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quinta-feira, 19 de agosto de 2010
CRIADORES DE CAVALO PERDEM SEM OS RENDIMENTOS DE SLOT MACHINES
Chesapeake (Maryland - EUA) – Not for Love, um dos principais garanhões da central de reprodução genética Northview Stallion Station's, já cobriu cerca de 100 éguas por ano, mas atualmente tem demanda para não mais do que 60. Desesperados para voltar os áureos tempos, os proprietários da fazenda, no ano passado, abriram um centro de reprodução no rival estado da Pensilvânia, no qual a instalação de slot machines permitiu à equideocultura local receber um rio de receitas.
“Caso consigamos ter slot machines funcionando em Maryland, teremos condições de atrair novos garanhões jovens”, comenta Tom Bowman, veterinário e co-proprietário da central de reprodução Northview, ao observar uma égua reprodutora coberta por seu garanhão de 20 anos de idade. “Mas agora lutamos para continuar vivos porque as pessoas pensam ‘onde está a ação? Não está em Maryland. Está na Pensilvânia’”.
Atualmente, o funcionamento do Preakness Stakes, em Baltimore, serve como lembrança da sublime posição histórica de Maryland na hierarquia equina. Mas por trás da corrida da Tríplice Coroa, transmitida em nível nacional pela TV, a indústria de criação de cavalo está em colapso. Criadores locais frustrados com a promessa não cumprida de ter as slot machines que poderiam resgatar sua indústria estão levando seus negócios para Estados enriquecidos por elas, a exemplo de Pensilvânia, West Virginia e Delaware.
Na última década, governadores dos dois maiores partidos culpavam as slot machines pelo decadente destino do segmento equestre. Depois de anos de combate político, os eleitores aprovaram em 2008 um plano para construir salas de slots machines em cinco locais, com a expectativa de arrecadar US$ 100 milhões por ano para engordar as bolsas de apostas e US$ 660 milhões por ano para a educação.
Mas o plano não se concretizou. As duas maiores infraestruturas – uma que seria no interior do Porto de Baltimore e o outro no Shopping de Arundel Mills - estão atolados em problemas financeiros, políticos ou jurídicos. Uma terceira proposta para o Rocky Gap Lodge & Golf Resort, em Western Maryland, não despertou o interesse de nenhum investidor. A quarta sala era para começar a operar no Memorial Day Weekend no páreo de Ocean Downs, na costa leste, mas os problemas com amianto têm atrasado a abertura, pelo menos até fim de outono. Uma sala com 1500 máquinas na área rural do Condado de Cecil também é esperada para abrir no final do ano.
Muitos criadores de Maryland confessaram terem ficado extremamente otimistas quando o então governador Robert L. Ehrlich Jr. (Partido Republicano), foi o primeiro a considerar as slot machines em sua campanha de 2002. Dessa forma, Bowman, que também é presidente da Maryland Horse Breeders Association, acreditava que as salas estariam em operação em cerca de três anos. “Eu estava realmente empolgado, mas um amigo me informou que irá levar seis anos. Eu ri e disse: 'Você está brincando comigo’. Agora nos sentimos simplesmente algemados”.
Como o caminho para o funcionamento de casas de slot machines se tornou nebuloso, o interesse popular por corridas de cavalo murchou, de acordo com os levantamentos mais recentes do Estado. Entre 2006 e 2008, a participação nas cinco maiores corridas despencou de 1,8 milhão para 1,5 milhão de pessoas e o número de dias de encontros diminuiu de 338 para 255. As apostas fora dos locais de prova registraram queda de US$ 253 milhões, de US$ 633 para US$ 380 milhões.
Em contrapartida, a decisão do Estado da Pensilvânia em aprovar as slot machines representou “uma verdadeira carreira” para o setor: as apostas em corridas ao vivo no Estado saltaram de cerca de US$ 577 milhões em 2006 para US$ 727 milhões em 2008. Entre 1998 e 2008, o número de potros nascidos na Pensilvânia subiu mais de 50%, para 1.388, enquanto os nascimentos em Maryland diminuíram 38%, para 693, de acordo com o Jockey Club, instituição responsável pelo registro oficial de cavalos de raça puro-sangue para a América do Norte.
Placas indicando “vende-se”, equipes desfeitas e instalações vagas se tornaram marcas emblemáticas no interior de Maryland tanto quanto as características cercas de madeira. Algumas fazendas trabalham na colheita do feno e a Fazenda Bonita, no município de Harford – a qual já ofereceu para reprodução o vencedor de Preakness de 1983, Deputed Testamony – hoje produz pinheiros de natal e uvas para vinho. “Nossa idéia é engarrafar o vinho e ter nossa própria marca”, disse J. William "Bill" Boniface, gerente geral da fazenda.
Alguns donos de fazenda não podem esperar mais pela mudança. Hal Clagett III, um advogado da cidade de Prince George e proprietário de cavalos, tem tentado sustentar a fazenda de 138 hectares em que seu pai, morto em fevereiro, criava cavalos no condado de Anne Arundel. A fazenda tem 20 cavalos e está atolada em dívidas. "Se ninguém tivesse as slot machines, então seríamos iguais a todo mundo", disse Clagett, de quem o pai foi um ícone da cadeia produtiva da equideocultura de Maryland.
Alguns criadores locais não resistem e saem em busca de bolsas de apostas mais gordas nos Estados nos quais as slot machines foram instituídas, praticamente abandonando o território inimigo. Dessa maneira, enviam para a Pensilvânia suas éguas para reprodução e potros e filhotes de raça para concorrer às bolsas de prêmios mais vantajosos e bônus distribuídos aos proprietários de cavalos de raça.
Estes bônus - extraídos de um fundo estadual de criadores - são concedidos aos proprietários de um cavalo vencedor e aos proprietários do garanhão e da égua que o geraram. Os bônus, que atraem os proprietários com mais freqüência em um Estado, se tornam parte de um ciclo de sucesso. A competição mais intensa leva a um melhor atendimento, o que significa um número maior de apostas resultando em bolsas mais significativas. E bolsas maiores significam mais cavalos. A defasagem de Maryland se faz vista nesse quesito também: seu fundo de criadores tem cerca de US$ 4 milhões, pouco em comparação com os US$ 20 milhões de Pensilvânia.
"Preferimos competir em Maryland, mas os prêmios são menores, e os custos para manter e alimentar os cavalos são excessivos", disse Wayne Morris, um criador de cavalos de Maryland que no ano passado enviou cinco de suas éguas para centro de reprodução Northview, na Pensilvânia. "Nós queremos permanecer no negócio, mas você não pode permanecer no negócio se está se afogando em dívidas. A maioria das fazendas tem perdas consideráveis, mas a reprodução na Pensilvânia nos dará a renda adicional".
Embora Bowman tenha algumas dúvidas sobre o jogo patrocinado pelo Estado, ele apóia a instalação de slot machines na esperança de que o novo cenário permita que pelo menos um de seus filhos possa sucedê-lo como veterinário em Northview, quando se aposentar.
"Meu filho quer voltar a Maryland e continuar o meu trabalho", disse Bowman, 68 anos. "Eu sou um cristão muito devoto e eu conversei com um estudioso da Bíblia que disse que em nenhum lugar da Bíblia diz que jogos de azar são imorais. Mas o que é difícil é quando os mais desfavorecidos perdem. Há alguma verdade nisso".
No aeroporto do Estado de Maryland, em Timonium, no qual cavalos puros-sangues passaram a semana sendo preparados para um leilão, os agentes concordam que os cavalos de raça de Maryland habitualmente custam menos do que animais semelhantes em estados vizinhos.
"É mais fácil vender animais PA-Bred (Programa de Registro de animais da Pensilvania)", disse James Crupi, um agente com base na Flórida. "Eu tenho poucas éguas e eu não considero efetuar partos em Maryland. Geralmente as trago para a Pensilvânia, Nova York ou Canadá”.
Bill Reightler, um agente de Maryland, concorda. "Nós estamos na mesma. Continuamos a ter uma clientela de criadores aqui, mas atualmente eles enviam seus cavalos para a Pensilvânia".
Na Northview, Bowman disse que ele tinha conseguido manter lucros consideráveis até alguns anos atrás. Agora, ele mal consegue pagar garanhões novos. É por isso que ele e seu sócio, o ex-magnata do setor de vestuários, Richard Golden, criaram a Northview Stallion Station's há cerca de 40 minutos da divisa com o estado da Pensilvânia.
É aqui que todos os sinais apontam para a ressurreição de Northview. Dois novos celeiros de US$ 450 mil para éguas reprodutoras, com 77 éguas e 45 potros e um terceiro celeiro está a caminho. Dezenas de fêmeas com suas crias aconchegadas debaixo delas, descansam nos paddocks uniformemente dispostos à sombra dos carvalhos. A enorme placa na frente não ajuda, mas gaba-se “Northview PA: Onde um futuro brilhante começa.
Fonte: The Washington Post
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