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quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Esclarecimentos finais, por Eduardo Buffara

O sr. Milton Lodi, pessoa ilustre, de grande tradição e importância no turfe nacional, é merecedor de todo respeito, mas parece nutrir uma inexplicável raiva do turfe paranaense. Tal sentimento é um direito que possui, mas, como se verá, não cabe me acusar de estar invertendo e misturando os assuntos.

Indo diretamente ao ponto, repito o que sr. Milton Lodi escreveu “...a enorme distância técnica entre os dois clubes da primeira faixa e os dois da segunda facilita a questão. No Paraná e no Rio Grande do Sul os seus G.G.P.P. Paraná e Bento Gonçalves são disputados e vencidos por cavalos que na Gávea e/ou Cidade Jardim são de padrão “4 anos com duas ou três vitórias”, no máximo corredores de “pesos especiais...”

O texto é claro: menciona a distância técnica do turfe paranaense (e gaúcho) perante o paulista e o carioca, e a fragilidade dos campos dos GP Paraná (e Bento Gonçalves). Em minha “réplica”, como diz o sr. Milton, procurei demonstrar com números e nomes que a distancia técnica não é assim tão enorme, haja vista líderes nacionais em treinamento aqui, inclusive nas 2 últimas gerações como em inúmeras outras, e os extremamente freqüentes êxitos de cavalos oriundos das disputas do Tarumã em clássicos de Grupo 1 no eixo Rio-São Paulo.

Sempre no escopo do assunto, a seguir relacionei ganhadores (e perdedores) do GP Paraná, exemplificando que na história desta prova figuram dezenas de grandes corredores, inclusive ganhadores dos GGPP Brasil, São Paulo, Derbies Paulista e Carioca, Pellegrini, e de outras grandes provas de Grupo 1. Afirmar que o GP Paraná é “fraco” porque nele não participaram grandes campeões num determinado ano é analisar sessenta e oito disputas com a amostragem de apenas uma. E justamente quando o sr. Milton lança mão deste expediente ao focar no ano de 2010, incorre em erros: disputaram o GP Paraná ano passado 2010 Jeca (ganhador de Grupo, 2º no GP São Paulo, 3º no GP Brasil e que deve disputar o GP Paraná novamente este ano), Tatamovitch (ganhador de Grupo), Quanto Mais (ganhador de Grupo), Uno Campione (ganhador de Grupo, correu o GP São Paulo), Nozze di Fígaro (possivelmente o melhor animal de areia da Gávea, múltipla ganhadora clássica), Haraquiri (2º em G2, correu o GP Brasil), Brilhante Mineral (2º em G1), entre outros. Com efeito, e contrariando o sr. Lodi, o GP Paraná, pelo menos até onde se pode pesquisar no Stud Book Brasileiro, nunca em 68 anos foi vencido por um animal de “4 anos/2 vitórias” (que dirá um de “4 anos/1 vitória...).

Comparar o numero de ganhadores de G1 atuando no GP Paraná 2010 com os dos GPs Brasil e São Paulo para justificar um rebaixamento (que, aliás, a quem interessaria?) é um argumento ao mesmo tempo tendencioso (o Paraná só tem 1 prova de G1, contra 12 ou 15 de SP e Rio, e são apenas 2 provas de G1 de areia em todo o País, contra cerca de 20 na grama) e perigoso: que tal se amanhã o mundo resolve equalizar as provas de Grupo baseados no premio? Que seria dos “G1” brasileiros dotados de US$ 21.000?

Gostaria de esclarecer que eu não defendi o Paraná mencionando os animais somente aqui nascidos, como Much Better e Sandpit, que por sinal nem aparecem em meu artigo. Isto sim seria misturar os tópicos e fugir do assunto. Frisei os animais que aqui correram e correm, o que serviu exatamente para contestar a alegada “falta de qualidade técnica” que é o mote da discussão.

É chato reprisar, mas o sr. Milton não consegue explicar como é que corridas “de padrão sofrível” como as que ele entende que são disputadas no Tarumã revelam animais como Thignon Boy, Gorylla, Too Friendly, Roxinho, Jeca, Sorrentino, Una Beleza, Eyjur, Setembro Chove, Jeton de Luxo, Vacilação, Itaquere Power, Skypilot, Valiantness, Byzantium, Neleo, Crystal Day e outros – todos corridos no Tarumã e todos ganhadores de Grupo 1 no Rio e em São Paulo. Ou ainda: porque é que uma prova tão desqualificada como o GP Paraná-Grupo 1, teve 7 dos últimos 12 ganhadores exportados? Ei-los: Jaburu Vip, Mr. Nedawi, Tango Uno, Baccarat, Mr. Pleasantfar (ganhador de G2 nos USA), Jack Grandi e Innamorato.

O sr. Milton repentinamente introduz na discussão aspectos políticos, eleitoreiros, criacionais, administrativos e até insinua que o nosso turfe produz “notícias não confiáveis” (?). E depois sou eu que “inverto e misturo assuntos”?

Nesta última ocasião, o sr. Lodi ofende o Jockey Club e o turfe do Paraná chamando o Tarumã repetidas vezes de “Centro de Treinamento”. Centros de Treinamento não promovem corridas há quase 150 anos. Centros de Treinamento não exportam animais. Centros de Treinamento não captam apostas. Há no Jockey Club do Paraná muitos turfistas, criadores, proprietários e profissionais atuantes (e não apenas aqui, mas em São Paulo, Rio, Porto Alegre e no exterior). Todos nós também merecemos respeito.

No mesmo texto, o sr. Milton diz que o Paraná “não atravessa ótimo momento no setor criacional”. É lamentável, mas ele está mal informado. Timeo, Alta Vista, Jeca, In Chatillon, Conclusivo, Berlino di Tiger, É do Iguassú, Heathrow, Vale da Lua, Perichole, Anakin, Another Xhow, Boycott, Eakins, Relento, Boby di Job (estes 2 no Uruguai), Glória de Campeão... São todos frutos deste momento, que, salvo melhor juízo, observa-se estar longe de ser ruim.

Também é dito que agora o Paraná assiste a uma “substituição, em parte, de garanhões dependentes de drogas”. O que significará esta misteriosa sentença, igualmente fora do contexto inicial? Soa como mais um ataque enviesado à criação americana, que o sr. Lodi tambem abomina, mas que – e eis novamente aqui os fatos para contrariá-lo – revelou ao mundo maravilhas como Storm Cat (e seu filho Giant´s Causeway), Danzig (e seu filho Danehill), Sadlers Wells, Mr. Prospector, Secretariat, Mill Reef, Seattle Slew, ou, no nosso País, Wild Event, Roi Normand, Spend a Buck, Royal Academy, Tumble Lark, Earldom, Roy...

De toda forma, e sempre me atendo ao foco inicial, se a entidade máxima do nosso turfe, a ABCPCC, entendesse que o GP Paraná não era merecedor da graduação máxima, haveria de rebaixá-lo. Não seriam as razões do sr. Lodi e muito menos as minhas que manteriam ou não o “G1” da prova. E, democraticamente, se ela assim permanece, isto deveria dirimir todas as dúvidas.

Finalmente, e para não dizer que não falei de flores, surge do sr. Milton um dado muito positivo: se o estado do Paraná inteiro dispõe somente de metade das éguas que possui o município de Bagé, onde sabemos que se concentram os mais valiosos garanhões e éguas, e os mais abastados criadores brasileiros, e, em que pese tal (e, esta sim, enorme) distancia técnica os animais paranaenses seguem ganhando clássicos e liderando gerações em todo o Brasil e lá fora (2 dos 3 últimos brasileiros que venceram o Pellegrini e o único que venceu a Dubai World Cup são paranaenses), é sinal que nossa criação, assim como nosso turfe, são na verdade exatamente o oposto do que acredita o sr. Milton Lodi.

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