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sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Pará, Dois meses depois, polícia do Pará não prende nenhum envolvido nas seis mortes no campo

Procurador acredita que julgamento de acusados de matar extrativistas ocorrerá na esfera federal
Polícia divulga retratos falados de dois suspeitos pelas mortes em Nova Ipixuna (PA)
Juiz do Pará se defende de acusações de facilitação de fuga de suspeitos da morte de extrativistas
A onda de crimes no campo no sudeste do Pará mobilizou entre o final de maio e o começo de junho deste ano as forças de segurança do governo federal e teve até repercussão internacional. Até agora, entretanto, nenhum dos envolvidos nas cinco mortes foi preso. Os crimes ocorreram em assentamentos no sudeste paraense, a região mais violenta do país.

As duas primeiras vítimas foram o casal de extrativistas José Cláudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo Silva, mortos em uma emboscada em Nova Ipixuna (481 km de Belém), em 24 de maio. No último dia 28, mais de dois meses após o crime, o juiz Murilo Lemos Simão, da Comarca de Marabá, pediu a prisão preventiva de José Rodrigues Moreira --suspeito de ser o mandante do crime--, Lindonjonson Silva Rocha e Alberto Lopes do Nascimento, que teriam sido os autores dos disparos que mataram o casal.

A Polícia Civil concluiu o inquérito em de 10 julho. Antes, o mesmo juiz negou em duas ocasiões os pedidos de prisão feitos pela Polícia Civil, que tinham parecer favorável do Ministério Público, alegando falta de provas. Para a CPT (Comissão Pastoral da Terra), a postura do juiz facilitou a fuga dos criminosos. Até agora nenhum dos três foi preso.

Segundo o inquérito, o casal foi morto porque impediu que Moreira comprasse terrenos dentro do assentamento agroextrativista do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) de Praialta-Piranheira --o que é ilegal-- e denunciou a irregularidade às autoridades. Meses antes da morte, José Cláudio afirmou em uma palestra que poderia ser morto a qualquer momento.

Alguns dias após a morte do casal, Eremilton Pereira dos Santos, 25, foi encontrado morto no mesmo assentamento. Mais de dois meses depois do crime o inquérito ainda não foi concluído, já que o delegado José Humberto Júnior, da Delegacia de Conflitos Agrários de Marabá, solicitou duas prorrogações para finalizar a investigação.

De acordo com a Polícia Civil, o autor do crime já está definido, mas o pedido de prisão ainda não foi decretado. Apesar de Eremilton morar no mesmo assentamento que o casal, a polícia afirma que a motivação do crime é um desentendimento em função do tráfico de drogas.

Eldorado dos Carajás e Pacajá
No dia 1º de julho, o lavrador João Vieira dos Santos, 33, foi morto a tiros em uma estrada de Eldorado dos Carajás (627 km de Belém). A vítima já havia sido baleada alguns minutos antes e foi morta quando era levada por um amigo ao hospital. O lavrador era natural de Bom Jardim, no Maranhão, e vivia no Pará, com um nome falso (Marcos Gomes) havia cerca de quatro anos. Santos foi condenado por homicídio em 2002 e fugiu da prisão.

A polícia afirma que o lavrador foi morto por vingança. Os dois homens envolvidos diretamente no crime ainda não foram identificados formalmente. As investigações ainda estão em curso, e nenhum suspeito foi preso.

O quinto camponês morto no sudeste do Pará foi Obede Loyola, 31, assassinado em Pacajá (521 km de Belém) no dia 9 de julho, véspera da chegada dos efetivos da Força Nacional de Segurança, Polícia Federal e Exército à região para conter a onda de mortes. Souza foi morto a bala a cerca de 800 metros de seu barraco, localizado em um assentamento, em uma área de mata fechada.

A delegada Daniele Bentes, da divisão de homicídios da Polícia Civil, solicitou duas prorrogações de prazo para concluir o inquérito, que ainda não foi finalizado. A polícia ainda não identificou os autores do crime.

A CPT critica a morosidade da polícia e da Justiça e questiona a afirmação da polícia de que os crimes não têm relação com a disputa por terra. Procurada, a Secretaria de Segurança Pública do Pará orientou a reportagem a procurar os delegados responsáveis pelos inquéritos ou a Polícia Civil.

A reportagem ligou para Silvio Maués, diretor da Polícia Civil, mas não conseguiu localizá-lo. O delegado José Humberto disse que não iria falar sobre o andamento das investigações.

Guilherme Balza
Do UOL Notícias

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