Dilma arrebata a China
Viagem rendeu mais de R$ 20 bilhões em investimentos diretos para o Brasil e o fim de antigos entraves comerciais
A presidente Dilma Rousseff fez jus à fama de administradora pragmática ao trazer na bagagem de sua primeira viagem internacional de fôlego uma coleção robusta de resultados. A visita bilateral à China e a participação na Terceira Cúpula dos Brics, sigla que reúne Brasil, Rússia, China, Índia e, a partir de agora, a África do Sul, renderam desde promessas de investimentos bilionários de empresas asiáticas a manifestações de apoio a um maior protagonismo brasileiro no Conselho de Segurança das Nações Unidas e em instituições financeiras multilaterais como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial.
Não faltou planejamento à visita, que começou com um grande anúncio: o de investimento de US$ 12 bilhões numa nova fábrica no País pela Foxconn, empresa sediada em Taiwan e maior fornecedora mundial da Apple. Outro US$ 1 bilhão deve ser aplicado por empresas chinesas de tecnologia e agronegócio. Além disso, espera-se a participação de companhias do país em obras de infraestrutura como a licitação do trem-bala entre São Paulo e Rio de Janeiro.
A presença da presidente no gigante asiático também serviu para destravar disputas comerciais antigas. A primeira foi a manutenção da fábrica da Embraer, que estava ameaçada de fechar por falta de demanda para os únicos jatos que era autorizada a construir pelo sócio estatal Avic, os ERJ-145. A empresa conseguiu novas encomendas que podem chegar a US$ 1,3 bilhão de jatos E-190, para 100 passageiros, e passará a produzir jatos executivos na China. O segundo entrave comercial desfeito, ao menos em parte, foi a permissão para que o Brasil comece a exportar carne suína para a China, que é a maior consumidora mundial e até agora impunha barreiras sanitárias aos frigoríficos brasileiros.
A comitiva de empresários arregimentada pelo presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI) foi um pouco menor que a esperada, mas reuniu pesos pesados da indústria com interesses na China, como o os presidentes da BR Foods, José Antonio Fay, da Marfrig, Marcos Molina, da Embraer, Frederico Curado, e o vice-presidente corporativo da Suzano Holding, Daniel Feffer.
A agenda para os próximos meses está cheia, especialmente visando maior participação brasileira nos organismos multilaterais. “Não é possível que no século XXI ainda estejamos atrelados a um sistema definido após a Segunda Guerra”, disse a presidente durante a reunião dos Brics. Na declaração do grupo, China e Rússia “apoiam as aspirações da Índia, do Brasil e da África do Sul de ter um papel maior nas Nações Unidas, referindo-se ao pleito de assentos permanentes no Conselho de Segurança. Os países também se comprometeram a pressionar para que haja mudanças na direção de organismos como o FMI e o Banco Mundial, que deveriam iniciar uma rotatividade que não inclua apenas americanos e europeus nos cargos mais altos.
Outra aposta ousada do governo brasileiro é tentar que o China Development Bank financie empresas brasileiras que invistam na China nos mesmos moldes que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) faz em investimentos no país. A Petrobras, que já recebeu há dois anos US$ 10 bilhões do banco estatal, vinculados ao fornecimento futuro de petróleo, negocia um novo crédito. Mas a proposta do BNDES de cooperação com os outros bancos dos Brics incluiria financiamento a empresas de médio porte, menos conhecidas nos mercados internacionais. Fiel a seu estilo, a presidente não deixou que a agenda positiva a impedisse de dar recados incômodos, como rebater a tentativa do G-20 de impor limites aos preços de commodities, afirmando que a culpa não é dos países produtores como o Brasil, mas das políticas fiscais expansionistas como a dos Estados Unidos. “A expansão da liquidez pressiona a inflação mundial, especialmente a das commodities, o que cria insegurança alimentar e energética”, afirmou no encerramento do Fórum Boao para a Ásia, considerado o “Davos asiático”. Dilma foi convidada a falar no Fórum, que teve como tema neste ano o Desenvolvimento com Inclusão.
por Tatiana Bautzer
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