Vitalino Mestre - GP PRESIDENTES DP JOCKEY CLUB DE SÃO PAULO
AO MESTRE, COM CARINHO
Quando ele chegou do haras para ser domado era um potro grande, muito atento, de cabeça impressionante e extremamente masculina. Sua mãe aos 2 anos havia feito o que é até hoje o mais espetacular trabalho de 1000 metros que eu já presenciei no Tarumã: 1:00.4, pela curva.
O potro castanho nunca trabalhou forte, mas mesmo com sobras sempre demonstrava uma vontade de correr excepcional. Batia com força incomum no chão, o que até nos assustava. Já pronto para debutar, mesmo com facilidade e sem jamais ter sido exigido, passou 1:31:0 nos 1400, nos autorizando a estreá-lo diretamente em São Paulo, e justo na árdua semana do GP São Paulo.
A vitória foi linda, reagindo depois de dominado pelos favoritos (ambos já corridos e posteriormente poli-clássicos) Jobi e Quadriball. No regresso à Curitiba, foi constatada fratura num joelho. Ele foi operado 2 dias depois e permaneceu parado por 7 meses.
Seu reaparecimento deu-se exatamente em outra “semana máxima”, desta vez a do GP Paraná. E o triunfo foi esmagador: mesmo com o jóquei deixando-o abrir a mais de meio de raia e só fazendo correr nos 250 finais ele venceu por 8 corpos, chegando, aos esbarros, a apenas meio segundo de um recorde que com uma partida 50 metros mais cedo teria facilmente quebrado.
No turfe, como diria Shakespease, a substância da ambição á a sombra de um sonho, e logo surgiu a idéia de experimentá-lo na grama e em 2000 metros, visando o Latinoamericano que viria 3 meses depois. Foi a primeira e única vez que ele trabalhou mais forte: saindo dos 2400, passou 2000 em 2:10.7, com o jóquei apenas dando intenção na boca e a seguir levantando, nos 400 e novamente nos 200 finais, ocasiões em que ele sempre “mostrou as garras”. Fantástico!
Na corrida em São Paulo ele veio bem até a entrada da reta e depois sumiu. Estranhou a grama? Não aceitou a distância? As dúvidas permaneceram, mas não para o seu proprietário, que determinou que o inscrevêssemos imediatamente numa prova de G2, apenas 14 dias depois. Era uma milha na areia contra o supercraque, já então ganhador de 12 em 13 saídas, Giruá. Ele tomou a ponta, abriu 2 e 3 corpos, entrou na reta e imediatamente acionado tirou ainda mais: 4, 5, 6 corpos. Nos 150 finais, exigido a fundo, Giruá alcançou-o, livrando pouco mais de 1 corpo, em estupendos 1:33.8 (outra vez, meio segundo do recorde). Cavalos clássicos do padrão de American Style, Urdanz, Software, Olho Clinico e Hericoaquara finalizaram mais de 10 corpos atrás...
Me lembro de telefonar ao proprietário logo após a prova e comentar: “No Brasil e na areia, seu cavalo não vai mais perder”.
Tivemos uma reunião em Curitiba e decidiu-se disputar a Tríplice Coroa.
Na 1ª prova, recorde.
Na 2ª prova, recorde.
Na 3ª prova, o Derby, ele sofreu sérios (e propositais) prejuízos logo após a partida e nos primeiros 150 metros, sendo levantado duas ou três vezes. Mesmo assim, venceu por quase 3 corpos e finalizou a apenas 4 décimos de segundo de uma conquista que seria inédita em todo o mundo: vencer uma Tríplice Coroa com recorde nas 3 provas.
Infelizmente, após o Derby, nova fratura de joelho, nova intervenção cirúrgica, e desta vez foram quase 10 meses de “estaleiro”.
Seu retorno às pistas deu-se em Janeiro deste ano, numa prova de Grupo em Cidade Jardim, encarando na milha os melhores arenáticos, recordistas e múltiplos clássicos. Um triunfo esmagador, por 5 corpos, de ponta a ponta, em fabulosos 1:34:2 em pista completamente anormal, algo muito raro de ser visto após quase 10 meses parado e numa prova de Grupo.
O destino agora seria Nova Iorque.
O cavalo chegou bem, aclimatou-se quase que instantaneamente, e após 3 meses já recebíamos telefonemas entusiasmados do Paulinho Lobo, dizendo que ele era “um dos melhores cavalos que recebi do Brasil nos últimos anos!”.
O dia 7 de Setembro amanheceu com uma notícia terrível: um quadro agudo de laminite acompanhado de rotação da 3ª falange. No mesmo dia, apesar de todo o atendimento e cuidados, a situação se agravou e VITALINO MESTRE teve que ser sacrificado.
Quero encerrar citando alguns amigos que também tiveram a ventura de participar da curta porém brilhante existência deste craque, o último Tríplice Coroado Paranaense, um cavalo extraordinário, que deixará nos turfistas e especialmente em nós uma grande saudade:
Ricardo Bornhausen: proprietário e comandante do stud
Sergio Lima, Pedro Sirotski, Álvaro Jorge, Alberto Dalcanalle e Roger Faria: sócios
Eraldo Palmerini (e equipe do haras): criador
Geraldo Vogado e Paulo Lobo: treinadores
Fernando Perche e Bernardo Espinhal: veterinários
Airton Pereira de Araújo: 2º gerente
Jonathan Loterski: cavalariço
James Locatelli: agente que selecionou o potro
Duíglio Berleze: veterinário que aprovou a compra
Carlos Lavor, João Moreira, Mario Fontoura e Zeferino M. Rosa: jóqueis
“Um Mestre das pistas passou nas nossas vidas. Tinha uma Vitalidade fabulosa. Era de uma Expressão inigualável, e nos proporcionou uma Torrente de grandes emoções: viverá para sempre em nossos corações.”
Mário Sérgio Silveira Márquez
http://www.raialeve.com.br/
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