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segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Floreando, por Milton Lodi

HARAS FECHADOS (III)

Nos primórdios do turfe brasileiro, destacavam-se dois criadores, grandes investidores, os Haras São José & Expedictus, ambos em São Paulo, um em Rio Claro (perto de Limeira) e o outro em Botucatu, ambos fundados e de propriedade da mais importante figura do turfe nacional, Linneo de Paula Machado. Além do benemérito Linneo, Antonio Joaquim Peixoto de Castro Júnior montou dois excelentes haras, o Mondesir em Lorena, São Paulo, e o Itaiassú, no Rio Grande do Sul. À época da grande instabilidade política, por volta de 1950, com sérias ameaças de invasão de terras, principalmente, no sul do país, o Dr. Peixoto recebeu inesperadamente uma excelente proposta pelo Itaiassú, e vendeu o haras. O seu Mondesir, celeiro de onde saíram muitos e muitos ganhadores das mais importantes provas do calendário clássico brasileiro, após a morte de seu fundador, foi comprado dos outros herdeiros por dois netos, Antonio Joaquim e Paulo Cezar, e que, em atitude de grande audácia, transferiram todo o plantel para um novo implantado haras em Bagé. O resultado foi espetacular, pois não só as maravilhosas terras deram ainda maior alento em termos de qualidade física, como também, provocaram a ida para aquele município gaúcho de muitos outros haras, que para lá foram, constituindo hoje e já de algum tempo, o melhor núcleo criacional do país. Por outro lado, os Haras São José & Expedictus produziram durante muitos anos o que havia de melhor, e nos 100 anos de vida desses haras, um número impressionante de vitórias e êxitos coroaram a imagem lúcida de Linneo, benemérito, o principal nome do turfe brasileiro. Com a morte de Linneo, em um desastre de avião, voltando de São Paulo para o Rio após uma de suas costumeiras idas para fiscalização, o comando passou para dois filhos, que mantiveram os haras São José & Expedictus em evidência ante as repetidas vitórias.

Com o tempo, com o crescente aumento da competitividade, o haras de Botucatu, o Expedictus, foi vendido para outras finalidades, e o São José ainda permaneceu quando passou às mãos do neto do fundador de nome também Lineu de Paula Machado (mesmo nome, mas com grafia diferente). O Haras São José, o de Rio Claro (SP), deixou de criar cavalos, passou a ser uma propriedade agrícola da família Paula Machado. O moço Lineu, na nova fase, mandou umas tantas éguas para serem criadas no Haras Fronteira PAP, em Bagé, em regime de pensionato, e a atividade turfística principal passou a ser o Centro de Treinamento Vale do Itajara, na região serrana de Petrópolis (RJ). É, na verdade, um Centro de Treinamento de exceção, no momento, com mais de 300 boxes e ainda com mais 150 em projeção, cocheiras modernas, amplas, arejadas, com boa luminosidade, uma piscina de fazer gosto, uma pista externa de areia, outra por dentro de grama e uma terceira de areia em fase final de reparo, água potável de primeira qualidade, clima de montanha proporcionando um máximo de condições para a recuperação dos animais, três passeadores, enfim, um espetáculo, além de um visual encantador. No município de Secretário, pertinho de Pedro do Rio, de lá tem saído muitos dos principais ganhadores de provas nobres em nosso país.

O Haras Expert durante muitos anos primou por produzir animais de muita capacidade, produtores clássicos que, em bom número, foram exportados com grande sucesso. Fundado pelo inesquecível Marcos Polacow teve em seu filho José Luiz um seguidor ainda mais conhecedor, mais entendido, mais técnico. Foi José Luiz quem descobriu o norte-americano Midnight Tiger, que como garanhão do Expert foi fantástico. José Luiz, uma das maiores autoridades do turfe que conheço, inteligentemente sempre se cercou de gente competente, tendo no princípio Oscar (Caito) Luiz Bianchi como consultor e hipólogos como Samir Abujamra. Com Midnight Tiger velho e o turfe brasileiro carecendo de melhores perspectivas, com o evidente esvaziamento dos haras paulistas, o Expert parou de criar e, hoje, pelo menos por enquanto, é uma familiar fazenda de lazer.

O Haras Paraíso, de Oscar (Caito) Luiz Bianchi e irmãos, funcionava com primor produzindo muito bem, até que num assalto à mão armada, o líder foi atingido por uma bala no rosto, o que resultou em graves conseqüências. Sem o líder na ativa, recolhido permanentemente em casa, o Haras Paraíso definhou, acabou terminando sendo vendido para outras finalidades.

O Haras Maringá tinha um nome curioso. O proprietário Mário Ribeiro Nunes Galvão tirou “Ma” de Mário, “Ri” de Ribeiro, “N” de Nunes e “Ga” de Galvão e, assim construiu o nome do haras. O Maringá começou na zona de Atibaia, depois a propriedade foi vendida e o haras transferiu-se para uma área no Posto de Monta de Campinas, onde produziu bem, e muitos anos depois a área foi vendida para outras finalidades e os animais levados para nova e grande propriedade em Cesário Lange. Mas os êxitos da criação começaram a definhar, e o Maringá passou no final a apenas recriar potros, sempre machos. Entre o Posto e Cesário Lange, Mário Galvão comprou uma propriedade no Paraná, e por alguns anos lá criou os seus potros. Mas não deu certo, pouco tempo, um ou dois meses antes de morrer, Mário Galvão conseguiu vender as suas terras no Paraná. Mário Ribeiro Nunes Galvão, que ocupou várias posições nas administrações do Jockey Club de São Paulo nas gestões de João Adhemar de Almeida Prado e de Hernani Azevedo Silva, sucedeu Hernani na Presidência do Clube, já depois de ter presidido a Sociedade de Criadores e Proprietários de Cavalos de Corrida de São Paulo.

O último Haras Maringá, o de Cesário Lange, é uma fazenda de lazer da família da viúva.

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