Jeane Alves
quarta-feira, 22 de setembro de 2010
ELEIÇÕES NO BRASIL E NO JCB
Alguns dias atrás estava no Jockey e escutei um amigo comentar sobre a podridão da política no Brasil. Ele argumentava que os políticos que aí estão se beneficiavam da enorme ignorância do povo, uma massa de iletrados que, como cantou Herbert Vianna em sua música “300 picaretas” em uma época em que os poderosos de hoje eram fontes de inspiração para músicas, deixa o congresso à serviço dos “coronéis” brasileiros que mudam de nome, de modus operandi, mas não de objetivo. Eu, como sempre achei plausível essa teoria do povo ignorante, concordava e esbravejava a favor dos argumentos. Conversávamos que o povo carioca, entre outros não menos indigestos, iria acabar engolindo um senador temente a um Deus que cobra pedágio e, junto com o resto do Brasil, a uma presidente que nunca foi eleita a nada, pesa sobre si algumas denúncias no mínimo importantes a serem investigadas e representa uma vertente pelo menos perigosa da esquerda brasileira.
Após o clima de tranqüilidade abater-se sobre mim ajudado por uma dose de Jameson, comecei a raciocinar sobre o assunto. A primeira conclusão que cheguei foi a de que se tivéssemos um universo de eleitores bastante letrados, alguns profundos conhecedores de política e de administração de organizações de todo o tipo e tamanho isso não aconteceria. Refleti um pouco e concluí que o JCB possui um quadro de associados bem próximo ao perfil citado. Imediatamente me veio a descrença! Como pôde o quadro de sócios do JCB engolir, como está engolindo o Brasil, um candidato sem experiência nenhuma, sem ligação nenhuma com o que ele vai administrar, única e exclusivamente porque um presidente com enorme aprovação igualmente única e exclusivamente por ter surfado uma onda já pronta de prosperidade e crescimento o indicou como seu representante? Seria o quadro de sócios do JCB a exata reflexão do que é o povo brasileiro, aquele que é tratado pela classe mais afortunada como ignorante? Não consegui esta resposta!
No caso do Brasil, muitos têm boas idéias para fazer com que este país finalmente entre de vez para o clube dos mais importantes e ricos do mundo tais como imposto único, mecanismos para igualar campanhas políticas, retirada da obrigatoriedade do voto, entre outras. No caso do JCB, as soluções tornam-se ainda mais claras e óbvias, tanto que qualquer um, até mesmo eu, pode dá-las. Não cabe aqui alongar-se até porque seria chover no molhado falar em comissão de corridas, ações de marketing, dedicação aos detalhes em relação aos cavalos e as corridas, estudar corretamente a viabilização da diminuição da retirada para finalmente podermos começar a dar passos mais largos em direção ao aumento do MGA e negociar mais agressivamente com o “credenciado” do simulcasting internacional para que ele finalmente implante o simulcasting de verdade (inclusive retomando as cláusulas originais do contrato celebrado, o que é imprescindível) ou nos deixe livres para fazermos o que é melhor para o JCB, etc...
Neste ponto, já no meio da referida dose de um dos melhores presentes dos irlandeses aos homens, comecei a pensar melhor na Dilma daqui e abandonei de vez a amiga da Erenice.
Me lembrei que no dia seguinte teria o compromisso mais importante da semana para mim, que supera de longe reuniões aonde se decide o futuro de um navio de 250 milhões de dólares, o café da manhã da cocheira do Haras Iposeiras. Este compromisso é o único que não perco por nada. Se estou no Brasil, ou mais especificamente no Rio de Janeiro, não deixo de comparecer a esse local aonde comemos um sanduíche simples, bebemos um refrigerante "mais ou menos" gelado, mas acima de tudo fala-se de cavalos de corrida por aproximadamente 90% do tempo! Ah, os outros 10%? São preenchidos pelos assuntos das corridas de cavalo! Foi aí que, depois da alegria de lembrar da manhã seguinte prazerosa, veio a tristeza do “projeto” Boulevard. Um projeto que certamente destruirá o turfe já que inevitavelmente acabará com o pequeno proprietário, pois o turfe, acima de ser uma corrida entre cavalos, é uma competição entre os homens, os proprietários. O turfe, ao contrário do que pensa o presidente do JCB, certamente não sobrevive sem os pequenos, e prova disto é a tendência mundial do turfe de crescimento de pequenos proprietários incluindo locais que, de tão prósperos, só permitem a um mesmo proprietário ter 3 cavalos registrados.
Dizer que este projeto será a salvação do turfe é no mínimo muita ignorância, mas ainda que ignoremos, como os poucos defensores e sócios do tal projeto os efeitos maléficos do mesmo, como afirmar que o projeto servirá para colocar dinheiro no turfe se todo o patrimônio construído pelo turfe é contabilizado no balanço oficial do clube, como uma receita chamada de patrimonial, separada do turfe? O que acontece no balanço do JCB é mais ou menos como um casal que começou bem novo, trabalhando muito, construindo um excelente patrimônio para garantir suas vidas e de seus descendentes com muita tranqüilidade, depois de já atingir a terceira idade, vê um filho apropriar-se do lucro auferido por todo este patrimônio conquistado apenas pelo suor do nosso maravilhoso casal de velhinhos, ainda por cima tripudiar dos pais por hoje sustentá-los (sic) e ainda pensar e colocar em prática um plano de eliminação dos mesmos já que, na opinião do filho ingrato, são um peso.
Aliás, tocando nesse assunto, só mesmo um sócio muito incapaz, mas muito incapaz mesmo, sendo turfista ou não, acredita que pode existir um Jockey Club Brasileiro sem turfe. O turfe sempre foi o mantenedor do clube e não só pode como deve continuar a ser. O turfe bem gerido fará com que se nade em piscinas cada vez mais maravilhosas, se jogue em quadras de tênis cada vez melhores e ainda que o clube volte a oferecer algo aos seus sócios (hoje até a sauna do clube é paga), independente de serem turfistas ou não.
Após essa reflexão, ao lembrar das notas que totalizam 82 milhões de reais resolvi parar de pensar, primeiro porque o dia 3 de Outubro se aproxima e segundo, e mais importante ainda, o mês de maio de 2012 ainda está longe. Mas como ele há de chegar, resolvi colocar a segunda dose do meu whisky predileto e voltar a sonhar com meu imaginário favorito, aonde os potrinhos que crio em Bagé hoje sonhando com um turfe melhor, gerido de maneira inteligente, amanhã ganham na mesma semana os GGPPs Roberto e Nelson Grimaldi Seabra, Major Suckow, Presidente da República e Brasil!
Arthur Eduardo Stern de Freitas
Engenheiro Naval, 29 anos, criador, proprietário e sócio do Jockey Club Brasileiro.
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