Jeane Alves
quinta-feira, 14 de outubro de 2010
DESAFIAR A LENDA, PARA TORNAR-SE UMA
O Arco do Triunfo 2010
Foi com esta frase que a farta publicidade da France Galop divulgou o GP Arco do Triunfo de 2010, corrido no primeiro domingo de outubro no hipódromo de Longchamp, em meio aos castanheiros dourados do bosque de Boulogne nos arredores de Paris, e que reuniu dessa vez 17 ganhadores de 43 provas de Grupo.
No sábado, dia 2 de outubro, o Paris-Turf, jornal dedicado às corridas na França, comentava sobre a importância do evento:
“O Prix de l’Arc é hoje o mais belo momento do turfe mundial. Porque seu presente e seu futuro se alimentam de seu glorioso passado, o que não é o caso de alguns Grupos I, ainda muito jovens na cena mundial, que, graças a dotações mirabolantes, tentam nos olhar de cima, com a arrogância da primeira juventude. Honestamente, que corrida pode orgulhar-se de haver oferecido a esse esporte as jóias de atuações de campeões imortais, todos eles reunidos no panteão dos cavalos de exceção?”
A par do orgulho que os franceses dedicam à principal prova de seu calendário – hoje transformada numa espécie de campeonato mundial do puro-sangue –, o fato é que a ambiência tipicamente européia de Longchamp, tem muito a ver com o prestígio internacional do evento. E quem gosta de cavalos de corrida e corridas de cavalo, é lá que tem que estar quando chega a primeira semana de outubro.
Na verdade, há coisas que só acontecem em Longchamp, como as quatro mulheres da família proprietária do animal japonês que disputou o Arco de 2010, presentes ao paddock, e vestidas a caráter como gueixas em seus impecáveis quimonos de seda pura. Nem mesmo no famosíssimo Royal Meeting de Ascot é visto algo semelhante.
Do ponto de vista técnico, ainda há a imaculada perfeição da pista (desta vez, como havia chovido muito durante toda a semana, a cerca móvel, no sábado, foi colocada a 18 metros para preservar o estado da grama no dia seguinte). Além da sagrada obediência ao horário das largadas; o rigor no exame dos eventuais prejuízos de percurso; o estado impecável do treinamento dos concorrentes; e a tradicional forma européia de correr, deixando que os animais, primeiro, encontrem naturalmente seu ritmo, para só depois exigir que se empreguem nos metros finais da disputa (na França, corre-se 1.000 metros, largando, baixando a mão, deixando galopar e respirar, esperando os 400 finais).
Tudo isso colabora para fazer da semana do Arco uma data especial para o público e os turfistas de todo o mundo.
E a maioria dos animais é iniciada dessa forma nas clareiras de Chantilly – aprendendo ritmo e respiração, antes de aprender a correr.
Relógio não existe, balança não existe, trabalhos e aprontos suicidas também não. Remédio muito menos. É proibido medicar para correr. Ponto.
O que existe, acima de tudo, é a compreensão, baseada no ancestral conhecimento da raça, de que cavalos de corrida atuam sempre melhor quando são superiormente criados, superiormente treinados, dirigidos com técnica, e, principalmente, com a inteligência de seus jóqueis. E, claro, bater além da conta, dá, invariavelmente, pesadas multas e suspensão. É assim que funciona o turfe europeu de elite em nossos dias.
por Sergio Barcellos
Raia Leve
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