Boas pastagens – A comida natural do cavalo é o pasto. É muito variável de acordo com as regiões do país e com as estações do ano. Uma boa assistência agronômica é necessária, desde que o agrônomo compreenda que o pasto não é o produto final, mas sim o cavalo. Há também a necessidade periódica de análise das pastagens (foliar) para acertos e correções na suplementação. Os capins tifton, coast cross, transvaal etc., são úteis para a criação, pois derivam da bermuda grass, a partir da qual foram aperfeiçoados.
Um bom plantel – Um banco genético de alta qualidade, formado aqui e também importado. É preciso renovar e injetar, periodicamente, sangue novo, atual, nacional e estrangeiro. Trocar 5% a 10% do plantel de éguas anualmente é uma boa política. Na criação em geral, o critério de bom é e não é relativo, pois é comparativo. Quanto mais crítico for o criador, mais seletivo ele será, e melhor será o seu plantel. Porém, para ser crítico, é preciso conhecer. Acionar, caso contrário, alguém que conheça o assunto, que pode ser outro criador, um hipólogo, um veterinário. Não deixar se envolver sentimentalmente por nenhum animal (éguas e sobretudo garanhões). O capitão Bela Wodianer, um dos meus mestres, ensinou-me cedo que "de cavalo não se gosta – se tem respeito pelo bom". Lembrar-se da grande importância das éguas, das linhas maternas vivas. Não iludir-se. Não acreditar que um ótimo garanhão vá fazer milagres com matrizes fracas. O criador precisa conhecer a genética para melhor entender os cruzamentos que promove em seu haras.
Suplementação – Variável de acordo com a região, a estação do ano, as análises das pastagens, a idade dos animais, etc. Nos tempos atuais, dispomos de muito mais recursos do que há 10 anos, e nem dá para comparar com os recursos de 15 ou 20 anos atrás, o que nos permite adequar corretamente e individualizar a suplementação, que entendemos ser tudo aquilo que é oferecido como alimento, além da pastagem, ou seja, grãos, pellets, leguminosas frescas ou fenadas, e suplementos vitamínicos e minerais. "A metade do pedigree entra pela boca", costumo dizer aos amigos e clientes. Nós faremos muito se dermos aos animais as condições para que se desenvolvam na plenitude de seu patrimônio genético.
Manejo – É preciso formar uma equipe de padrão, que saiba respeitar a natureza e o cavalo, com suas particularidades, sem traumatizá-lo, sobretudo nas fases de 1ª infância, doma e início de treinamento. É necessário também ater-se a todas as formas de higiene do estabelecimento e dos animais, sobretudo agora que os cuidados com as exportações de cavalos passam a ser cada vez mais controladas pelas autoridades sanitárias em razão de doenças como a piroplasmose. No manejo, entra ainda o trabalho de um bom casqueiro, profissional que deve integrar a equipe do haras. No foot, no horse (sem pé, não há cavalo), já diziam os ingleses.
Assistência veterinária – Compreende inúmeras áreas da medicina veterinária. Podemos começar aqui por um correto acompanhamento reprodutivo, que é de fundamental importância no cavalo puro-sangue inglês, em sua temporada de monta. Outro ponto vital é a implantação de um programa de vacinação, principalmente contra influenza, encefalomielite, tétano, rodococcus, rotavirus, raiva, rhinopneumonite etc., com a profilaxia de doenças infecciosas endêmicas e das que especificamente ocorram em uma determinada região. Um eficiente programa de combate às parasitoses, sobretudo as do aparelho digestivo, também deve ser implantado pela equipe do haras. Fazer ainda o acompanhamento individual dos animais em criação, com a adequação das rações que se pode fazer atualmente, devido à grande variedade de produtos oferecida pelo mercado. Neste tópico, o veterinário tem a obrigação de conhecer cada animal, e suas famílias materna e paterna, do haras que atende, o que facilitará seu trabalho na hora de constatar alterações no estado de desenvolvimento da saúde de cada um.
Regras do mercado – É preciso que os profissionais tenham respeito pelas regras do mercado e conhecimento da capacidade competitiva do ambiente. A recessão contribui para a seleção. Até o mais renitente parte para a seleção quando seu bolso (a parte mais sensível do homem) é atingido. Quem não tiver qualidade, não terá espaço no mercado, e provavelmente também não encontrará lugar nas pistas de corrida. A diminuição do plantel brasileiro do cavalo puro-sangue inglês e da produção anual de potros em cerca de 30% já é sinal dessa seleção. Pode até ser que faltem animais nos próximos anos para a formação dos páreos, mas o que não pode acontecer é levar todos para a reprodução. Há algum tempo, já não temos animais com menos de 400 quilos, cascos encastelados, epifisites e outras anomalias que eram vistas com freqüência. As técnicas de criação evoluíram muito e aqui no Brasil houve grandes avanços pela troca de informações que os técnicos mais velhos fizeram junto aos jovens, estudantes, estagiários e profissionais. Os potros devem nascer entre julho, agosto, setembro e, no máximo, outubro, fugindo do nascimento em novembro e dezembro, o que prejudica a comercialização e a primeira campanha, aquela feita aos dois anos de idade hípica. Com um pouco de trabalho, dá para acertar os ponteiros e conseguir isso. Nossa criação não tem as condições ecológicas ideais, como têm os argentinos, chilenos, irlandeses e norte-americanos. Ecologia você compensa até certo ponto. Mas hoje, dominamos o manejo que falamos acima e temos um bom banco genético. Não é por outro motivo que cavalos como Siphon, Sandpit e Romarin se destacaram no concorrido calendário clássico dos Estados Unidos. Acredito firmemente que não ficaremos só nesses animais; outros ainda surgirão para seguir na trilha aberta pelos três campeões. A criação brasileira, muitas vezes esquecida pela mídia, tem produzido e entregue ao turfe animais cada vez melhores e dignos do Primeiro Mundo. Nunca é demais lembrar que os potros não nascem com dois anos, nas cocheiras dos treinadores!

Dr. José Luiz Pinto Moreira
http://www.bichoonline.com.br
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