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segunda-feira, 24 de outubro de 2011
Jorge Ricardo, meio século
O fenômeno Jorge Ricardo completou 50 anos
Jorge Ricardo, o jóquei mais vitorioso do turfe brasileiro de todos os tempos, completou 50 anos no mês passado. Junto com o bolo de aniversário veio a boa notícia de que ele será pai pela quarta vez. Renata, a sua mulher, mãe de Giovana, está grávida. Recuperado de um linfoma, que o afastou das pistas por oito meses em 2.009, Ricardinho lidera a estatística geral de jóqueis na Argentina, com mais de 300 vitórias e aproxima-se do recordista mundial de vitórias, Russel Baze. Jorge Ricardo vive momento mágico em sua carreira profissional com o Stud Rubio B, coudelaria de quem é jóquei contratado, na liderança da estatística da Argentina por vitórias, prêmios e na esfera clássica.
“Eu preferia ter apenas 20 anos”, afirma e solta uma gargalhada. “Gostaria de voltar atrás e passar por todas as alegrias de novo. Eu sou muito grato a Deus por tudo o que consegui. É claro que hoje tenho uma cabeça diferente e também outro pensamento sobre várias coisas. Estou mais maduro, mas fisicamente me sinto tão bem e tenho ganhado tantas corridas que não consigo me sentir com 50 anos. Na verdade, não me lembro de nenhum atleta, de qualquer esporte, que tenha o meu desempenho com a minha idade. Todos os colegas do meu início de carreira se aposentaram. Ah, minto tem este Russel Baze, do outro lado do mundo, apenas um ano mais velho do que eu para me dar canseira”.
A vantagem sobre o jóquei uruguaio Pablo Falero está acima de 70 vitórias. Ricardo admite que a parada seja dura em Buenos Aires, com ele a frente do rival em apenas 10 triunfos no Hipódromo de Palermo e um ponto a menos em San Isidro. Mas a ampla superioridade em La Plata, aonde Falero raramente monta, lhe garante a liderança. Na soma geral de vitórias, até a última terça-feira, Ricardo estava com 11.324 triunfos contra 11.379 de Russel Baze. “Já venci quase 2.000 páreos na Argentina desde que me mudei para cá. Mas a minha maior preocupação agora não é a estatística local e sim recuperar o recorde mundial”.
Ricardo garante não ter traçado metas para o futuro. Hoje monta por puro prazer. Gosta de aproveitar a vida assim. Tem plena consciência de que daqui a alguns anos terá que parar, mas procura não pensar no assunto para na perder o foco. O campeão assegura ser mais exigente com ele próprio do que o mais devotado fã. Por isso tem absoluta certeza que vai saber o momento certo de pendurar o chicote.
“As pessoas bem sucedidas procuram fazer o que mais gostam no seu dia a dia. Este é o motivo de ainda não ter parado de montar. Nada me traz maior alegria do que montar e ganhar. Eu fico igual a uma criança quando ganha de presente um brinquedo depois de cada páreo que venço. Sei que existem outras coisas legais para fazer. Viajar, curtir os amigos e a família e passear. Quando eu parar de montar vou ficar pelo menos um ano sem pensar em cavalos e corridas”, promete.
Jorge Ricardo aponta duas diferenças básicas entre o turfe brasileiro e o argentino. Em primeiro lugar, o aspecto cultural. Os hermanos, segundo o jóquei, têm paixão pela atividade turfística e este sentimento está integrado nos hábitos do seu cotidiano. O outro fator é o apoio financeiro governamental. ”A Argentina vive crise política e financeira. É um momento complicado. Mas os criadores e proprietários não param de investir pesado no turfe. A Loteria do governo dá subsídios todo mês, em torno de 5 a 6 milhões de pesos para ajudar os Hipódromos de San Isidro e La Plata. A égua Life For Sale, do Stud Rubio B, tríplice-coroada em La Plata, já faturou mais de 250 mil pesos. Possui oito vitórias em oito saídas”.
Viver fora do Brasil não é mais problema para Jorge Ricardo. O público argentino lhe quer muito bem. Ele faz questão de afirmar que sua popularidade é muito maior em Buenos Aires do que no Rio de Janeiro, aonde nasceu e conquistou a maior parte das vitórias de sua carreira. O período em que esteve doente e o drama por ele enfrentado comoveram bastante a opinião pública argentina. A sua fibra e coragem para dar a volta por cima e voltar no mais alto nível para competir conquistaram a simpatia e o respeito dos hermanos.
“Sinto falta do meu país, dos amigos e da família. Mas fui muito bem acolhido aqui em Buenos Aires. As pessoas me pedem autógrafos nas ruas e as crianças me param para tirar fotos. Depois que superei o problema de saúde este carinho aumentou ainda mais. Eles me tratam como se eu fosse um herói. Fiquei comovido com a recepção que tive no primeiro dia em que voltei às pistas. Foram tantos gritos, palmas, lenços e sombreiros sacudidos que as lágrimas rolaram e tive dificuldade de me equilibrar no dorso do cavalo”.
Ricardo Benedicto, titular do Stud Rubio B, tem relação muito próxima com Ricardinho e sua família. O jóquei costuma dizer que ele até parece um segundo pai para ele. Emocionado, fala da solidariedade recebida nos momentos difíceis em 2.009.”Ele nunca saiu do meu lado quando mais precisei. Foi o amigo de todas as horas. Seu Ricardo sempre diz que quando eu resolver parar de montar vou continuar a trabalhar com ele. Fico feliz com isso e também por ter contribuído para o descomunal salto de qualidade do Stud Rubio B desde que vim para Buenos Aires. Hoje temos uma das coudelarias mais fortes do país, com dois haras maravilhosos e resultados inquestionáveis. E o homem gosta muito de corrida. Esta semana ganhei com um cavalo de cinco anos e apenas uma vitória. Não é que ele saiu do trabalho as pressas e chegou a tempo de vibrar com o triunfo do matungo como se fosse uma prova clássica. Este entusiasmo do patrão contagia toda a equipe”.
Com relação aos rivais no dia a dia das pistas, Ricardo reconhece que Pablo Falero é o mais difícil de ser batido. Ele aponta o jóquei uruguaio como o grande nome do turfe argentino da última década. Mas faz questão de citar outros excelentes jóqueis em atividade no país. ”Julio Cesar Mendez, Juan Noriega, Gustavo Calvente e o Altair Domingos também são excelentes pilotos. Mas o Falero tem o respaldo de alguns treinadores importantes, o que lhe permite muitas oportunidades”.
No duelo entre os dois estrangeiros, Ricardo acha que conta com maior simpatia do povo argentino. O seu jeito carioca de cumprimentar a todos conquistou os “burreros”, como são chamados os carreiristas locais. “O Falero é um cara mais introvertido e neste ponto levo vantagem. Mas o duelo só existe na cabeça dos turfistas. Bem diferente do Brasil, nos tempos do Juvenal, em que a imprensa criava todo um clima de confronto entre eu e ele para promover os eventos. Bons tempos aqueles”, recorda.
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