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domingo, 4 de dezembro de 2011

Floreando, por Milton Lodi

HARAS FECHADOS (VIII)

Uma das mais simpáticas e agradáveis pessoas que conheci foi Luiz Carlos Leão, cuja família tinha como negócio o Mate Leão. Ele tinha um pequeno haras no Paraná, sua terra natal, de nome Primavera. Ele morou durante muitos anos no Rio, e ia semanalmente a Curitiba comandar o seu negócio familiar. Ia nas segundas ou terças-feiras pela manhã e voltava nas sextas. Luiz Carlos tinha grande prestígio pessoal, dentro e fora do turfe, sendo que chegou a candidato à Presidência do Jockey Club do Paraná. Com a morte de Luiz Carlos, o Haras Primavera deu lugar a outro de propriedade de Max Rosemann, que deu um novo impulso. Max elegeu-se Deputado Federal e, por muitos anos, foi a voz do turfe no Congresso. As mortes prematuras de Luiz Carlos Leão e de Max Rosemann abriram uma lacuna no turfe paranaense.

O Haras Dark Prince era de propriedade do gaúcho Jacob Guariglia, radicado em São Paulo. O nome do haras foi em homenagem a um corredor que lhe deu muitas alegrias. O haras ficava na zona de Arujá, não era grande, mas muito bem cuidado pela mulher de Guariglia, de nome Hercília, uma “rica senhora” que com esmero e dedicação criava os potros e cuidava das éguas. O reprodutor Dark Prince não era considerado o principal, pois o haras comprou um nacional tríplice coroado de nome Criolan, da criação dos Haras São José & Expedictus. Criolan foi um corredor muito bom, mas no haras nada produziu de relevo, apesar do trabalho e das esperanças de Jacob Guariglia e sua apaixonada e competente mulher D. Hercília. O fracasso do Haras Dark Prince e o avançar da idade dos donos decretou o encerramento das atividades.

No Estado do Rio de Janeiro, não na zona serrana de Petrópolis, Teresópolis e Friburgo, mas em Jacarepaguá, o industrial e homem de negócios Stanley Hime implantou um haras muito charmoso. Chegou a importar da Inglaterra ou Irlanda um cavalo de pedigree régio, de nome Good Cheea, que era filho de Felicitation e Malva, esta a mãe de King Salmon. Era um lindíssimo cavalo, mas de temperamento duvidoso. Com a morte de Stanley, os dois filhos arrendaram a propriedade para Abelardo Acceta, que deu-lhe o nome de Haras Fidalgo. A eguada era boa, acima da média, e dois garanhões importantes foram comprados, ambos por indicação de Roberto Seabra. Marveil era um francês, filho de Djebel, e Mogul, um alemão filho de Ticino. Os pedigrees eram o que havia de especial, mas nos resultados não corresponderam, já que eram dois garanhões para distâncias clássicas e, à época, as distâncias curtas enchiam os programas, de modo provinciano. O Haras Fidalgo criava bem, os seus potros eram bonitos, chegaram a ganhar uma exposição de potros, inclusive, como melhor conjunto, mas a atividade foi vencida por um detalhe superior, isto é, a inadequação do lugar para criar. Em Jacarepaguá o clima normalmente é quente e úmido, a maior parte dos animais, no verão, para de suar, é um horror. O Haras Fidalgo foi vencido pela natureza inadequada para criar cavalos naquele lugar.

O Haras Artim era de dois amigos, e um deles, de nome Thimóteo Campos, tocava o haras. O Haras Artim ficava nas proximidades de Campinas (SP), e conquistou até bons resultados, mas na média era médio. Thimóteo Campos costuma utilizar-se de garanhões dos haras maiores, entre eles Wood Note e Four Hills, mas a propriedade era muito acidentada e a ordem era investir apenas o mínimo indispensável. Garanhões aceitos se graciosamente, chão inadequado, quase nenhuma renovação do plantel, criação visando exclusivamente os leilões e não melhoria constante mirando provas nobres, certamente o caminho não era o mais adequado para um sucesso maior, mas mesmo assim, o Artim teve bons momentos nas pistas. Com o envelhecimento do plantel e do entusiasmo de Thimóteo Campos, o haras acabou.

Matias Machline, criador e proprietário que deixou muitas saudades, além de animais correndo em Cidade Jardim e na Gávea, onde tinha cocheiras, teve quatro núcleos criacionais. O principal era o seu Rosa do Sul, em Atibaia (SP), terras compradas de Antonio Luiz Ferraz. A mãe de Matias chamava-se Rosa, e era de Bagé, no sul do país, daí o nome de Rosa do Sul. Os investimentos maciços e o sucesso aumentaram em muito o número de animais. Foi comprada uma área no município de Piraquara, com interveniência de Alceu Athayde e Aramys Bertholdi e, lá montada uma seção paranaense, do Rosa do Sul, lá sendo mantidos dois ou três garanhões e um bom número de éguas. Em Piraquara também ficavam os potros em final de criação. Uma terceira área foi comprada no Paraná, o tradicional Haras São Joaquim, do médico Paulo Camargo. Essa área tinha ótimas pastagens e clima apropriado para a criação, posteriormente, Matias comprou um haras inteiro, inclusive, com as cercas de 40 éguas, distante cerca de 400Km de Buenos Aires, Argentina. A morte de Matias em um desastre de helicóptero nos Estados Unidos precipitou uma catástrofe financeira nos negócios. O haras em Atibaia está na Justiça como garantia de eventuais direitos de cerca de 7 mil funcionários, e todos os animais vendidos. O haras em Piraquara foi para as mãos do governo, onde é hoje reserva ecológica, florestal ou semelhante. O ex-Haras São Joaquim foi vendido, loteado, e hoje é uma das áreas nobres residenciais de Curitiba. O haras na Argentina é hoje o Haras La Providencia, de José Luiz Depieri. A grande quantidade de animais foi toda vendida em sucessivos leilões, e assim extingui-se um dos melhores e mais vitoriosos haras brasileiros de todos os tempos. Matias Machline era um mega empresário, de rara inteligência e, acima de tudo, um bom amigo.

Mário Diffini era um bom advogado gaúcho, que morava em Porto Alegre e era o titular do Haras Boa Vista, no próprio município de Porto Alegre. O início do Haras Boa Vista foi com o garanhão nacional Tajar, mas a estreita amizade de Mário Diffini com Antonio Joaquim Peixoto de Castro Junior resultou na ida de Quinto e Retiro, dois muitos bons corredores do Mondesir. Houve uma boa melhoria e Mário Diffini, com os dois citados ótimos milheiros, atingiu um bom padrão. O Haras Boa Vista terminou quando o seu titular morreu atropelado quando andava por uma calçada, atingido por um ônibus desgovernado.

O Dr. Peixoto vendeu o seu Haras Itaiassú (RS) para João Chaves Barcellos, homem bom, mas de temperamento difícil, e que lá instalou seu Haras Cinamomo. O relativo sucesso do Cinamomo foi em grande parte devido ao então supervisor técnico Luiz Fernando Cirne Lima, posteriormente, um admirável Ministro da Agricultura. Como de hábito, o amor e a paixão pelos cavalos não se estendem de pai para filho, e o Cinamomo acabou com o tempo.

Um desfalque importante para a criação brasileira foi o fechamento das atividades do Haras Pemale. O Pemale brilhou com uma orientação inteligente, teve em mãos garanhões importantes como Clackson e Jarraar, por exemplo. Seu proprietário Pedro Jarbas Merlo obteve grande sucesso. O nome Pemale foi composto com a primeira sílaba dos nomes dos três filhos. O haras não terminou subitamente, foi desacelerando por etapas, as suas pastagens abrigaram temporariamente animais de outros criadores, até parar. Foi uma grande pena, o turfe brasileiro não poder contar com o vitorioso Haras Pemale.

O Haras Albatroz ficava em São Paulo, perto da cidade de Salto. O seu proprietário era Caetano Benito Liberatore, que o mantinha pequeno e competitivo. Caetano chegou a Presidente da Comissão de Corridas do Jockey Club de São Paulo, era muito ativo e trabalhador. Antes de ocupar a citada Presidência foi o Secretário de Edmundo Pires de Oliveira Dias. Uma doença impediu Caetano de prosseguir com a sua dedicação teve que parar com o seu trabalho e com a atividade com os cavalos. Assim, acabou o Haras Albatroz.

Antonio e José Luiz Depieri, pai e filho, do ramo farmacêutico, iniciaram em Avaré (SP), um modelar haras. Tinham se iniciado no turfe como pequenos proprietários, e se entusiasmaram. Deram ao haras o nome de Equilia, um nome sem tradução exata, mas que, evocava cavalos, como se fosse “terra dos cavalos”. Muito organizados, altamente em linha técnica, serviram-se das luzes do Hipólogo Bertrand Joachim Kauffmann para comprar cavalos e éguas de boa categoria. Bertrand importou para o Equilia o bom Nugget Point, entre outros bons valores, e a boa organização e a rígida linha técnica, fizeram do Equilia um haras grande ganhador, à época, um dos principais do país. Após a morte do pai Antonio, o filho José Luiz fechou o Equilia em Avaré, que contava até com uma ótima pista de treinamento, e comprou as terras argentinas do Haras Rosa do Sul. Matias Machline havia, anteriormente, comprado um haras de porteiras fechadas, distante 400Km de Buenos Aires, e lá instalou um haras com o nome de Rosa Del Sur, após ter trazido todo o plantel do antigo haras para o Rosa do Sul em Atibaia (SP). Só éguas eram 40. Para o setor argentino foi até o campeão Dark Brown, em um investimento e organização de grandes portes. Com o tempo, o Haras Rosa del Sur, após produzir muito bem, dentro do proposto, foi perdendo forças, e ai entrou José Luiz Depieri, que fechou o Equilia e passou a criar na Argentina, nas terras do antigo Rosa del Sur, com o novo nome de Haras La Providencia. Morreu o Equilia, nasceu o La Providencia.

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