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segunda-feira, 12 de dezembro de 2011
Corridas de cavalos atraem centenas de milhares de mongóis
12:19, 31 de agosto de 2011 Haroldo CastroGeral Tags: Festas, Mongólia
As corridas de cavalo que acontecem nas províncias mongóis antes do festival nacional Naadam (veja crônica anterior) têm como objetivo preparar cavalos, treinadores e crianças-jóqueis para o sonho de todo mongol: ganhar algum prêmio durante a maior festividade do país, realizada na capital Ulaanbaatar (UB).
Se no primeiro dia da festa as ruas da capital parecem um misto de carnaval e 7 de Setembro, o segundo é reservado para assistir as corridas de cavalo realizadas nas estepes Hui Doloon Hudag, a 30 km da cidade. Pelo menos a metade dos habitantes da cidade querem passar o dia lá, todos no mesmo lugar.
Mesmo se UB possuísse uma infraestrutura de avenidas, saídas alternativas e rodovias, o congestionamento de pessoas e veículos seria dificilmente evitado. Mas como UB não possui nada disso, o resultado é o maior congestionamento que experimentei na vida! Nem o Túnel Hudson para entrar em Nova York, nem o periférico de Paris, nem as confusões de Delhi ou de Jakarta chegam aos pés da loucura que é sair – e depois regressar – à cidade. Talvez as marginais Tietê e Pinheiros (SP) entupidas possam chegar perto… Nessa hora, só o senso de humor para vencer o estresse.
O aspecto mais interessante desse monstruoso congestionamento é que os motoristas mongóis continuam tendo alma de cavaleiros e que seus veículos encaram qualquer terreno, mesmo não sendo 4×4. Logo na saída da cidade, a estrada de duas vias é tomada por duas filas de carro, uma delas na contramão. Quem quiser entrar na cidade, simplesmente não tem espaço.
Mesmo se o engarrafamento é grande, o clima é de festa, com bandeiras nacionais ao vento e muita vontade de ver as corridas de cavalo.
Quando a estrada ganha acostamentos, os veículos se distribuem nas laterais. Numa rodovia de apenas duas vias, consegui contar – inacreditável, mas verdadeiro – 11 carros lado a lado disputando espaço! Até o acostamento do acostamento vira pista. Como o evento acontece anualmente, algumas lições foram aprendidas nos Naadams anteriores: uma delas foi criar uma dúzia de espaçosos estacionamentos, em diferentes áreas, ao redor de Hui Doloon Hudag.
No local, quando alcanço o topo da primeira colina, descubro uma cena inusitada: dezenas de milhares de pessoas se espalham pelas estepes verdes. Como se fossem insetos buscando alimento, os pontinhos negros se movimentam entre centenas de tendas nômades, as gers. Agora é preciso caminhar e para alcançar a linha de chegada da competição tenho mais de 2 km pela frente.
Um ambiente de quermesse toma conta das estepes de Hui Doloon Hudag. O conjunto de tendas azuis (no centro) é uma exposição cultural.
Durante a caminhada noto que dezenas de jóqueis se reunem em torno de uma bandeira mongol. Os meninos chegam de todas direções. Como os animais não podem ficar parados, os competidores circulam ao redor do pavilhão nacional e de uma 4×4 que servirá, em breve, de carro indicador que deve ser seguido.
Quatro jovens dirigem-se ao ponto de encontro. De lá, mais de 200 cavalos partirão para o lugar onde começará a corrida.
Esta é a última corrida do Naadam, reservada para animais com menos de 2 anos, chamados Daaga. Na véspera, competiram os garanhões (cavalos não castrados, Azarga) e os de menos de 7 anos (Ikh Nas). Pela manhã, correram os que não atingiram 5 anos (Soyoolon), considerados os mais velozes. As idades são conferidas pelos juízes que checam o número de dentes dos animais.
O sol do meio-dia continua a esquentar. Imagino os meninos e as meninas disputando os 20 km da corrida. Suor, calor e poeira, sem, ao menos, ter uma garrafinha de água mineral no bolso.
Uma hora depois, quando discutimos se vale a pena esperar ou não a chegada, ouço a reação do público ao ver uma fumacinha no horizonte. É o pó levantado pelos cascos a galope: os cavalos estão chegando! Consigo uma posição de frente para a linha final e espero a horda de pequenos Gengis Khans.
Mais de setenta animais estão na reta final para a chegada da última competição do Naadam 2011.
Nas últimas centenas de metros, os chicotes são mais utilizados e os meninos usam toda sua energia para ganhar uma posição adicional.
A corrida termina, mas precisamos regressar à UB, uma tarefa pior que cavalgar 20 km nas estepes. “Um verdadeiro programa de índio”, proclama uma das viajantes brasileiras, estressada com o congestionamento e não acostumada com o ambiente seco e quente.
por Haroldo Castro
transc. Época - http://colunas.epoca.globo.com
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