Jeane Alves

Jeane Alves
Vitória de G 1 com Equitana

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Tragédia, depoimento de José Ferreira do Reis



Um depoimento emocionado - Um depoimento emocionado - José Ferreira do Reis17/1/2011 - 17:31:40
st1:*{behavior:url(#ieooui) }
Agradecimento e admiração
Não há dúvida de que – nesta tragédia que atingiu a Região Serrana do Rio e o CT Vale da Boa Esperança - fui protegido por Deus, que me deu forças para salvar minha família e deixou meus cavalos praticamente intactos. Mas não foi só Deus quem fez todo o trabalho, ele foi auxiliado – e muito – por verdadeiros anjos que se desdobraram, brigaram e se emocionaram para salvar os cavalos, meus e de meus colegas, que estavam alojados no CT. Vou mencionar, especialmente, três, cuja atuação me pareceu fundamental e decisiva para que pudéssemos tirar do meio do caos, tão rápido quanto possível, cavalos feridos ou não, - todos em situação precária, bebendo água suja, com cascos na lama, sem alimentação adequada, submetidos a enorme stress. Sei que há diversos outros que colaboraram e foram solidários – veterinários, proprietários de caminhões e motoristas, cavalariços, operadores de escavadeiras, colegas de outros CTs – não estou sendo ingrato com eles, mas quero destacar estes três nomes, porque deles testemunhei atuação que ultrapassou, em muito, os limites da colaboração e solidariedade, gente que eu vi chorar e que me fez – e ainda me faz, quando relembro – chorar de emoção, porque arriscaram seus bens particulares e sua integridade física, na ajuda aos cavalos e aos profissionais, desde o primeiro momento.

Falo, em primeiro lugar, do Dr. Lineu de Paula Machado, proprietário do CT Vale do Itajara. Sei que elogiar o Dr. Lineu é “chover no molhado”, ele é um autêntico Paula Machado, elegância e tradição; faz parte destacada das coisas boas que ainda existem no turfe brasileiro. Não seria – e não foi – surpresa sua participação decisiva na ajuda aos profissionais e cavalos do CT atingido - desde o primeiro momento - não só enviando as máquinas que possibilitaram o acesso ao CT, como atendendo às pessoas, mobilizando o Itajara, deslocando para lá o engenheiro Paulo Nania, e colocando o Itajara a postos para receber os cavalos, em etapa emergencial, para o deslocamento final rumo à Gávea. Ajudou desde o início, continua ajudando agora, e vai ajudar no futuro; tudo isto com a discrição, a solidariedade e o empenho silencioso, que fazem dele o verdadeiro “gentleman” que todos conhecem. Sem ele, sem a sua decisiva participação, teríamos, certamente, perdido muito mais do que perdemos. Orgulho-me de ter trabalhado para ele, orgulho-me de sua amizade.

O segundo “anjo” foi o Dr. Paulo Nania, engenheiro agrônomo responsável pela conservação da pista do Itajara e pela reforma da pista de grama da Gávea, que foi destacado, por sua capacidade profissional e iniciativa, pelo Dr. Lineu para atuar no cenário da tragédia, orientando na desobstrução da estrada de acesso, arriscando seu carro e sua integridade para chegar aos cavalos e profissionais, ultrapassando verdadeiras muralhas de lama, pedras, troncos e galhos, destemidamente. Foi o responsável direto pelas operações técnicas, em cenário de guerra e destruição, e ainda teve de travar batalhas com autoridades insensíveis e prepotentes, que – após a abertura da estrada por iniciativa e atuação estritamente particulares – insistiam em não permitir a remoção dos animais, por não “serem prioridades”. Dr. Paulo - depois de dois dias de incansável trabalho, desde de manhã cedo até noite adentro, em clima instável, tratando da abertura da estrada, e, ao mesmo tempo, cuidando das pessoas e preocupados com animais - após o embarque do último animal no último caminhão, chorou emocionado. Choramos juntos e esta imagem vai ficar comigo para o resto da minha vida, a imagem de um homem extraordinário, a quem nós todos, profissionais envolvidos no episódio, proprietários e amantes dos cavalos de corrida, devemos eterna gratidão.

Finalmente, quero falar da veterinária Márcia Ramos. Não deveria ser surpresa para mim o que vi da atuação desta verdadeira profissional; afinal já trabalhamos juntos há anos, desde quando, pelas mãos e com a ajuda de seu pai, Dr. Cláudio Ramos, comecei na profissão de treinador, com os cavalos do Haras LLC. Os proprietários que têm animais cuidados por ela sabem muito bem de sua capacidade e dedicação. Teve a sorte de ter nascido em família que lhe pode proporcionar educação e preparo e lhe transmitiu o amor aos cavalos: são os seus “bebezinhos”, pelos quais é capaz de passar – e acontece frequentemente – noites em claro. Ter condição social privilegiada, entretanto, não faz da Marcinha uma pessoa insensível aos menos afortunados; muito pelo contrário, sempre procurou ajudá-los, mesmo nas situações não tão agudas como a que acabamos de passar. Isto também é herança da família Ramos, que todos nós, no mundo turfe, aprendemos a admirar. O que ela fez foi muito além de cuidar dos animais – todos os que pôde, sendo ou não de sua responsabilidade - enfrentando chuva e lama e andando quilômetros a pé, carregando gêneros, água, medicamentos, para pessoas e animais - para poder chegar no CT nas primeiras horas após a catástrofe. Junto com o Dr. Paulo Nania, coordenou, madrugada adentro, a remoção dos animais e a ajuda emergencial aos funcionários e pessoas da vizinhança; peitou autoridades insensíveis, quase foi presa ao tentar me resgatar no CT, quando nada mais havia a fazer ali. Nestas horas é que você percebe que, apesar de estar há tanto tempo convivendo com uma pessoa, você pode não conhecê-la em toda a sua dimensão. A Marcinha que eu vi nestes dias é muito mais do que eu já conhecia; emocionei-me muito com ela, também, e mostrei isto enquanto viajávamos de volta ao Rio, mas faço questão de dar este testemunho público.

Muitas outras pessoas e profissionais, como os veterinários Paula Guttmann, Cristina Vieira, Homero Brasil, Flávio Géo e Bianca, Lindinha e outros; o motorista Gleison; Fanta, o ferrador; Zé Maria, o segundo gerente de Léo Cury; Marquinhos Bahia e sua esposa; meu querido irmão Léo Reis; sem esquecer, também, os queridos colegas Cláudia e Léo Cury, Marquinhos Ferreira e Juliana Dias – companheiros de infortúnio – que me acolheram, e à minha família, em suas casas, logo após a noite de terror.

Tenho muito que agradecer a Deus pelas graças que recebi, e quando o fizer, vou incluir nas minhas preces todos os que tiveram participação solidária, direta ou indiretamente, na ajuda que recebemos no CT Vale da Boa Esperança – os citados e os involuntariamente omitidos - especialmente estas três pessoas que tenho a felicidade de ter como amigos, objetos de uma admiração agora multiplicada muitas vezes.


*José Ferreira dos Reis, o Reisinho. Treinador e ex-jóquei do excepcional cavalo Itajara.
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Agradecimento e admiração
Não há dúvida de que – nesta tragédia que atingiu a Região Serrana do Rio e o CT Vale da Boa Esperança - fui protegido por Deus, que me deu forças para salvar minha família e deixou meus cavalos praticamente intactos. Mas não foi só Deus quem fez todo o trabalho, ele foi auxiliado – e muito – por verdadeiros anjos que se desdobraram, brigaram e se emocionaram para salvar os cavalos, meus e de meus colegas, que estavam alojados no CT. Vou mencionar, especialmente, três, cuja atuação me pareceu fundamental e decisiva para que pudéssemos tirar do meio do caos, tão rápido quanto possível, cavalos feridos ou não, - todos em situação precária, bebendo água suja, com cascos na lama, sem alimentação adequada, submetidos a enorme stress. Sei que há diversos outros que colaboraram e foram solidários – veterinários, proprietários de caminhões e motoristas, cavalariços, operadores de escavadeiras, colegas de outros CTs – não estou sendo ingrato com eles, mas quero destacar estes três nomes, porque deles testemunhei atuação que ultrapassou, em muito, os limites da colaboração e solidariedade, gente que eu vi chorar e que me fez – e ainda me faz, quando relembro – chorar de emoção, porque arriscaram seus bens particulares e sua integridade física, na ajuda aos cavalos e aos profissionais, desde o primeiro momento.

Falo, em primeiro lugar, do Dr. Lineu de Paula Machado, proprietário do CT Vale do Itajara. Sei que elogiar o Dr. Lineu é “chover no molhado”, ele é um autêntico Paula Machado, elegância e tradição; faz parte destacada das coisas boas que ainda existem no turfe brasileiro. Não seria – e não foi – surpresa sua participação decisiva na ajuda aos profissionais e cavalos do CT atingido - desde o primeiro momento - não só enviando as máquinas que possibilitaram o acesso ao CT, como atendendo às pessoas, mobilizando o Itajara, deslocando para lá o engenheiro Paulo Nania, e colocando o Itajara a postos para receber os cavalos, em etapa emergencial, para o deslocamento final rumo à Gávea. Ajudou desde o início, continua ajudando agora, e vai ajudar no futuro; tudo isto com a discrição, a solidariedade e o empenho silencioso, que fazem dele o verdadeiro “gentleman” que todos conhecem. Sem ele, sem a sua decisiva participação, teríamos, certamente, perdido muito mais do que perdemos. Orgulho-me de ter trabalhado para ele, orgulho-me de sua amizade.

O segundo “anjo” foi o Dr. Paulo Nania, engenheiro agrônomo responsável pela conservação da pista do Itajara e pela reforma da pista de grama da Gávea, que foi destacado, por sua capacidade profissional e iniciativa, pelo Dr. Lineu para atuar no cenário da tragédia, orientando na desobstrução da estrada de acesso, arriscando seu carro e sua integridade para chegar aos cavalos e profissionais, ultrapassando verdadeiras muralhas de lama, pedras, troncos e galhos, destemidamente. Foi o responsável direto pelas operações técnicas, em cenário de guerra e destruição, e ainda teve de travar batalhas com autoridades insensíveis e prepotentes, que – após a abertura da estrada por iniciativa e atuação estritamente particulares – insistiam em não permitir a remoção dos animais, por não “serem prioridades”. Dr. Paulo - depois de dois dias de incansável trabalho, desde de manhã cedo até noite adentro, em clima instável, tratando da abertura da estrada, e, ao mesmo tempo, cuidando das pessoas e preocupados com animais - após o embarque do último animal no último caminhão, chorou emocionado. Choramos juntos e esta imagem vai ficar comigo para o resto da minha vida, a imagem de um homem extraordinário, a quem nós todos, profissionais envolvidos no episódio, proprietários e amantes dos cavalos de corrida, devemos eterna gratidão.

Finalmente, quero falar da veterinária Márcia Ramos. Não deveria ser surpresa para mim o que vi da atuação desta verdadeira profissional; afinal já trabalhamos juntos há anos, desde quando, pelas mãos e com a ajuda de seu pai, Dr. Cláudio Ramos, comecei na profissão de treinador, com os cavalos do Haras LLC. Os proprietários que têm animais cuidados por ela sabem muito bem de sua capacidade e dedicação. Teve a sorte de ter nascido em família que lhe pode proporcionar educação e preparo e lhe transmitiu o amor aos cavalos: são os seus “bebezinhos”, pelos quais é capaz de passar – e acontece frequentemente – noites em claro. Ter condição social privilegiada, entretanto, não faz da Marcinha uma pessoa insensível aos menos afortunados; muito pelo contrário, sempre procurou ajudá-los, mesmo nas situações não tão agudas como a que acabamos de passar. Isto também é herança da família Ramos, que todos nós, no mundo turfe, aprendemos a admirar. O que ela fez foi muito além de cuidar dos animais – todos os que pôde, sendo ou não de sua responsabilidade - enfrentando chuva e lama e andando quilômetros a pé, carregando gêneros, água, medicamentos, para pessoas e animais - para poder chegar no CT nas primeiras horas após a catástrofe. Junto com o Dr. Paulo Nania, coordenou, madrugada adentro, a remoção dos animais e a ajuda emergencial aos funcionários e pessoas da vizinhança; peitou autoridades insensíveis, quase foi presa ao tentar me resgatar no CT, quando nada mais havia a fazer ali. Nestas horas é que você percebe que, apesar de estar há tanto tempo convivendo com uma pessoa, você pode não conhecê-la em toda a sua dimensão. A Marcinha que eu vi nestes dias é muito mais do que eu já conhecia; emocionei-me muito com ela, também, e mostrei isto enquanto viajávamos de volta ao Rio, mas faço questão de dar este testemunho público.

Muitas outras pessoas e profissionais, como os veterinários Paula Guttmann, Cristina Vieira, Homero Brasil, Flávio Géo e Bianca, Lindinha e outros; o motorista Gleison; Fanta, o ferrador; Zé Maria, o segundo gerente de Léo Cury; Marquinhos Bahia e sua esposa; meu querido irmão Léo Reis; sem esquecer, também, os queridos colegas Cláudia e Léo Cury, Marquinhos Ferreira e Juliana Dias – companheiros de infortúnio – que me acolheram, e à minha família, em suas casas, logo após a noite de terror.

Tenho muito que agradecer a Deus pelas graças que recebi, e quando o fizer, vou incluir nas minhas preces todos os que tiveram participação solidária, direta ou indiretamente, na ajuda que recebemos no CT Vale da Boa Esperança – os citados e os involuntariamente omitidos - especialmente estas três pessoas que tenho a felicidade de ter como amigos, objetos de uma admiração agora multiplicada muitas vezes.


*José Ferreira dos Reis, o Reisinho. Treinador e ex-jóquei do excepcional cavalo Itajara.

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