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sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Na Argentina, um tango para imortalizar J.Ricardo, por Paulo Gama


Quando a pequena Giovanna, de apenas quatro anos, disse “Ola” ao telefone no seu inconfundível castelhano, confesso que estranhei a música de fundo. Era um ritmo diferente para os meus ouvidos. Jorge Ricardo conseguiu finalmente tomar o telefone das mãos de sua filha e logo esclareceu. “Eu estava ouvindo um tango que fizeram em minha homenagem aqui em Buenos Aires”. Depois de ler para mim alguns versos do compositor Juan Carlos Macre, responsável por letra e música, mais uma vez na minha vida deparei com a imensa paixão dos argentinos pelo turfe. Macre é cantor, compositor e nas horas vagas ainda encontra tempo para treinar cavalos de corrida.

O tango de sua autoria, intitulado “Ricardinho, El mais grande Del mundo”, começa com os versos “Soa La campana de largada”, e daí em diante ele desfila versos épicos sobre os feitos do jóquei brasileiro nas pistas, com a emoção típica dos argentinos. Na vibração das tribunas lotadas e na referência aos “burreros”, como são chamados os aficionados no esporte em Buenos Aires, Macre exalta o ídolo e o homem. São linhas revestidas de tanto carinho e admiração, que qualquer fã do piloto teria orgulho de assinar a autoria.

Ricardo sente-se orgulhoso de ter conquistado o amor e o respeito do povo argentino. Fala da atenção recebida dos membros do seu fã clube e da rivalidade com os torcedores de Pablo Falero. “Aqui é fogo. Os turfistas são alucinados. Eles gritam, torcem e defendem os seus ídolos com unhas e dentes”. Ricardinho vive a expectativa de recuperar o recorde mundial de vitórias. Agora, apenas 16 triunfos o separam do canadense, Russel Baze. Ricardo reconhece que o fato de Baze não montar as terças, quartas e quintas-feiras o têm ajudado a se aproximar. Lembra, entretanto, que ele compete em provas mais fracas e contra menos concorrentes. “Aqui o bicho pega. São mais de 200 jóqueis. Tem gente de outras províncias, além dos pilotos radicados em Buenos Aires. Temos corrida todo dia e muitos páreos, mas para cruzar na frente é um tremendo sacrifício”, explica.

A vitória na estatística geral de 2.011 não foi muito comemorada por Jorge Ricardo. Ele perdeu nos dois principais hipódromos para o uruguaio Pablo Falero. As 94 vitórias em La Plata, hipódromo aonde o rival não vai montar, lhe proporcionaram o triunfo. Em Palermo, Falero livrou a pequena vantagem de sete triunfos. E, em San Isidro, conseguiu 25 vitórias a mais do que o brasileiro. Mas ele se diz motivado para brigar em todas as frentes. “Eu vou montar em La Plata por causa do recorde mundial e não pela disputa doméstica com Falero. É claro que se ele der chance eu vou tentar vencer em todos os lugares. Mas não posso abrir mão de mais de 90 vitórias. Estou perto do recorde devido ao esforço de ir a La Plata. Do contrário, eu ainda estaria a mais de 100 vitórias de Russel Baze. Este é o objetivo maior da minha carreira profissional. Eu quero parar com o recorde mundial”, afirma.

Feliz com a gravidez da mulher, Renata, que vai ter uma menina em breve, Ricardinho não faz planos para o futuro. Admite ter muita saudade dos filhos brasileiros, Jorge Antônio e Nicole, mas só pretende montar no Brasil de forma esporádica. O jóquei descarta também a possibilidade de ser treinador. ”Não pretendo seguir na profissão de treinador quando parar de montar. Talvez faça um curso de jornalismo e possa ser comentarista ou alguma outra coisa. Mas aturar reclamação de proprietário é uma coisa que não desejo para mim e nem para o meu pior inimigo”, brinca.

site Raia Leve

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