Jeane Alves

Jeane Alves
Vitória de G 1 com Equitana

sábado, 30 de abril de 2011

Depois da tempestade nem sempre vem a bonança, por Paulo Gama

Depois da tempestade nem sempre vem a bonança, por Paulo Gama



O dia 12 de janeiro de 2.011 será lembrado para sempre por cinco treinadores de cavalos do turfe carioca. Três meses depois da enxurrada que devastou o centro de treinamento da família do saudoso turfman, Júlio Cápua, no Vale do Cuiabá, os profissionais ainda sentem os reflexos da tragédia. José Ferreira Reis, Leopoldo Cury, Cláudia Cury, Marcos Ferreira e Juliana Dias tiveram perdas e danos diferentes. Mas cada um deles, a sua maneira, juntou os cacos para seguir em frente na busca de melhores dias.

José Ferreira dos Reis deu entrevista recente no canal SPORTV, em que contou à repórter, Janaína Xavier, detalhes dos momentos dramáticos por que passou. Fiquei emocionado. Conheço Reisinho dos tempos em que era aprendiz. Fiz entrevista com ele e Carlos Lavor para o Jornal do Brasil antes da estreia de ambos nas pistas. Alguns anos mais tarde, voltei a fazer matérias com ele, nos tempos de Itajara. Agora, foi triste ouvir suas palavras sobre a perda de sua casa, dos dois carros, e por pouco da sua própria vida, da mulher e dos filhos. Acostumado com o Reisinho sorridente até me espantei ao vê-lo cabisbaixo. Mas como tantos Josés pelo Brasil afora ele vai à luta. Está com alguns animais no Vale do Itajara e a maioria na Gávea. E os apresenta com inegável talento.

Leopoldo José Cury não é apenas o competente treinador de puros-sangues. O amigo Leo é muito mais do que isso. Veterinário e professor universitário, ele me proporcionou nos últimos 25 anos alguns dos melhores bate-papos sobre as coisas do turfe. No padoque, nas tribunas, nos leilões e principalmente no restaurante da Tribuna Social, por que nós dois temos em comum esta paixão pela boa mesa, sempre trocamos idéias a respeito dos cavalos e das corridas. Conheço Leo Cury dos tempos que treinava Laurus, que perdeu o GP Brasil para Troyanos no olho mecânico. Muito tempo se passou. E agora, a chuva veio e lhe tirou a satisfação de viver e de treinar, no Vale do Cuiabá. Mas o Leo Cury é um intelectual brigador. E, tenho certeza, não vai se entregar.

Marcos Ferreira é outro batalhador. De família humilde teve que lutar muito para conseguir um lugar ao sol. Marquinho foi um dos mais atingidos pela tragédia. Perdeu vários animais afogados na enxurrada. Agarrou-se a fé, a religiosidade e não esmoreceu. Vivi a indignação de acompanhar durante muitos anos o bom resultado do treinador ser contestado, sem qualquer justificativa, por pessoas mal intencionadas. Mas nada disso o atingiu. Ele seguiu guerreiro e a cada revés respondeu aos críticos com vitórias. Algumas tão expressivas, que alguns maus colegas que o criticaram nunca chegaram perto de obter. O momento é difícil. Marcos Ferreira perdeu o cavalo por quem era apaixonado, Sol de Angra. Mas com sua integridade, logo outro sol vai brilhar na sua vida.

Deixei para o último capítulo duas guerreiras: Cláudia Cury e Juliana Dias. Cláudia e Juliana viveram o mesmo drama, em tons e cores diferentes. Cláudia não teve nenhum dos seus pensionistas morto na chuvarada. Juliana perdeu seis e, sem dúvida, os seus melhores. Cobertas de lama, sujeira, perda de vidas, material, ração e serragem, elas lutaram num cenário de terror pela própria sobrevivência, dos seus cavalos e dos seus empregados. Num primeiro momento saíram-se bem. Mas passados três meses e o resultado prático é caótico. Juliana tinha 40 cavalos e hoje está reduzida a nove. Levou 13 anos para construir bela carreira e, de uma hora para outra, tudo escorreu por suas mãos. Cláudia Cury, dos quase 20 cavalos que possuía, ficou a menos da metade.

Cláudia ficou conhecida por seus ótimos resultados com os cavalos do Stud Brincadeira. Jarrinho, um milheiro de grande categoria, levantou algumas das principais provas do turfe nacional. Para mim sempre foi uma honra, como jornalista, acompanhar sua trajetória. Juliana Dias é uma grande amiga e sem dúvida, de todos eles, com quem tenho maior convivência. Falar dos amigos, por incrível que pareça, é sempre mais difícil. Inteligente, carismática e corajosa, ela largou a faculdade de Direito para seguir a profissão de seu pai. Vai passar por maus pedaços. É inevitável depois das catástrofes. Mas vai vencer e superar os obstáculos com sua perseverança e desprendimento.

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