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quinta-feira, 29 de setembro de 2011
MÁRIO ROZANO...DE TURFE UM POUCO...]
Corridas pela televisão...
Nas últimas duas décadas, a relação que existia entre o público que acompanhava as corridas de cavalo das arquibancadas dos nossos hipódromos praticamente despareceu. Na Gávea, um dos seus pavilhões é utilizado por uma multinacional para captar apostas e promover corridas, de vários hipódromos do mundo, concorrendo diretamente com Jockey Club Brasileiro, mediante um acordo de cooperação, que deve oferecer contrapartidas vantajosas (?) a entidade, aparentemente.
Mas será que este intercambio não provoca a abstração do público às corridas que acontecem no mesmo momento e no mesmo ambiente, e mais, é compensador para o Jockey Club?
Talvez para o público não o seja, pois tem um aspecto que provoca sério desfalque na carteira. Ou não perceberam ou não estão interessados. Cabe esclarecer, ou pelo menos tentar, é simples: as corridas do exterior não detém os atrativos da análise dos páreos ao vivo, no prado, pode-se avaliar “in loco”, minuciosamente os animais no paddock e no passeio; conversar com os profissionais; observar as reações dos enigmáticos turfistas, que escondem o seu palpite, a barbada de cocheira, e por aí segue. Com este handicap, a possibilidade dos apostadores freqüentarem o guichê com maior assiduidade, possui percentual elevado, não tenho dúvidas.
Tem outro aspecto, e ao que parece vem sendo sonegado nos últimos anos ao público - que ao lado do cavalo é protagonista neste cenário -, é a falta de atenção ao turfista do prado. E este, traz consigo uma situação interessante com a sua presença constante: o tesoureiro da entidade vai sorrir no final da jornada.
A princípio este exercício fica no terreno da teoria, porque na prática as coisas nem sempre são como desejamos que fossem, ou são, e passam impercebíveis por olhares de outrem, mirando ao largo algo que não alcançamos.
Antes do advento das agências com transmissões ao vivo, os hipódromos tinham seu público cativo, desde as matinais a última salvadora pule do encerramento, que também não era a garantia de um retorno motorizado ao lar ou ao bar. O que era uma saudável procura do vencedor, pouco ocorre hoje em dia. Não resta dúvida que era um evento atraente para muitos saudosistas e solitários sobreviventes dessa digna estirpe em extinção.
Olhando fotografias – que ainda não estão amareladas, até porque o scanner se encarrega desta tarefa - aquelas pessoas no anonimato da platéia; apostadores e público, torciam pelos seus favoritos de pé, com a atenção exclusiva na pista, ao vivo e sem monitores. Tudo por una cabeza...
Privilégio era situar-se na altura da entrada da reta, no espelho, nos primeiros degraus ou junto à cerca, e como todos, vibrar com o desenrolar de braços levantados, e todos gritando sem parar; ao mesmo tempo e, contra todos!
Convenhamos, eram poucos que levavam binóculos nas especiais, e estes se rasgavam sem fôlego com a carreira, quase por contágio, sem temer com a individualização do aparato.
Esta situação se potencializava em páreos cheios e parelhos, aonde a cada momento à frente do pelotão vinham trocando notas em alto tom, ora o Violino do Rigoni, ora a magia oculta do Feiticeiro; e o Bequinho, que assumia o freio do Dendico; bem mais distantes, para os atentos aficionados Sul pelo Prata, o mano a mano Artigas/Leguisamo. Redivivos com a dupla Ricardo/Juvenal dos 80 -, e assim desciam pelo direto até cruzarem o disco final.
Que tempos aqueles dos pavilhões! No sinal dos 100 metros, em posição, com a bandeira hasteada de torcedor, quase professoral o brado era letal – Lá vem o Juvenal! E não era uma estrelar, um seis anos perdedores, subia a rampa dos vencedores com a glória e os aplausos de notável ganhador.
Veio então um período de completa incerteza, as novas tecnologias avançavam no culto ao sucesso imediato e rentável de uma aposta absurda, quer pelo investimento, como por uma rentabilidade obscura para todos, com a exceção que acompanha a razão.
A tecnologia mudou tudo. A maioria hoje está sentada com ar condicionado ligado. Agora a corrida é na tela. Os ídolos e seus fãs estão restritos as polegadas. A prerrogativa de escolher a melhor aposta, quer dizer, o monitor mais adequado é total: 22, 32, 42 e até 52. E o replay? Este é um caso totalmente a parte, digno de teses e teorias, com direito a inúmeras interpretações e conclusões. Para completar, tem a câmara lenta, em vários estágios.
Claro que, tudo mudou, é improvável que os mais viajados voltem aos locais que estão colados na mala de lona, que guardada aguarda ser reciclada. A mochila substituiu a mala, com bastante conforto, apesar de algumas dores nas costa. Imaginaram se não houvessem mochilas?
Novos tempos, a televisão e a internet acabaram com as incertezas iniciais. Hoje se sabe mais sobre as corridas recolhido ao conforto da sala de estar do flat ou do escritório de trabalho, basta ter um lapdoc, um tablet ou smartphone e o cuidado de não apostar em um deles por engano – do que nas madrugadas dos aprontos.
As imagens ao vivo e distante dos hipódromos colocou o turfista dentro da carreira, de tal maneira que ele pode, inclusive, interagir, emitir opiniões e fazer prognósticos. Os entendidos em turfe crescem na mesma proporção que a tecnologia avança, evidentemente que, saber qual a diferença entre o psi e o marchador, é uma questão secundária, afinal, todos não são cavalos?
A mesma técnica que revolucionou o espetáculo de uma carreira ao vivo ofereceu ao espectador o conforto e facilidade de visualização dos momentos quadro a quadro, o desenrolar de uma disputa está a apenas alguns centímetros. Até é possível supor que surja um Le Pera para encantar com uma dose de romantismo, não estou enganado, é fora de época, deve ser um cantor de sertanejo, afinal é a moda.
Fica uma pergunta, com estes recursos de tecnologia disponíveis, que possibilita assistir ao vivo as corridas nos principais hipódromos do mundo, porque o turfe nacional não consegue se integrar e vender as suas corridas para o seu público? Ah! Pelo monitor é claro...
Mário Rozano
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