os que engendraram a projeto que o quadro social já tivesse esgotado a sua dose de paciência, ao ver, desde as eleições no fatídico maio de 2008, uma administração voltada apenas para projetos paralelos aos cavalos do Hipódromo da Gávea, onde o líder da oposição passou a ser o próprio antecessor que os indicara.

Não contavam também os empreendedores, escolhidos sem qualquer, certame que a maquete preparada por eles viesse a parecer um galinheiro de acrílico, por tentar eliminar as vilas hípicas de um clube hípico, e que o objeto projetado soasse apenas como mais uma dessas cenas de filme de terror.

Cavalos de corrida e narcisismo são elementos incompatíveis, provas de um mandato abstrato que é prolixo no discurso e ineficaz na execução. Árvores abandonadas; pistas destruídas; raias doadas a terceiros; demissões covardes; admissões milionárias; insegurança; privilégio para especuladores; cargos desocupados; eliminação de Ernani Pires Ferreira — tudo é o reflexo do luto de uma tragédia anunciada.

Temos que fazer da derrota desse projeto o emblema dos novos dias; precisamos utilizar essa maquiagem lastimável nos nossos muros com a marca dos infiéis para fazer renascer o clube dessas cinzas amargas. Peço paciência aos profissionais e suas famílias, e que aguentem firmes por mais um pouco de tempo, pois haveremos de demonstrar aos inimigos do cavalo com quantas letras se escreve a palavra “turfe”.

Jéssica Dannemann é criadora e proprietária de cavalos de corrida.

Transcrito do Jornal O Globo - 26/09/2010 - Página 7

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